Luís Vidigal procura fugir a Niall Quinn |
As minhas primeiras memórias de
jogos entre Portugal e República da Irlanda são de partidas em que estiveram
frente a frente a chamada geração de ouro do futebol português, mas também uma
das melhores gerações de sempre, se não mesmo a melhor, da seleção irlandesa.
A armada lusa, comandada por
António Oliveira, era composta por jogadores como Fernando Couto, Jorge Costa,
Rui Costa, João Pinto, Sá
Pinto, Figo e Sérgio
Conceição. Do outro lado, Mick McCarthy tinha à sua disposição um vasto
leque de jogadores que atuavam Premier
League, como o médio e capitão Roy Keane (Manchester
United), o guarda-redes Shay Given (Newcastle), o lateral direito Stephen
Carr e o defesa central Gary Doherty (ambos do Tottenham),
o defesa central Richard Dunne (Manchester
City), o defesa central Gary Breen (Coventry City), o lateral direito Gary
Kelly, o lateral esquerdo Ian Harte e o avançado Robbie Keane (todos do Leeds),
o lateral esquerdo Steve Staunton (Aston Villa), o médio defensivo Mark
Kinsella (Charlton), o médio Matt Holland (Ipswich), o extremo Kevin Kilbane e
o avançado Niall Quinn (ambos do Sunderland). E se olharmos para os
futebolistas que competiam no Championship, dois nomes saltam à vista: o do
lateral direito Steve Finnan (Fulham) e o do extremo Damien Duff (Blackburn).
Era muita gente a jogar num nível bastante elevado, uma espécie de Inglaterra B.
E se a estes juntarmos o defesa John O’Shea, que haveria de se estrear pela
seleção meses mais tarde, temos aqui todos os principais nomes do futebol
irlandês das duas últimas décadas.
Embora a República da Irlanda
fosse uma mera outsider no grupo 2 da
qualificação europeia para o Mundial
2002, que incluía dois semifinalistas do Euro
2000, Portugal e Holanda, conseguiu lutar pelo apuramento direto até ao
último minuto, não tendo sofrido qualquer derrota durante os dez jogos dessa
fase.
Adiante. O primeiro jogo entre
Portugal e República da Irlanda nessa fase de qualificação aconteceu a 7 de
outubro de 2000 no antigo Estádio da Luz, e tinha como antecedentes uma vitória
lusa na Estónia (3-1) e um empate dos irlandeses na Holanda (2-2). Tal como em
Amesterdão, os homens de Mick McCarthy arrancaram uma igualdade, desta feita a
um golo.
Sérgio
Conceição inaugurou o marcador aos 57 minutos, através de um remate de pé
esquerdo que ainda foi desviado por Gary Breen antes de entrar na baliza
irlandesa. Matt Holland restabeleceu o remate aos 72’ através de um disparo de
fora da área que não deu qualquer hipótese a Quim.
“Grande rombo na maré de otimismo
que envolveu esta seleção no último ano. Apesar dos incessantes avisos deixados
durante a semana por técnicos e jogadores sobre o valor desta nova Irlanda,
capaz de emudecer o Arena de Amesterdão durante 75 minutos, o sentimento
dominante, antes do jogo era de que, mesmo com o respeito que Oliveira não se
cansou de pedir, a seleção estaria condenada a provar em campo a sua
superioridade, somando a segunda vitória e mantendo a liderança no grupo 2 de
apuramento para o Mundial.
A memória recente de um outro Portugal-Irlanda, há cinco anos, bem como a
impressão, justificada, de que as principais figuras da equipa nacional estavam
a aproximar-se de um momento de forma muito razoável contribuíam para esse
estado de espírito, já para não falar do efeito-talismã do estádio da Luz,
palco habitual das grandes vitórias e feudo inviolado nos últimos dez anos.
Todos estes fatores foram insuficientes para evitar um empate com sabor a
frustração, quanto mais não seja pelas implicações imediatas do resultado:
perda da liderança no grupo, aumento da pressão em relação ao jogo de
quarta-feira, com a Holanda e, em última análise, promoção da equipa irlandesa,
que depois de escapar ilesa das viagens a Amesterdão e a Lisboa deixa de ser um
outsider e se coloca, por direito próprio, em boa posição na corrida ao
apuramento direto”, resumiu o Maisfutebol.
Quase oito meses depois, as duas
seleções defrontaram-se em Dublin, numa altura em que ambas já se perfilavam como
as principais candidatas a alcançar o apuramento direto. De forma algo
surpreendente, o selecionador António Oliveira decidiu apostar em quatro
recém-coroados campeões nacionais pelo Boavista para o onze inicial: Ricardo,
Frechaut, Petit e Litos. Os três primeiros cumpriram mesmo no Estádio Lansdowne
Road as suas primeiras internacionalizações.
Apesar da aposta vincada nos
campeões, o resultado foi precisamente o mesmo do que aquele que se registou no
Estádio da Luz. Só mudou a marcha no marcador. Roy Keane adiantou os irlandeses
aos 65 minutos, na sequência de um lançamento lateral. O capitão Luís Figo deu
o exemplo ao cabecear para o empate aos 79’, na resposta a um cruzamento de
Frechaut.
Ainda assim, o selecionador
António Oliveira mostrava-se frustrado no final do encontro. “Sofremos o golo
com muita infelicidade, mas reagimos bem. Se o jogo tivesse mais minutos,
adivinhava-se que seríamos nós os vencedores. O resultado, sabendo a pouco e
não sendo muito bom, serve os nossos interesses. Tal como na primeira jornada,
dependemos exclusivamente dos nossos resultados, o que nos deixa satisfeitos.
Podíamos e devíamos ter vencido este jogo. Tivemos ocasiões para isso.
Assumimos sempre que uma presença no Mundial
era o nosso objetivo. Este resultado soube a pouco porque demonstrámos ser
melhor equipa do que a Irlanda. Fomos a única equipa que atacou e criou
oportunidades e procurou jogar futebol”, afirmou.
E para o caro leitor, qual é o primeiro jogo entre Portugal e República da Irlanda de que tem memória? E quais foram as melhores e mais marcantes jogos de sempre entre as duas seleções?
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