Quem se lembra de quando Conceição se atirou a “Merdaíl” e acusou Scolari de preferir jogadores patrocinados pela Nike?
Sérgio Conceição e Gilberto Madaíl no Jamor em 2002
Filho de um pedreiro, Sérgio
Conceição cresceu no seio de uma família humilde nos arredores de Coimbra e
ficou órfão de pai e mãe ainda enquanto adolescente. Também não era
propriamente o mais talentoso dos jogadores, mas tinha na garra a principal
imagem de marca, tendo conseguido uma carreira de futebolista muito bonita:
passou por três empréstimos antes de se afirmar no FC
Porto, ganhou tudo em Portugal, conquistou um campeonato, duas Taças e uma
Supertaça de Itália, uma Taça das Taças e uma Supertaça Europeia ao serviço da Lazio,
brilhou
no Euro 2000 com um hat trick à Alemanha e já na curva descente foi
eleito o melhor jogador do campeonato belga.
Mas esse nervo que exibia em
campo também vem ao de cima quando é chamado a falar. Não é só desde que é
treinador que tem declarações impetuosas e intempestivas. Tem o coração na boca,
é genuíno, não tem filtros e, obviamente, acaba por cometer erros tanto na
forma como no conteúdo. A diferença é que, agora, tem de falar publicamente
várias vezes por semana. Em agosto de 2009, em entrevista
ao jornal I, partiu a “loiça toda” ao ser confrontado com o afastamento
da seleção, no final de 2003, quando ainda jogava ao mais alto nível: “O Dr.
Merdaíl. Disse Merdaíl? Enganei-me. É Madaíl, Madaíl. O Dr. Madaíl, depois do
fiasco do Mundial 2002, escondeu-se atrás da carcaça de um campeão do mundo.
Desculpe lá, mas apetece-me partir a loiça toda. Nasci aí, em Portugal, e não
aceito que arruínem o nosso futebol”. O alvo era o presidente da Federação
Portuguesa de Futebol na altura, Gilberto Madaíl. Scolari, o selecionador que
afastou Conceição
depois de 56 internacionalizações e 12 golos de quinas ao peito, também foi
visado. “Estive nove meses [com ele], mas a primeira reunião dos capitães - eu,
Couto, Figo e Rui Costa - foi suficiente para o entender. Chamou-nos à parte e
disse-nos que estava ali para treinar a seleção e dar o salto para um grande
europeu. Mas estamos a brincar ou quê? Mas que é isto? Um homem na seleção, que
deve ser um privilégio, o maior privilégio, e ele só pensava em sair para um
grande da Europa. Mas brincamos ou quê? Falava em seriedade e disciplina.
Aliás, afastou carismáticos, como Baía e João Pinto, com base na disciplina.
Isso é tudo muito bonito, mas ele não aplicava a regra. Nos almoços da seleção,
a mesa dos jogadores é sempre maior que a dos treinadores, porque há mais
jogadores que treinadores. Com o Scolari, não! A nossa tinha 18/20 pessoas. A
dele era maior. Mas estamos a brincar? Mas estamos onde? Ele levava os amigos
brasileiros, os amiguinhos da Nike. Sim, porque ele é patrocinado pela Nike e
entre um jogador da Nike e um da Adidas, escolhia sempre o da Nike. Mas depois,
lá vinha com a lengalenga da disciplina. Então, mas eu, que nasci em Coimbra,
em Portugal, deixo-me ficar? Numa situação destas, deixo de agir? Mas estamos
onde, pá? Que é isto? Ele ganhou o quê? Foi a uma final em casa e perdeu-a”, atirou. Três anos e meio depois, já numa
altura em que era treinador, foi substituído por Manuel
Cajuda no comando técnico do Olhanense
e não deixou de sublinhar a presença constante do treinador
algarvio nas bancadas do Estádio José Arcanjo, em jeito de declaração de
disponibilidade. “O meu agradecimento ao Olhanense
e aos adeptos, sobretudo a um pela sua assiduidade, o sr. Manuel
Cajuda, que não falhou um jogo meu”, atirou.
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