domingo, 20 de fevereiro de 2022

A minha primeira memória de… um jogo entre Sporting e Estoril

Douala deu uma noite difícil ao lateral estorilista João Pedro
Quando em abril de 2003 assisti a um jogo entre Sporting B e Estoril a contar para a II Divisão B (0-0), na Academia de Alcochete, estava longe de imaginar que um ano e meio depois os canarinhos estariam na I Liga a defrontar a equipa principal dos leões. Mas aconteceu: sob a orientação de Ulisses Morais, os estorilistas alcançaram duas promoções consecutivas.
 
Curiosamente, à entrada para a 6.ª jornada, as duas equipas encontravam-se empatadas na classificação, com cinco pontos. Se para a formação da Amoreira, comandada pela antiga glória sportinguista Litos, não era propriamente um mau arranque levar uma média de um ponto por jogo, para o Sporting de José Peseiro estava a ser um início de temporada para esquecer.
 
Os leões, sob a orientação do treinador ribatejano, oscilavam entre o futebol espetáculo e a mediocridade, mas nesses primeiros dois meses de época ainda só se tinha assistido à segunda faceta. Depois de uma vitória sofrida sobre o Gil Vicente em Alvalade (3-2) na jornada inaugural, os verde e brancos tinham sido derrotados pelo Vitória de Setúbal no Bonfim (0-2) e pelo Marítimo em casa (0-1) e tinham empatado com o Rio Ave em Vila do Conde (0-0) e com a União de Leiria em Lisboa (2-2).
 
No entanto, foi precisamente no António Coimbra da Mota, a 16 de outubro de 2004, que o Sporting de Peseiro mostrou pela primeira vez a nota artística. Mesmo sobre brasas, os leões venceram convincentemente e mostraram bom futebol, com grandes exibições individuais de Hugo Viana, Rochemback, Douala e Liedson.



 
Servido por Rogério, Liedson apareceu isolado na cara do guarda-redes Jorge Baptista e inaugurou o marcador logo aos sete minutos. Aos 20’, o levezinho bisou, ao desviar ao segundo poste um cruzamento rasteiro de Douala a partir da direita.
 
A segunda parte começou com o golo do Estoril, por João Paulo, de cabeça, após um autêntico balão de Arrieta para o coração da área (52’). Se o Sporting tremeu, foi por pouco tempo, uma vez que Hugo Viana cabeceou para o fundo das redes aos 63 minutos, na resposta a um cruzamento de Douala. O mesmo Hugo Viana sentenciou o resultado em 1-4, na sequência de um brilhante trabalho individual.
 
“Encarar a pressão de frente, introduzindo a motivação suplementar do regresso de Fábio Rochemback à titularidade; aceitar os dados de quem há muito vive no fio da navalha, fazendo reverter a energia acumulada para uma demonstração de capacidade individual e coletiva, eis os primeiros méritos do Sporting na noite mágica de ontem no Estoril. Uma bela demonstração de poder, à qual também não faltaram os golos e a superior exibição de um dos melhores jogadores portugueses: Hugo Viana. Os leões moderaram o peso da urgência que estimula o erro e inibe o talento, e abordaram o jogo com o saudável espírito de aventura de quem se propõe jogar, divertir-se e ganhar – fim habitual de quem concilia todos esses fatores. A equipa de José Peseiro conseguiu, talvez como nunca esta época, pôr de acordo o valor dos números com a sensibilidade do espectador: os primeiros 45' revelaram um Sporting ofensivo e perigoso; que teve bola e soube agredir o adversário; que fez pressão e instalou-se no meio campo adversário; que mesmo quando não teve a iniciativa, controlou o jogo em absoluto”, resumiu o Record.
 
 
 
À entrada do jogo da segunda volta, na 23.ª jornada, o contexto era bem diferente para o Sporting, que era terceiro classificado, mas podia apanhar os líderes FC Porto e Benfica em caso de vitória sobre o Estoril em Alvalade. Já os canarinhos somavam 22 pontos em outras tantas jornadas, mantendo a média de um ponto por jogo, e ocupavam o 15.º lugar, o primeiro acima da zona de despromoção.
 
Tal como na primeira no encontro da Amoreira, os leões começaram a construir o triunfo bem cedo, logo aos nove minutos, por intermédio de Marius Niculae, na resposta a um livre teleguiado de Hugo Viana a partir da esquerda.
 
Os verde e brancos desiludiram na hora que se seguiu, mas guardaram três golos para os últimos 15 minutos: Rochemback fez o 2-0 através de um disparo que só terminou no fundo das redes (75’) e Liedson bisou, com um golo de encostar (85’) e outro na conversão e uma grande penalidade (88’).
 
“Se era para ganhar jogando pouco, cumprindo o serviço mínimo exigido para se juntar a FC Porto e Benfica no comando da SuperLiga, então a noite de ontem em Alvalade foi perfeita para o Sporting. Bem vistas as coisas, atendendo ao resultado final, foi até melhor do que seria de esperar porque nos derradeiros minutos a equipa de José Peseiro construiu uma goleada que esteve sempre longe das melhores expectativas. Durante uma noite quase inteira a viver com a arma encravada, o leão teve arte e engenho para disparar uma rajada fatal de três tiros com que deu forma a um resultado desnivelado e que o Estoril também não merecia – os sportinguistas marcaram aos 9' e precisaram de mais de uma hora para voltar a desfeitear o guarda-redes Jorge. Não foi bonito, porque a estética não fazia parte do guião, mas foi suficiente para manter o clima de felicidade geral com que regressaram da Holanda”, sintetizou o Record, em alusão à vitória em Roterdão sobre o Feyenoord, a contar para os 16 avos de final da Taça UEFA.
 



 








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