quinta-feira, 3 de setembro de 2015

O Pirlo do Bonfim

Paulo Tavares, 29 anos, no Vitória desde 2012
Em Setúbal todos estão contentes com o desempenho da equipa mais representativa da cidade. Dizem, com orgulho e sem nada deverem à sorte, que os cinco pontos que o Vitória tem neste momento podiam ser nove. E eu, que assisti aos três jogos, posso-o confirmar. Não é fanatismo, é a realidade.

Os homens de Quim Machado têm o melhor ataque da Liga (oito remate certeiros) e isso é bem representativo do número de oportunidades que criam. Também têm quatro golos sofridos, é verdade, mas encaixados nas raras ocasiões que concederam – ai se o guarda-redes fosse outro…


Fruto de bons resultados e sobretudo exibições, alguns heróis começam já a ser aclamados. O mais sonante é o de Suk, a quem já chamam de Zlatan coreano. Mas também há Frederico Venâncio, André Horta, Costinha e André Claro, todos muito elogiados pela crítica. A essa lista, acrescento o capitão Paulo Tavares, que até nem é propriamente consensual entre os adeptos.

É ele o patrão do meio-campo, assumindo a pasta da organização de jogo a partir da posição 6, de frente para o jogo, fazendo lembrar (e até pela barba), salvo as devidas proporções, Andrea Pirlo. Não lhe quero chamar o Pirlo dos pobres porque essa alcunha já foi atribuído a um médio da Olhanense, mas posso chamar-lhe o Pirlo do Bonfim.

Baixa entre os centrais para pegar na bola e geralmente entrega-a com um passe bastante preciso para um colega, esteja ele a curta, média ou longa distância. Numa equipa de transições, tem um papel fundamental ao colocar o esférico nos homens da frente, fazendo-o com qualidade, simplificando o que de outra forma levaria mais tempo. E quando o jogo está congestionado numa zona do campo, tem a capacidade de contemporizar (ainda que para desespero das bancadas), olhar para o espaço livre e encontrar um companheiro desmarcado.

Tem envergado a braçadeira de capitão
Por ter essa precisão de passe, mesmo em situações de aperto tenta colocar a bola num colega para que a equipa saia a jogar. Tal é uma grande mais-valia para o Vitória, mas como é lógico, porque até nem Pirlo acerta 100 por centos dos passes, o capitão sadino também os falha. E é por também os falhar que o seu nome não é consensual entre os adeptos.

Não partilho da visão deles. Acredito que é um luxo tê-lo em campo e que Quim Machado pensa o mesmo. Não é por acaso que, mesmo com Paulo Tavares já amarelado e com o bastante fiável Dani para a mesma posição, o técnico dos sadinos tenha optado já por duas ocasiões em adiantá-lo no terreno (para que sinta menos necessidade de recorrer à falta) em vez de o substituir.

Em Coimbra, na visita à Académica (2.ª jornada), a sua presença numa zona mais subida em toda a segunda parte permitiu controlar o jogo (e a vantagem) no meio-campo adversário. Na receção ao Rio Ave (3.ª), sucedeu o mesmo, embora posteriormente, numa situação de desvantagem no marcador, o treinador o tenha substituído porque, mais do que controlo, queria agitar o ataque, colocando Arnold dentro das quatro linhas.

Mas não é só no plano ofensivo que o antigo médio do Leixões, hoje com 29 anos, se destaca. Coloca-se bem em campo e é daqueles que mete o pé, que é agressivo – não confundir com violento – na disputa da bola. Talvez por isso já tenha somado duas advertências.

E se quando Pirlo recuou para a posição 6 no Milan teve Gattuso como um autêntico guarda-costas em campo, Paulo Tavares, que antes também atuava mais adiantado, tem três!: Costinha, André Horta e Ruca que, apesar da juventude, correm com tanta ou mais velocidade para trás do que para a frente, mostrando harmonia, responsabilidade e solidariedade. É esse, no meu entender, um dos segredos do bom início de época do Vitória.





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