Na edição de O Setubalense de 31 de janeiro de 2000, o jornalista Teodoro João
escreveu a notícia da chegada ao Vitória
de Setúbal de um tal “Albert”,
avançado
camaronês oriundo do Ravenna, da 2ª Liga Italiana. “O ponta de lança foi
pré-selecionado “A” pela seleção dos Camarões para o Campeonato do Mundo de
França [1998]. Ao serviço do Ravenna, apontou 8 golos em 12 jogos, entre jogos
oficiais e particulares. O atleta vem a custo zero, porquanto era um jogador
livre”, podia ler-se, numa apresentação de um futebolista que há muito passou a
dispensar apresentações.
Contudo, a estreia do então
craque de 19 anos só se viria a verificar mais de um mês depois, devido a um
atraso na chegada do certificado internacional. “Contactámos a Federação
Italiana, que nos disse que o passe está em posse da Federação Espanhola.
Entretanto o jogador garante-nos que não assinou nada pelo Mérida, clube onde
esteve à experiência”, esclareceu o presidente do Vitória
na altura, Jorge Goes, em peça publicada a 18 de fevereiro.
Finalmente, a 4 de março, Meyong
lá vestiu a camisola verde e branca pela primeira vez, entrando ao intervalo
num triunfo caseiro sobre o Rio Ave (2-0), para a I Liga, mas a tempo de
impressionar o jornalista António Elias. “Uma estreia de boa nota. Bons
apontamentos de ordem técnica”, escreveu, a 6 de março.
Primeiro golo… a Jorge Jesus
A exibição do avançado
africano também na retina do então treinador vitoriano Rui Águas, que lhe
atribuiu a titularidade nas jornadas seguintes, na visita ao Farense
(0-0) e na receção ao Estrela
da Amadora (0-0). Frente aos amadorenses,
a 19 de março, apontou o primeiro de 81 golos com a camisola sadina, para
desgosto do técnico adversário, Jorge
Jesus, que o viria a orientar em Setúbal,
no Belenenses
e no Sp.
Braga. “Golo de Meyong,
a emendar de cabeça um remate de Ricardo Esteves que havia saído na diagonal à
baliza”, descreveu António Elias, sobre o lance ocorrido aos 64 minutos.
Nas descidas e nas subidas
Com dois remates certeiros em nove
partidas na segunda metade de 1999-00, o contributo de Meyong
foi insuficiente para manter o Vitória
na I Liga. Na temporada seguinte, continuou à beira-Sado,
mas só em outubro começou a jogar, porque esteve em Sydney, na Austrália, a
ganhar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos ao serviço dos Camarões.
Ainda assim, regressaria a tempo
de alinhar em 22 jogos e apontar 13 golos, o último dos quais a garantir a
promoção, aos 89 minutos da derradeira jornada, num triunfo sobre a Naval (2-1),
num Bonfim
à pinha, a 27 de maio de 2001. "É um dos golos mais importantes para mim e dos que mais festejei. Nesse jogo o estádio do Bonfim estava cheio. Foi a primeira vez que vi o estádio tão cheio e um ambiente fantástico. Consigo fazer o golo mesmo no fim. Mudou muitas coisas e a vida de muita gente", contou à Tribuna Expresso em abril de 2019.
Voltou a descer de divisão em
2002-03, mas tornou a subir na época seguinte, sob a orientação de Carlos
Carvalhal, naquela que foi a sua temporada mais produtiva da carreira: 21
golos.
Muito encanto na hora da (primeira) despedida
Entre os 216 jogos em que Albert
Meyong Zé – ou Zezé, como popularmente é conhecido – vestiu a camisola
verde e branca, o mais significante foi disputado a 29 de maio de 2005, quando
também vestiu a pele de herói da Taça
de Portugal. O camaronês apontou o golo que deu o triunfo sobre o Benfica
(2-1), em pleno relvado do Jamor.
Com esse remate certeiro se
despediu dos vitorianos. "Primeiro falei com o presidente, o Chumbita. 'Senhor presidente, eu fico aqui no Vitória, nem quero subir o meu salário'. O Braga dava-me o mesmo, o Belenenses dava-me mais - 'mas baixar salário também não quero. Não quero que me aumentem, quero o mesmo salário. E fico cá no Vitória'. Ele disse que tinha de falar com a assembleia, porque não é o presidente que decide. Na assembleia decidiram que o Vitória não tinha condições para pagar o mesmo salário. E fui para o Belenenses", contou à Tribuna Expresso.
Depois de se ter sagrado melhor marcador do campeonato ao serviço dos azuis do Restelo, transferiu-se para
os espanhóis do Levante, que o emprestou ao Albacete e ao Belenenses. Esteve
três anos e meio em Braga,
mas voltou a Setúbal
em janeiro de 2012. Já trintão, não tão veloz, mas mais experiente, apontou 21
golos em 34 jogos, até se voltar a despedir um ano depois.
Após três temporadas nos
angolanos do Kabuscorp, regressou ao Sado
em janeiro de 2016, para o último ano e meio carreira. "Chegou uma altura em que eu queria terminar a minha carreira aqui. Era a melhor coisa que podia acontecer-me. Falei com o presidente [Fernando Oliveira] e ele disse-me que podia ficar aqui para terminar a carreira." Nesta terceira passagem
pelo Bonfim,
apenas marcou um golo, mas continuou a merecer a admiração de todos os adeptos sadinos.
Aos 36 anos, foi alvo de homenagem no Jantar de Aniversário do clube, com o
Prémio Reconhecimento, e na gala organizada pelo Núcleo Fidelis Causa, com o
Troféu Golfinho Verde. “Uma velha glória
ainda em atividade”, descreveu Fernando Tomé na altura.
Após pendurar as botas, em
maio de 2017, esteve integrado no staff técnico do plantel profissional.
Depois de adjuvar José
Couceiro, Lito Vidigal e Sandro Mendes, foi chamado a assumir interinamente
o comando da equipa no final de outubro de 2019, tendo somado uma
vitória, um empate e uma derrota antes da chegada de Júlio Velázquez. Após a saída do técnico espanhol voltou a assumir o cargo de forma interina, tendo perdido o jogo que disputou.
No final da temporada 2019-20 deixou o Bonfim, mas continuou em Setúbal e inclusivamente voltou a calçar as chuteiras, estando a representar o Comércio e Indústria na I Distrital da AF Setúbal.
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