Douala deu uma noite difícil ao lateral estorilista João Pedro |
Quando em abril de 2003 assisti a
um jogo entre Sporting
B e Estoril
a contar para a II Divisão B (0-0), na Academia de Alcochete, estava longe de
imaginar que um ano e meio depois os canarinhos
estariam na I
Liga a defrontar a equipa principal dos leões.
Mas aconteceu: sob a orientação de Ulisses Morais, os estorilistas
alcançaram duas promoções consecutivas.
Curiosamente, à entrada para a
6.ª jornada, as duas equipas encontravam-se empatadas na classificação, com
cinco pontos. Se para a formação
da Amoreira, comandada pela antiga glória sportinguista
Litos, não era propriamente um mau arranque levar uma média de um ponto por
jogo, para o Sporting
de José
Peseiro estava a ser um início de temporada para esquecer.
Os leões,
sob a orientação do treinador
ribatejano, oscilavam entre o futebol espetáculo e a mediocridade, mas
nesses primeiros dois meses de época ainda só se tinha assistido à segunda
faceta. Depois de uma vitória sofrida sobre o Gil
Vicente em Alvalade
(3-2) na jornada inaugural, os verde
e brancos tinham sido derrotados pelo Vitória
de Setúbal no Bonfim
(0-2) e pelo Marítimo em casa
(0-1) e tinham empatado com o Rio
Ave em Vila do Conde (0-0) e com a União
de Leiria em Lisboa
(2-2).
No entanto, foi precisamente no
António Coimbra da Mota, a 16 de outubro de 2004, que o Sporting
de Peseiro
mostrou pela primeira vez a nota artística. Mesmo sobre brasas, os leões
venceram convincentemente e mostraram bom futebol, com grandes exibições
individuais de Hugo Viana, Rochemback, Douala
e Liedson.
Servido por Rogério, Liedson
apareceu isolado na cara do guarda-redes Jorge Baptista e inaugurou o marcador
logo aos sete minutos. Aos 20’, o levezinho bisou, ao desviar ao segundo poste
um cruzamento rasteiro de Douala
a partir da direita.
A segunda parte começou com o
golo do Estoril,
por João Paulo, de cabeça, após um autêntico balão de Arrieta para o coração da
área (52’). Se o Sporting
tremeu, foi por pouco tempo, uma vez que Hugo Viana cabeceou para o fundo das
redes aos 63 minutos, na resposta a um cruzamento de Douala.
O mesmo Hugo Viana sentenciou o resultado em 1-4, na sequência de um brilhante
trabalho individual.
“Encarar a pressão de frente,
introduzindo a motivação suplementar do regresso de Fábio Rochemback à
titularidade; aceitar os dados de quem há muito vive no fio da navalha, fazendo
reverter a energia acumulada para uma demonstração de capacidade individual e
coletiva, eis os primeiros méritos do Sporting
na noite mágica de ontem no Estoril.
Uma bela demonstração de poder, à qual também não faltaram os golos e a
superior exibição de um dos melhores jogadores portugueses: Hugo Viana. Os leões
moderaram o peso da urgência que estimula o erro e inibe o talento, e abordaram
o jogo com o saudável espírito de aventura de quem se propõe jogar, divertir-se
e ganhar – fim habitual de quem concilia todos esses fatores. A equipa de José
Peseiro conseguiu, talvez como nunca esta época, pôr de acordo o valor dos
números com a sensibilidade do espectador: os primeiros 45' revelaram um Sporting
ofensivo e perigoso; que teve bola e soube agredir o adversário; que fez
pressão e instalou-se no meio campo adversário; que mesmo quando não teve a
iniciativa, controlou o jogo em absoluto”, resumiu o Record.
À entrada do jogo da segunda
volta, na 23.ª jornada, o contexto era bem diferente para o Sporting,
que era terceiro classificado, mas podia apanhar os líderes FC
Porto e Benfica
em caso de vitória sobre o Estoril
em Alvalade.
Já os canarinhos
somavam 22 pontos em outras tantas jornadas, mantendo a média de um ponto por
jogo, e ocupavam o 15.º lugar, o primeiro acima da zona de despromoção.
Tal como na primeira no encontro
da Amoreira, os leões
começaram a construir o triunfo bem cedo, logo aos nove minutos, por intermédio
de Marius Niculae, na resposta a um livre teleguiado de Hugo Viana a partir da
esquerda.
Os verde
e brancos desiludiram na hora que se seguiu, mas guardaram três golos para os
últimos 15 minutos: Rochemback fez o 2-0 através de um disparo que só terminou
no fundo das redes (75’) e Liedson bisou, com um golo de encostar (85’) e outro
na conversão e uma grande penalidade (88’).
“Se era para ganhar jogando
pouco, cumprindo o serviço mínimo exigido para se juntar a FC
Porto e Benfica
no comando da SuperLiga,
então a noite de ontem em Alvalade
foi perfeita para o Sporting.
Bem vistas as coisas, atendendo ao resultado final, foi até melhor do que seria
de esperar porque nos derradeiros minutos a equipa de José
Peseiro construiu uma goleada que esteve sempre longe das melhores
expectativas. Durante uma noite quase inteira a viver com a arma encravada, o leão
teve arte e engenho para disparar uma rajada fatal de três tiros com que deu
forma a um resultado desnivelado e que o Estoril
também não merecia – os sportinguistas
marcaram aos 9' e precisaram de mais de uma hora para voltar a desfeitear o
guarda-redes Jorge. Não foi bonito, porque a estética não fazia parte do guião,
mas foi suficiente para manter o clima de felicidade geral com que regressaram
da Holanda”, sintetizou o Record,
em alusão à vitória
em Roterdão sobre o Feyenoord, a contar para os 16 avos de final da Taça UEFA.
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