Portugal e França mediram forças no Euro 1984 |
De derrota em derrota até à
vitória final. Podia ser esta a história dos confrontos entre Portugal e França,
que mediram forças por seis vezes em jogos oficiais, as primeiras quatro em
fases finais de grandes torneios. Se nas primeiras três ocasiões a seleção
gaulesa frustrou o sonho luso às portas da glória, na quarta uma bofetada de
luva branca de Éder serviu bem fria a vingança.
Além dos seis compromissos
oficiais, as duas seleções mediram forças por mais 21 vezes em encontros de
caráter particular, com 15 vitórias francesas, cinco triunfos portugueses e um
empate.
23 de junho de 1984 – Euro 1984 (meias-finais)
França
3-2 Portugal
Para muitos, um dos melhores e
mais marcantes jogos da história dos Campeonatos da Europa. Tudo parecia
possível para uma seleção portuguesa que tinha superado um grupo em que estavam
incluídas Alemanha, Espanha e Roménia, mas pela frente estava uma França liderada
por Michel Platini, mas que tinha outros craques como Joël Bats, Alain Giresse
ou Jean Tigana, além do público entusiasta de Marselha.
“A viagem do hotel até ao estádio
Velódrome foi uma loucura imensa, tanto da parte dos franceses como
portugueses, foi uma viagem inolvidável. Houve grandes discussões na véspera e
manhã do jogo porque uns treinadores queriam que jogassem uns jogadores e
outros preferiam outros atletas”, recordou Diamantino Miranda à RTP
em 2016.
No entanto, les bleus contaram com um herói improvável, o defesa Jean-François
Domergue, que inaugurou o marcador aos 25 minutos na conversão de um livre
direto.
Ainda assim, Jordão empatou o
encontro aos 74’, levou a eliminatória para prolongamento e colocou a equipa
das quinas em vantagem aos 98’ através de um remate acrobático.
A seleção lusa estava com um pé
na final, mas já nos minutos finais Domergue aproveitou uma série de ressaltos para
igualar a partida e Platini marcou o golo da vitória instantes antes do último
apito.
“Com este tempo de distância,
pode-se falar em mais demérito nosso. A França percebeu que tinha de jogar tudo
nos últimos minutos. Conseguiu e, depois, no prolongamento, estarmos a defender
muito dentro da nossa área contra jogadores de técnica elevadíssima, a qualquer
momento poderiam fazer a diferença e isso aconteceu. Já na área, Platini
conseguiu sentar um ou dois jogadores e fazer golo”, lembrou Diamantino. “Foi
uma pena, depois de estarmos ali percebemos que poderíamos ir à final e
teríamos ganhado. Foi uma grande geração do futebol português, de grande
qualidade individual. Só assim foi possível ultrapassar tantos problemas e
chegar à meia-final”, concluiu.
20 de junho de 2000 – Euro 2000 (meias-finais)
Depois de vencer Inglaterra (com
reviravolta), Roménia, Alemanha (por expressivos 3-0) e Turquia, a chamada
geração de ouro de Portugal, então a viver o seu período de maior fulgor, foi
ao encontro da campeã mundial França nas meias-finais do Campeonato da Europa.
O jornalista do Maisfutebol,
Nuno Madureira, sintetizou o sentimento nacional no primeiro parágrafo da
sua crónica:
“Uma despedida amarga e dolorosa marca o fim da campanha portuguesa neste Euro 2000.
Uma despedida marcada pela revolta, um estado de espírito diametralmente oposto
ao futebol sorridente e sedutor que Portugal apresentou em todos os outros
jogos da competição.”
“Do ponto de vista do espetáculo,
as expectativas para este jogo eram altas. Demasiado altas, talvez. Apesar do
futebol atrativo e tecnicista que as duas equipas mostraram desde o início da
competição, o rótulo meia-final pesou demasiado para que a festa anunciada
tivesse lugar. Em seu lugar, surgiu um jogo fechado, intenso até ao limite, e
marcado por um rigor tático, que na maior parte do tempo tomou o lugar do
talento em estado puro. Mas o futebol também pode ser grandioso dessa forma. E
o jogo do Heysel foi de uma grandiosa competitividade”, acrescentou o repórter,
que salientou o respeito que ambas as seleções tiveram uma pela outra em termos
táticos.
