quarta-feira, 29 de setembro de 2021

A minha primeira memória de… um jogo entre Benfica e Barcelona

Livre de Ronaldinho causou o pânico à defesa benfiquista
Ainda não era nascido aquando da final da Taça dos Campeões Europeus em 1961 (3-2 para o Benfica), estava dentro da barriga da minha mãe aquando de um jogo na Luz para a Champions em dezembro de 1991 (0-0) e era um bebé de dois meses aquando de um triunfo do Barcelona em Camp Nou em abril de 1992 (2-1), pelo que as minhas primeiras memórias de jogos entre águias e catalães remontem já ao século XXI.
 
Se incluirmos encontros de caráter particular, o primeiro que recordo entre os dois históricos do futebol europeu remonta a 29 de janeiro de 2003. Na altura, o Benfica estava há dois anos e meio sem disputar jogos das competições internacionais, enquanto o velhinho Estádio da Luz dava as últimas. Perante isso, os encarnados fizeram regressar as “noites europeias” à sua casa através de jogos particulares – o primeiro frente ao Ajax a 23 de janeiro (1-1), o segundo diante dos blaugrana.
 
Um golo de Mendieta de livre direto aos seis minutos resolveu esse encontro, no qual as águias alinharam com Bossio, Armando, Ricardo Rocha, João Manuel Pinto, Cristiano, Petit, Tiago, Geovanni, Roger, Simão e Sokota e os culés com Enke, Puyol, Christanval, De Boer, Reiziger, Motta, Xavi, Mendieta, Kluivert, Rochemback e Dani.
 
Três anos depois, já a sério, os dois clubes defrontaram-se nos quartos de final da Liga dos Campeões. Na altura, o Barcelona de Frank Rijkaard era uma das três equipas mais temidas da Europa, a par do Chelsea de José Mourinho e o AC Milan de Carlo Ancelotti, muito por culpa de um jogador contratado em 2003 e que elevou o nível da equipa para um patamar de topo mundial: Ronaldinho Gaúcho. No entanto, também havia Puyol, Deco e Eto’o, entre outros. Xavi e Iniesta eram ainda meras figuras secundárias, assim como um menino de 18 anos chamado Lionel Messi, que nem ao banco foi em ambos os jogos diante dos encarnados.
 
Já o Benfica era orientado por Ronald Koeman, curiosamente hoje treinador do Barça, tinha como principal figura Simão Sabrosa, que embora fosse extremo tinha sido o melhor marcador da equipa nas três últimas épocas. Mas também havia Luisão, Petit e Miccoli, entre outros.



 
Na primeira-mão, na Luz, houve empate a zero. “Hora e meia depois, o sonho encarnado ganhou vida nova. Não porque o Benfica tenha vencido a primeira parte da eliminatória; não porque tenha invertido a noção de que o Barcelona está largos furos acima, tem melhor equipa e recursos individuais do melhor que existe no mundo. Mas a equipa, e com ela os adeptos, os jornalistas, os adversários, não pode ficar indiferente ao que ontem conseguiu. Teve uma atitude digna e com sentido coletivo, assente no conhecimento profundo das características do adversário e, ao fim de 90’, alterou alguma coisa no conceito prévio que enquadrava o jogo: que Ronaldinho, Eto’o, Deco, Larsson, Van Bommel, entre outros, não são extraterrestres, falham como qualquer ser humano e nem sempre dependem única e exclusivamente da inspiração; que apesar da confirmada superioridade do Barça, traduzida em mais e melhores oportunidades de golo, também é possível domar-lhe a fúria, criar-lhe problemas estratégicos e fazê-lo sofrer em ataques rápidos ou mesmo em contra-ataques puros”, escreveu o Record no dia seguinte.
 
 
 
Uma semana depois, em Camp Nou, a história foi bem diferente. Quando Moretto defendeu um penálti de Ronaldinho logo nos primeiros minutos, parecia tratar-se de um sinal de que algo de mágico poderia estar para acontecer.
 
Porém, a lei do mais forte acabou por vigorar. Aos 19 minutos, Eto’o perdeu uma perda de bola de Beto para assistir Ronaldinho, que inaugurou o marcador. E perto do apito final houve nova perda de bola em zona proibida, desta vez de Petit, mas depois os papéis inverteram-se: Ronaldinho serviu Eto’o para o 2-0 (88’).
 
“Foi uma viagem linda, que terminou com uma aterragem suave em Camp Nou. Ao contrário do que chegaram a sugerir adeptos e alguma imprensa catalã, foi mesmo preciso haver jogo para se mostrar quem merecia atingir as meias-finais da Liga dos Campeões. Essa foi, de resto, a maior vitória encarnada na noite de ontem: descer à terra em paz consigo mesma, certa de ter cumprido o dever, fazendo-o em segurança, com o prestígio intacto, passando incólume momentos de verdadeiro temporal na visita a Camp Nou. Tal como em Lisboa, o Benfica deu meia parte de avanço (pode mesmo dizer-se que não jogou), retificando atitude, posições e imagem pelo que fez no decorrer da segunda metade. Antes do golo de Eto’o, aos 89’, o campeão nacional criou e desperdiçou duas ou três excelentes ocasiões, que o aproximaram da qualificação mais do que seria de esperar”, podia ler-se no Record no dia a seguir.
 












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