Livre de Ronaldinho causou o pânico à defesa benfiquista |
Ainda não era nascido aquando da
final da Taça
dos Campeões Europeus em 1961 (3-2 para o Benfica),
estava dentro da barriga da minha mãe aquando de um jogo na Luz para a Champions
em dezembro de 1991 (0-0) e era um bebé de dois meses aquando de um triunfo do Barcelona
em Camp Nou em abril de 1992 (2-1), pelo que as minhas primeiras memórias de
jogos entre águias
e catalães
remontem já ao século XXI.
Se incluirmos encontros de
caráter particular, o primeiro que recordo entre os dois históricos do futebol
europeu remonta a 29 de janeiro de 2003. Na altura, o Benfica
estava há dois anos e meio sem disputar jogos das competições internacionais,
enquanto o velhinho Estádio da Luz dava as últimas. Perante isso, os encarnados
fizeram regressar as “noites europeias” à sua casa através de jogos
particulares – o primeiro frente ao Ajax
a 23 de janeiro (1-1), o segundo diante dos blaugrana.
Um golo de Mendieta de livre
direto aos seis minutos resolveu esse encontro, no qual as águias
alinharam com Bossio, Armando, Ricardo Rocha, João Manuel Pinto, Cristiano,
Petit, Tiago, Geovanni, Roger, Simão e Sokota e os culés
com Enke, Puyol, Christanval, De Boer, Reiziger, Motta, Xavi, Mendieta,
Kluivert, Rochemback e Dani.
Três anos depois, já a sério, os
dois clubes defrontaram-se nos quartos de final da Liga
dos Campeões. Na altura, o Barcelona
de Frank Rijkaard era uma das três equipas mais temidas da Europa, a par do Chelsea
de José
Mourinho e o AC
Milan de Carlo Ancelotti, muito por culpa de um jogador contratado em 2003
e que elevou o nível da equipa para um patamar de topo mundial: Ronaldinho
Gaúcho. No entanto, também havia Puyol, Deco e Eto’o, entre outros. Xavi e
Iniesta eram ainda meras figuras secundárias, assim como um menino de 18 anos
chamado Lionel
Messi, que nem ao banco foi em ambos os jogos diante dos encarnados.
Já o Benfica
era orientado por Ronald Koeman, curiosamente hoje treinador do Barça,
tinha como principal figura Simão Sabrosa, que embora fosse extremo tinha sido
o melhor marcador da equipa nas três últimas épocas. Mas também havia Luisão,
Petit e Miccoli, entre outros.
Na primeira-mão, na Luz, houve
empate a zero. “Hora e meia depois, o sonho encarnado
ganhou vida nova. Não porque o Benfica
tenha vencido a primeira parte da eliminatória; não porque tenha invertido a
noção de que o Barcelona
está largos furos acima, tem melhor equipa e recursos individuais do melhor que
existe no mundo. Mas a equipa, e com ela os adeptos, os jornalistas, os
adversários, não pode ficar indiferente ao que ontem conseguiu. Teve uma
atitude digna e com sentido coletivo, assente no conhecimento profundo das
características do adversário e, ao fim de 90’, alterou alguma coisa no
conceito prévio que enquadrava o jogo: que Ronaldinho, Eto’o, Deco, Larsson,
Van Bommel, entre outros, não são extraterrestres, falham como qualquer ser
humano e nem sempre dependem única e exclusivamente da inspiração; que apesar
da confirmada superioridade do Barça,
traduzida em mais e melhores oportunidades de golo, também é possível domar-lhe
a fúria, criar-lhe problemas estratégicos e fazê-lo sofrer em ataques rápidos
ou mesmo em contra-ataques puros”, escreveu o Record
no dia seguinte.
Uma semana depois, em Camp Nou, a
história foi bem diferente. Quando Moretto
defendeu um penálti de Ronaldinho logo nos primeiros minutos, parecia tratar-se
de um sinal de que algo de mágico poderia estar para acontecer.
Porém, a lei do mais forte acabou
por vigorar. Aos 19 minutos, Eto’o perdeu uma perda de bola de Beto para
assistir Ronaldinho, que inaugurou o marcador. E perto do apito final houve
nova perda de bola em zona proibida, desta vez de Petit, mas depois os papéis
inverteram-se: Ronaldinho serviu Eto’o para o 2-0 (88’).
“Foi uma viagem linda, que
terminou com uma aterragem suave em Camp Nou. Ao contrário do que chegaram a
sugerir adeptos e alguma imprensa catalã, foi mesmo preciso haver jogo para se
mostrar quem merecia atingir as meias-finais da Liga
dos Campeões. Essa foi, de resto, a maior vitória encarnada
na noite de ontem: descer à terra em paz consigo mesma, certa de ter cumprido o
dever, fazendo-o em segurança, com o prestígio intacto, passando incólume
momentos de verdadeiro temporal na visita a Camp Nou. Tal como em Lisboa, o Benfica
deu meia parte de avanço (pode mesmo dizer-se que não jogou), retificando
atitude, posições e imagem pelo que fez no decorrer da segunda metade. Antes do
golo de Eto’o, aos 89’, o campeão nacional criou e desperdiçou duas ou três
excelentes ocasiões, que o aproximaram da qualificação mais do que seria de
esperar”, podia ler-se no Record
no dia a seguir.
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