Seattle Sounders disputou quatro finais em cinco anos
O equilíbrio competitivo da Major
League Soccer e as suas naturais dores de crescimento fizeram com que no
primeiro quarteirão da história da principal prova de clubes norte-americana
tenham-se verificado treze campeões diferentes. Contudo, é possível encontrar
ao longo destes 25 anos de MLS períodos pontuais de notório domínio, como é o
caso do DC United, vencedor inaugural da competição que levantou o troféu em
1996, 1997 e 1999, ou do afamado LA Galaxy, conjunto que acumulou mais
títulos (cinco), e que se sagrou campeão em três ocasiões entre 2011 e
2014. Neste momento, estamos a assistir a um novo período dominante que
começou algures em 2016 e que teima em não desaparecer: a era do
Seattle Sounders. O Soccer em Português dá conta desta
curiosa hegemonia que para já se reflete em quatro presenças na
grande final só nos últimos cinco anos.
Antes do Sounders vem
Seattle, cidade com histórico futebolístico consolidado que remonta à década de
1970, aquando da sua participação na North American Soccer
League, liga essa que, por uns momentos, parecia ser a chave para o êxito do
futebol nos Estados Unidos. Entre 1974 e 1983, o Seattle Sounders foi
vice-campeão duas vezes, com plantéis de evidente influência britânica, onde se
destacavam nomes como os de Peter Ward, Steve Daley, Ray Evans
ou Roger Davies. Mais tarde, com a promessa de uma nova liga de clubes
profissional, em consequência da atribuição da organização do Campeonato do
Mundo de 1994 aos EUA, a comunidade local reergueu o emblema, que voltou aos
triunfos, desta feita em divisões inferiores. Enquanto aguardava pelo desejado
convite da MLS, o Sounders conquistou títulos nacionais importantes
em 1995, 1996, 2005 e 2007, e construiu uma base de apoio sólida, fiel e
recheada de entusiasmo. As condições financeiras
necessárias à aprovação de uma candidatura à MLS reuniram-se finalmente em
2007, e o Seattle Sounders deu início a uma nova fase da sua história
em 2009, pontuada com a presença de 32 mil espectadores no seu estádio para o
jogo inaugural. E se nas bancadas o Sounders dominava o
campeonato, com as assistências médias a subirem anualmente até aos 40 mil
espectadores por partida caseira, dentro do campo a equipa conseguiu desde o
começo demonstrar a competitividade necessária, sempre sob a orientação do
técnico alemão Sigi Schmid. O Sounders mantém até hoje a
proeza notável de nunca ter falhado o acesso aos playoffs em
doze temporadas de existência. Nas três primeiras épocas venceu a Taça dos EUA,
e protagonizou caminhadas surpreendentes como a de 2012, onde foi finalista
vencido da Taça dos EUA, e alcançou as meias-finais do campeonato e da Liga dos
Campeões. Desenhava-se claramente uma trajetória ascendente, embora
se verificasse ao mesmo tempo uma constante incapacidade de triunfar nos palcos
decisivos. Na ressaca de nova desilusão nos playoffs de 2014,
a administração decidiu substituir o diretor-geral Adrian Hanauer (um
dos principais investidores do clube), por Garth Lagerwey, que tinha
realizado um trabalho exímio em funções similares, mas ao serviço do
Real Salt Lake. Em simultâneo, surgiu o anúncio da separação
definitiva entre o Sounders e a outra equipa profissional da cidade,
o Seattle Seahawks, cujas estruturas eram partilhadas com o intuito de
respaldar os primeiros passos do novo clube. O
Seattle Sounders tornava-se assim uma instituição independente, pouco
antes de se transformar num emblema hegemónico.
Tudo começou em 2016.
Poucos dias após o começo oficial da temporada, o principal artilheiro do
plantel, Obafemi Martins, anuncia de forma repentina a sua saída para
a China, deixando o treinador Schmid com menos uma opção ofensiva de
peso, e sem janela de oportunidade para reparar a conjuntura. A produção
atacante caía a pique face a anos anteriores, mas mais do que isso, o
espírito coletivo começou a ressentir-se e a deteriorar-se com a
sequência de resultados negativos. Doze derrotas nas primeiras vinte
rondas foram a gota de água para o novo diretor-geral, que decidiu afastar
aquele tinha sido o único treinador principal do clube até então, durante sete
anos e meio. O desgaste entre todos os envolvidos tornava-se evidente.
Para assumir o seu lugar veio Brian Schmetzer, não somente por ser um dos
seus adjuntos, mas sobretudo por fazer parte da história futebolística da
cidade. Schmetzer foi um dos jogadores da equipa de 1970 e 1980 acima
referida, e treinador campeão pelo Sounders do novo século, na
antecâmara da MLS. No mesmo dia em
que Schmid abandonava as instalações, um novo jogador acabava
de chegar: o internacional uruguaio Nicolas Lodeiro. O virtuoso médio
havia sido um pedido específico do treinador agora de saída,
pois Schmid acreditava que a equipa necessitava urgentemente de um
armador de jogo de qualidade para solucionar a desarticulação existente entre
as peças ofensivas. Infelizmente, chegaria tarde demais para
que Schmid pudesse colher os louros dessa contratação.
Jogadores mais influentes (2016 - 2020)
Dos catorze encontros da fase regular
da MLS que restavam disputar, o Sounders venceu oito e perdeu apenas
dois, conseguindo uma recuperação incrível rumo aos playoffs sob
a orientação do novo técnico Brian Schmetzer. No relvado, as peças
não mexeram substancialmente, mas a influência de Lodeiro revelou-se decisiva
até final, na forma como fez crescer os colegas à sua volta, mesmo após o
afastamento de Clint Dempsey devido a problemas no coração. A
jovem promessa Jordan Morris e o internacional paraguaio Nelson
Valdez beneficiaram em muito com esta adição ao plantel, e dispararam a sua
produção ofensiva no momento mais crucial. O Sounders ultrapassou as
três eliminatórias dos playoffs rumo à final pela primeira
vez, e apesar de ter discutido o troféu em terreno alheio diante do favorito
Toronto FC, aguentou com firmeza e coragem as investidas do adversário. O
guardião Stefan Frei foi o herói da partida, com intervenções impressionantes
nos 120 minutos e nas grandes penalidades que decidiram o campeão. Desta forma,
a dupla Schmetzer e Lodeiro transformou uma época aparentemente
desastrosa numa das mais importantes do palmarés do clube. Mas não ficariam por
aqui. O título de 2016 seria apenas
o despoletar de um período de dominância futebolística que ainda não terminou. Nas
últimas cinco temporadas, o Seattle Sounders marcou presença em
quatro finais, conquistando o título em duas delas. A paridade financeira e
competitiva da prova só vem acentuar a importância deste feito. Graças a uma
estrutura competente e a uma comunidade local efusiva,
o Sounders conquistou o seu espaço na MLS, faltando apenas almejar a
dimensão continental, ainda sem expressão devido a insuficientes campanhas na
Liga dos Campeões. Parte para a época de 2021 obviamente como um dos
conjuntos favoritos ao título, ainda com Brian Schmetzer no banco, e
com Nicolas Lodeiro no relvado. Trabalho realizado por António Ribeiro
Sem comentários:
Enviar um comentário