8 de julho de 2006 – Mundial 2006 (meias-finais)
Portugal
0-1 França
O cenário de 1984 e 2000
repetia-se, mas desta vez num Campeonato do Mundo.
Tal como seis anos antes em
Bruxelas, voltou a ser uma grande penalidade a desequilibrar a balança para o
lado francês em Munique. Pouco depois da meia hora de jogo, Ricardo Carvalho
derrubou Henry na área portuguesa e Zidane transformou o penálti em golo.
Até ao final do encontro a defesa
gaulesa mostrou-se sempre bastante segura, permitindo poucas oportunidades a
uma equipa das quinas que voltou a cair nas meias-finais.
10 de julho de 2016 – Euro 2016 (final)
Portugal
1-0 França
Contra todas as probabilidades,
Portugal venceu (finalmente!) a França e arrecadou o primeiro título da sua
história.
Depois de um apuramento sofrido
para a fase a eliminar, frente às modestas Islândia, Áustria e Hungria, de
vitórias sobre Croácia no final do prolongamento e sobre a Polónia no desempate
por grandes penalidades e de, por fim, um triunfo meritório sobre o País de
Gales, poucos se atreveriam a apostar na equipa das quinas. E quando Cristiano
Ronaldo foi forçado a abandonar o relvado devido a lesão ainda antes da
hora de jogo, mais favoritos ficaram les
bleus, que até jogavam em casa, no Stade de France, em Saint-Denis.
Contudo, Portugal foi resistindo
às investidas gaulesas e levou o jogo para prolongamento, etapa em que Éder
marcou o golo da vitória através de um disparo de fora da área ao minuto 109. “O
patinho-feio da equipa dos patinhos-feios, que muitos em Portugal acham que nem
devia ter vindo, pega na bola à entrada da área, aguenta a carga de Koscielny,
e remata rasteiro para um golo monumental. Éder decide, ó ironia das ironias. E
a Seleção conquista o grande título da sua história! Mágico, épico, de sonho. Jogar
em casa do adversário uma final e com todo o peso histórico dos embates
anteriores só por si era mau. Ficar aos oito minutos sem o melhor jogador, o
capitão – por uma entrada no mínimo negligente que nem sequer tive direito a
falta – aumentou ainda mais um grau de dificuldade já tremendamente alto. E foi
tudo ultrapassado. Com felicidade, mas com entrega, atitude e fé”, escreveu o Maisfutebol.
11 de outubro de 2020 – Liga das Nações (3.ª jornada da
fase de grupos)
França
0-0 Portugal
Mais de quatro anos depois, o
reencontro entre as duas seleções no local onde Portugal se sagrou campeão da
Europa.
Após terem vencido Suécia e
Croácia nas duas primeiras jornadas, tanto os campeões europeus (e detentores
da Liga das Nações) como os campeões mundiais abordaram a partida com cautelas,
receando dar um passo em falso no que concerne à vitória do grupo.
Apesar do ligeiro ascendente da
equipa das quinas, não houve golos em Saint-Denis.
14 de novembro de 2020 – Liga das Nações (5.ª jornada da
fase de grupos)
Portugal
0-1 França
Ainda igualadas pontualmente na
liderança do grupo, ambas as seleções sabiam, à partida para este encontro no
Estádio da Luz, que quem vencesse carimbaria o apuramento para a final four. Por outro lado, um empate
com golos daria vantagem a França e um nulo não dava garantias a Portugal, que
assim estava praticamente obrigado a ganhar para sonhar com a revalidação do
troféu.
Se a equipa das quinas esteve por
cima no encontro de Saint-Denis, em Lisboa foi a vez de les bleus mostrarem superioridade. Contudo, a diferença esteve no facto de os
gauleses terem conseguido marcar, por intermédio da formiguinha N’Golo
Kanté (53 minutos), que rematou para o fundo das redes na recarga a um
remate de Griezmann defendido por Rui
Patrício. E assim a França seguiu para a
final four.
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