Paulo Tavares, 29 anos, no Vitória desde 2012 |
Em Setúbal todos estão contentes
com o desempenho da equipa mais representativa da cidade. Dizem, com orgulho e
sem nada deverem à sorte, que os cinco pontos que o Vitória tem neste momento
podiam ser nove. E eu, que assisti aos três jogos, posso-o confirmar. Não é
fanatismo, é a realidade.
Os homens de Quim Machado têm o
melhor ataque da Liga (oito remate certeiros) e isso é bem representativo do
número de oportunidades que criam. Também têm quatro golos sofridos, é verdade,
mas encaixados nas raras ocasiões que concederam – ai se o guarda-redes fosse
outro…
Fruto de bons resultados e
sobretudo exibições, alguns heróis começam já a ser aclamados. O mais sonante é
o de Suk, a quem já chamam de Zlatan
coreano. Mas também há Frederico Venâncio, André Horta, Costinha e André
Claro, todos muito elogiados pela crítica. A essa lista, acrescento o capitão
Paulo Tavares, que até nem é propriamente consensual entre os adeptos.
É ele o patrão do meio-campo,
assumindo a pasta da organização de jogo a partir da posição 6, de frente para o jogo, fazendo
lembrar (e até pela barba), salvo as devidas proporções, Andrea Pirlo. Não lhe
quero chamar o Pirlo dos pobres porque essa alcunha já foi atribuído a um médio
da Olhanense, mas posso chamar-lhe o Pirlo do Bonfim.
Baixa entre os centrais para
pegar na bola e geralmente entrega-a com um passe bastante preciso para um
colega, esteja ele a curta, média ou longa distância. Numa equipa de
transições, tem um papel fundamental ao colocar o esférico nos homens da
frente, fazendo-o com qualidade, simplificando o que de outra forma levaria
mais tempo. E quando o jogo está congestionado numa zona do campo, tem a
capacidade de contemporizar (ainda que para desespero das bancadas), olhar para
o espaço livre e encontrar um companheiro desmarcado.
Tem envergado a braçadeira de capitão |
Por ter essa precisão de passe,
mesmo em situações de aperto tenta colocar a bola num colega para que a equipa
saia a jogar. Tal é uma grande mais-valia para o Vitória, mas como é lógico,
porque até nem Pirlo acerta 100 por centos dos passes, o capitão sadino também
os falha. E é por também os falhar que o seu nome não é consensual entre os
adeptos.
Não partilho da visão deles.
Acredito que é um luxo tê-lo em campo e que Quim Machado pensa o mesmo. Não é
por acaso que, mesmo com Paulo Tavares já amarelado e com o bastante fiável
Dani para a mesma posição, o técnico dos sadinos tenha optado já por duas ocasiões
em adiantá-lo no terreno (para que sinta menos necessidade de recorrer à falta)
em vez de o substituir.
Em Coimbra, na visita à Académica
(2.ª jornada), a sua presença numa zona mais subida em toda a segunda parte
permitiu controlar o jogo (e a vantagem) no meio-campo adversário. Na receção
ao Rio Ave (3.ª), sucedeu o mesmo, embora posteriormente, numa situação de
desvantagem no marcador, o treinador o tenha substituído porque, mais do que
controlo, queria agitar o ataque, colocando Arnold dentro das quatro linhas.
Mas não é só no plano ofensivo
que o antigo médio do Leixões, hoje com 29 anos, se destaca. Coloca-se bem em
campo e é daqueles que mete o pé, que é agressivo – não confundir com violento –
na disputa da bola. Talvez por isso já tenha somado duas advertências.
E se quando Pirlo recuou para a
posição 6 no Milan teve Gattuso como
um autêntico guarda-costas em campo, Paulo Tavares, que antes também atuava
mais adiantado, tem três!: Costinha, André Horta e Ruca que, apesar da
juventude, correm com tanta ou mais velocidade para trás do que para a frente,
mostrando harmonia, responsabilidade e solidariedade. É esse, no meu entender,
um dos segredos do bom início de época do Vitória.
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