Estive anteontem em trabalho em
Alcochete, a assistir ao jogo do Sporting B com o Leixões (triunfo por 3-1).
Também já lá tinha estado há quase dois meses, na receção ao Olhanense (vitória por 2-1). Ambos os encontros coincidiram com este período áureo da equipa, onde
já são dez as partidas sem conhecer a derrota.
Em primeiro lugar, desengane-se
quem pense que se tratam apenas de resultados. Não, os bês leoninos praticam
bom futebol e os principais talentos têm tido espaço para colocar em prática
toda a sua criatividade. Por muito que o 4x3x3 seja inspirado no plantel
principal e se tente copiar o modelo de jogo, há aspetos que dependem
exclusivamente do tipo de competição e das características dos jogadores.
Ambas as formações (A e B) gostam
de ter a bola e canalizam os seus ataques pelos três corredores, mas enquanto
os comandados de Marco Silva optam invariavelmente por cruzamentos, os de João
de Deus privilegiam o jogo interior e os passes para as costas da defesa. Por
força das circunstâncias, os adversários dos às defendem com um bloco baixo e
condensado e convidam o jogo exterior. Já os oponentes dos bês deixam algum
espaço nas costas da defesa, entre setores e até mesmo entre unidades de um
mesmo setor.
Os leõezinhos acabam por jogar um
futebol agradável de se ver, de toque, de passes de rutura, de velocidade e de
criatividade. Os sportinguistas que já foram a Alcochete em 2015, terão saído
de lá satisfeitos.
Individualmente, creio que há
mais razões para preocupação na defesa do que no ataque.
É verdade que Luís Ribeiro
não teve muito trabalho nos jogos a que assisti, mas mostrou-se intranquilo com
o Olhanense e não se revelou propriamente um monstro das balizas com o Leixões.
Contudo, tem um ótimo plus para a sua
posição: coloca muito bem a bola tanto com o pé como com a mão. Uma grande
vantagem para quem quer atacar rápido ou esticar depressa o jogo.
Um pouco à imagem da época da
equipa principal, creio que o eixo da defesa dos bês não dá grandes garantias
aos sportinguistas. Nuno Reis já tem alguma experiência e posso mesmo
dizer que a Liga 2 já lhe diz pouco. Contudo, faltam-lhe centímetros e
versatilidade. Num clube grande não basta apenas ser certinho, é preciso ter-se
mesmo algo de especial. Ao seu lado, Sambinha foi outro que não me
convenceu. Tem pouca velocidade para estar numa defesa que joga subida e por
vezes adorna em demasia.
Já Riquicho,
lateral-direito, encheu-me as medidas. É de propensão e com alguma qualidade
técnica, mas igualmente agressivo, sem medo do choque. No flanco oposto, ou Mica
Pinto ou (com o Leixões) Jonathan Silva. O primeiro é outro daqueles
jogadores, assertivos, competentes, mas curtos para as exigências de um grande.
O segundo, já visto várias vezes nos às, apoia bem o ataque, mas ainda não
consegue estar 90 minutos concentrado, e por isso falha muito no posicionamento
e na marcação.
À frente da defesa, Palhinha tem alternado
com Rabia. Embora o egípcio seja mais mediático, é o jovem português que
tem estado em destaque nos últimos encontros. Tem semelhanças com William
Carvalho no estilo, sendo igualmente forte fisicamente e no jogo aéreo. Marcou
de cabeça ao Leixões, na sequência de um canto.
Face à ausência de Ryan Gauld
- «tem o andar dos predestinados», como diria José Eduardo -, convocado por
Marco Silva para o encontro com o Paços de Ferreira, foi Francisco Geraldes
a assumir as funções de terceiro homem do meio-campo. Não confundir com o
André, lateral contratado ao Belenenses. Tem grande capacidade de passe e
qualidade técnica, utilizando esse recurso para superar situações mais
complicadas, quando tem pouco espaço.
Como clube formador de Futre,
Figo, Simão, Quaresma, Ronaldo e Nani, há sempre a expetativa de saber quem são
os extremos que vão dando os primeiros passos nas camadas jovens ou nos bês. O que mais me impressionou foi Gelson Martins. É um autêntico fantasista,muito habilidoso e desequilibrador, que aparece bem em zonas interiores. Mas há
mais. Dramé, Sacko e Podence são mais explosivos e
dinâmicos. Pensam rápido e procuram combinar com os colegas para criar
situações de finalização.
No eixo do ataque, aquele que tem
mais dado que falar. Diego Rubio leva onze golos em treze partidas pelo
Sporting B nesta temporada. Tem muitas parecenças com Montero. Baixa ou aparece
no flanco para receber a bola, participa na construção dos ataques e tem faro
para o golo. Mesmo em situações difíceis, tem a noção de onde está a baliza e
os seus remates levam quase sempre a melhor direção. Tem a desvantagem de não
ser muito forte no jogo aéreo.
Gostei do texto, muito particularmente dos comentários sobre o modelo de jogo implementado por João de Deus e sobre as mais-valias que estarão na rampa de lançamento para a equipa principal.
ResponderEliminarPenso que Ryan Gauld não terá sido convocado por Marco Silva para Paços de Ferreira e que só não terá jogado por se encontrar lesionado. Pelo menos foi essa ideia que retirei do que li por aí.
Bom trabalho.