sábado, 14 de outubro de 2023

The Kick out after kick out era

Roman Reigns chocado com um kick out de Sami Zayn
Lembro-me de andar aqui pela comunidade de wrestling online (IWC, sigla inglesa), aproximadamente entre 2007 e 2011, e discutir-se muito, quando as caixas de comentários dos vários blogues estavam cheias, a credibilidade dos finishers.
 
Dizia-se muito que o Attitude Adjustment era uma projeção banal, que o STF aparentava não causar dor, que o People’s Elbow valia apenas pelo envolvimento do público, mas que não era um golpe final credível, além das muitas variações de Neckbreakers que parte do roster utilizava e do Cobra de Santino Marella, só para mencionar alguns exemplos. Nem o Atomic Leg Drop de Hulk Hogan estava a salvo de discussão, até porque havia quem o utilizasse como um de muitos golpes do move-set. Parecia irrealista, aos olhos de muitos, que alguns desses moves pudessem sentenciar combates.
 
Inquestionáveis eram o Tombstone Piledriver, o Pedigree e o GTS, enquanto o Sweet Chin Music/Superkick, não estando ao mesmo nível, tinha bastante aceitação. Normalmente, quando eram aplicados, significavam o final do combate. As exceções eram raríssimas, e podiam prender-se com alguma lentidão entre a execução do finisher e o momento do pinfall, um rolar involuntário para fora do ringue, uma interferência ou o facto de estarmos numa WrestleMania e de ser necessário entregar aos fãs um espetáculo uns furos acima do que aquilo que estão habituados a ver noutros eventos.
 
Hoje em dia é ao contrário. Seth Rollins executa o Pedigree, mas raramente conquista vitórias no assentamento imediatamente a seguir, mais de metade do roster usa o Superkick – e há tag teams que utilizam até o Double Superkick – sem que isso signifique o fim do combate e, enquanto na WWE todas as variações de Piledrivers foram banidas, é usual as vermos na AEW sem que logo a seguir se assista a um pinfall vitorioso.
 
Na realidade, por muito impactante que seja um finisher, é raro que a sua primeira execução durante um combate signifique uma vitória. Nem quando é aplicado em superfícies mais duras que o tapete do ringue. Tanto na WWE como na AEW.
 
Ainda recentemente, vimos Seth Rollins aplicar tanto um Pedigree como um Stomp numa espécie de balcão em Shinsuke Nakamura no Fastlane, mas mesmo depois disso o japonês conseguiu levantar-se.

 
No WrestleDream, Christian Cage executou um Killswitch em cima da madeira do ringue exposta em Darby Allin, numa altura em que o tapete estava retirado, mas no assentamento que se seguiu Allin fez o kick out. No mesmo evento, Adam Page executou um Dead Eye em Swerve Strickland em cima dos degraus, mas veio até a perder o combate. E para triunfar em qualquer combate pouco importante, Kris Statlander executa o seu Wednesday/Friday/Saturday/Sunday Night Fever, uma espécie de dois Tombstone Piledrivers de seguida.  Estamos a falar de golpes que, caso não fossem aplicados em segurança, poderiam partir ossos da cabeça e do pescoço, colocar pessoas em cadeiras de rodas ou até conduzir à morte.
 
Vivemos na era do “kick out after kick out”, de near falls inesperadas e de combates em que é quase necessário matar o adversário para alcançar a vitória. Todos vibramos, gostamos e atribuímos cinco ou mais estrelas. Mas há perigos. Primeiro, porque se escancarou a Caixa de Pandora e aparentemente atingimos um ponto sem retorno. Depois, porque parece que os combates de wrestling, enquanto espetáculo, parecem ter cada vez menos por onde crescer.



 


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