Os resultados das várias eleições
dos últimos anos não têm abonado muito a favor do Partido Comunista Português
(PCP). A perda de autarquias, algumas das quais em concelhos que eram considerados
bastiões comunistas, e a de deputados na Assembleia da República, sustentam a
tese de envelhecimento e perda de eleitorado.
Alguns politólogos e comentadores
têm mesmo sugerido que o PCP caminha para a extinção, como foi o caso de Miguel
Sousa Tavares, que considerou que o destino inevitável do partido era “acabar a
prazo”.
Se o escritor terá ou não razão,
logo se verá, mas uma coisa é certa: o PCP tem perdido votos, mas a esquerda em
geral e o comunismo em particular não. O vizinho ideológico Bloco de Esquerda
(BE), que defende valores muito idênticos em quase todos os aspetos, tem vindo
a ganhar cada vez mais força, faltando-lhe apenas a afirmação a nível
autárquico.
A grande diferença é que o BE tem
acompanhado a realidade, enquanto o PCP tem estagnado. Os soundbytes de Jerónimo de Sousa e seus camaradas, como “política patriótica
e de esquerda” ou “política de reposição de direitos aos trabalhadores”, são os
mesmos de há muito. E boa parte dos discursos do secretário-geral do partido nos
últimos anos poderiam muito bem ter sido proferidos por Álvaro Cunhal no pós-25
de abril.
No entanto, têm havido muitas
outras batalhas para travar em que o PCP poderia estar na linha de frente. Porém,
escolheu ficar na retaguarda, enquanto outros se têm afirmado. É o caso do
combate às alterações climáticas. Como é que o partido que há imensos anos
concorre a quase todas as eleições em coligação com o Partido Ecologista “Os
Verdes” (PEV) se deixou ultrapassar pelo PAN e até pelo BE nessa luta? Essa
podia e devia, mas nunca foi uma das bandeiras da CDU.
Noutro âmbito, enquanto o BE sempre
se assumiu como partido feminista – nada mais do que um ramo da ideologia
comunista - e defensor dos direitos da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgéneros), o PCP nunca saiu
verdadeiramente do armário, focando-se apenas e só nos direitos dos
trabalhadores e no combate ao capitalismo, como se ainda estivéssemos em 1975.
Jerónimo de Sousa é hoje uma
figura admirada, mas também desgastada e demasiado amarrada a um
fundamentalismo que já não faz sentido existir, mostrando-se incapaz de criticar
os regimes totalitários de inspiração comunista na Venezuela e na Coreia do
Norte. Podia fazer sentido há 40 anos, mas não hoje em dia. A realidade é
demasiado dinâmica para os mesmos chavões, as mesmas ideias e a mesma
liderança.
A sua visão foi profética, quanto aos resultados do PCP nestas autárquicas. Quanto ao resto, poderemos não concordar em tudo, mas talvez lhe valha o sacrifício ler o que sobre o assunto refleti em https://mosaicosemportugues.blogspot.com/2021/10/matusalem-reliquia-comunista-portuguesa.html
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