Gosto pela atividade é fomentado no Núcleo do Barreiro
Fundado em 1965, o Núcleo de
Confraternização de Árbitros de Futebol no Barreiro, é um importante parceiro
para organismos regionais e nacionais relacionados com a modalidade. Todos os
anos se concretizam cursos para candidatos que pretendam singrar na arbitragem e
todas as sextas-feiras, homens e mulheres do apito se reúnem na sede para
discutir lances, confraternizar e fazer testes.
Miguel Jacob, 33 anos, é árbitro
da terceira categoria nacional e vice-presidente da direção. Frequentou o curso
de candidatos há mais de uma década, não tendo grandes expetativas na altura,
mas rapidamente se apaixonou pela atividade. “Depressa fiquei apanhado pelo
desafio e pela causa”, confessa. Atualmente, devido a reestruturações no setor,
afirma que as suas ambições foram “substancialmente encurtadas” e o objetivo
é a continuação nos quadros nacionais.
Miguel Jacob |
Tendo um cargo de
responsabilidade no NCAFB, lamenta a dificuldade no recrutamento de novos
juízes, associando-a à “falta de uma cultura desportiva forte” e ao “estigma
associado aos árbitros”. O polémico caso do Apito Dourado relacionou a
atividade com a corrupção, no entanto, Jacob defende a figura do homem do
apito: “é suscetível
falhar como qualquer outro dos envolvidos no jogo falha”.
Quem anda na arbitragem lida
frequentemente com insultos dirigidos pelo público e isso pode mexer
psicologicamente com quem tem o poder de tomar as decisões. “Com o tempo e
experiência é algo que com o qual se aprende a conviver e a superar”, admitindo
mesmo que é necessário algum treino mental.
A possível criação de uma
academia relacionada com o setor é vista com bons olhos, “que irá permitir
melhorar e uniformizar a qualidade da arbitragem em todos os seus domínios”,
queixando-se apenas da sua “tardia implementação”.
O presidente da direção do NCAFB
é Nuno Roque, de 40 anos, árbitro assistente de primeira categoria nacional.
Atua, frequentemente, em jogos da Liga ZON Sagres. Interessou-se pela
arbitragem com 17 anos, por influência do pai e, hoje em dia, considera-se
“praticamente dependente desta atividade”.
Nuno Roque |
À imagem de Miguel Jacob, também
defende a profissionalização do setor: “por tudo o que movimenta esta indústria
terá que ser dado esse passo a muito breve trecho.” Enquanto tal não acontece,
tem de conciliar o seu emprego, vida familiar e arbitragem, gerindo esse facto
“com muito sacrifício, utilizando o tempo que deveria ser dedicado ao descanso,
para treinar, estudar e arbitrar”. Roque tem a tarefa árdua de lidar com
atletas de alta competição, o que lhe exige uma preparação muito complexa. Para
além do treino físico e mental, estuda as equipas, e visualiza lances/jogos, no
entanto, as rotinas com outros árbitros também são importantes. “É fundamental
que os elementos que constituem uma equipa de arbitragem tenham fortes laços de
amizade uns com os outros”, acrescenta.
A escolha pela bandeirola em
detrimento do apito foi feita de uma forma praticamente aleatória. “Tinha que
optar rapidamente por uma das funções e foi quase pelo método da cara ou
coroa”, confessa. Na altura, estava nos quadros de árbitro assistentes da
segunda categoria nacional e tinha vaga garantida no quadro de observações da
primeira categoria distrital como chefe de equipa.
Roque aponta para “concentração,
boa condição física, perseverança, capacidade para decidir no limite e de
ultrapassar o erro” como as principais qualidades de um bom fiscal de linha,
como popularmente se chama a quem desempenha esse papel.
Embora se trate de uma atividade
dominada por homens, também existem mulheres a dar cartas na arbitragem. Rita
Oliveira, 17 anos, é árbitra desde o final de 2011, e não sente qualquer tipo
de descriminação. Apesar de admitir que ainda é uma surpresa para jogadores e
treinadores quando aparece para arbitrar, faz uma declaração curiosa: “confesso
que gosto muito de liderar vinte e dois homens, nem que seja por alguns
minutos”. A paixão pela arbitragem nasceu pelo gosto que já tinha pelo futebol:
“Joguei dos cinco aos catorze anos, acabando por abandonar a minha curta
carreira quando me lesionei gravemente na virilha”. Dois anos depois, e já
recuperada da lesão, interessou-se pela atividade quando o seu professor de
educação física lhe mostrou um vídeo de um jogo da equipa que treinava, e quem
dirigia essa partida era uma senhora.
Rita Oliveira |
Geralmente, um aspeto menos
positivo em ser árbitro é se ser insultado pela tomada de uma decisão que possa
gerar controvérsia, mas será assim, também, com senhoras? “O único jogo em que
fui insultada do início ao fim foi num campo onde só existiam mulheres. Elas
sim, são muito más e não percebem muito do assunto”, assegura. “Já os homens
costumam mandar piropos e até arranjar as mais insólitas desculpas para um erro
cometido. É curioso, mas é verdade”, acrescenta.
Com os atletas, a relação também
é diferente: “num jogo liderado por uma mulher ou até por esta estar apenas na
linha existe,
muito mais respeito do que numa equipa totalmente masculina”
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