De norte a sul e do litoral ao
interior, a história do futebol português também se tem escrito por clubes que
fintaram a demografia e, em determinado momento, estiveram entre os grandes.
Entre os dez concelhos menos populosos de Portugal que tiveram clubes na I Liga
(segundo os censos de 2015), uns estiveram apenas uma época na elite, mas
também houve quem tivesse chegado à final da Taça de Portugal e às competições
europeias. Embora os principais emblemas nacionais estejam na metrópole, década
após década emergem das divisões inferiores clubes que tornam o futebol
português mais democrático e que colocam concelhos pouco populosos na ribalta.
Saiba quais são.
10. Trofa (38.264 habitantes)
Fundado em 1930, o principal
clube do concelho, o Trofense,
viveu mergulhado nas distritais da Associação de Futebol do Porto até meio da
década de 1980. Depois começou a aparecer nas extintas II e III divisões, até
saltar para a II Liga em 2006. Dois anos bastaram para assegurar a promoção à I
Liga, onde o emblema
da Trofa esteve apenas uma temporada, 2008-09.
Embora tenha terminado em último
lugar, pontuou frente aos três grandes: empatou em casa com o Sporting
e com o FC
Porto no Dragão e venceu o Benfica
na Trofa e empatou na Luz. Paulo
Lopes, Areias, Tiago Pinto, Delfim, Hugo Leal, Ricardo Nascimento e Hélder
Barbosa eram alguns dos nomes mais sonantes do plantel, que conheceu três
treinadores: António Conceição, Shéu e Tulipa.
Depois de nove anos nas ligas
profissionais, o Trofense
está desde 2015 no Campeonato de Portugal.
9. Tomar (38.183 habitantes)
Tomar foi o único concelho do
distrito de Santarém que já teve um clube na I Divisão, o União de Tomar. Lá
jogaram Eusébio e António Simões, mas na II Divisão, já depois de o emblema
ribatejano ter participado seis vezes no patamar maior do futebol português.
Logo na primeira presença, em 1968-69, alcançou a melhor classificação de
sempre, um 10.º lugar. Porém, desceu na época seguinte. Voltou a subir mais
duas vezes, em 1971 e 1974, mas só resistiu duas temporadas entre a elite em
cada ocasião.
Bastante longe dos tempos áureos,
desde 2002 que está subterrado nas distritais de Santarém.
8. Espinho (29.708 habitantes)
O Sporting
Clube de Espinho é indiscutivelmente mais conhecido pelos feitos no
voleibol, modalidade da qual é recordista de títulos em Portugal, do que no
futebol, mas ainda assim somou 11 presenças distribuídas por três décadas na I
Divisão.
A primeira participação foi em
1974-75, a última em 1996-97 e o maior período na elite entre 1979 e 1984, mas
a melhor classificação foi obtida em 1978-88 com Quinito ao leme e os
brasileiros Ivan e Pingo como duas das principais figuras da equipa: o 6.º
lugar.
Afastado das ligas profissionais
desde 2005, os tigres
da Costa Verde caíram nos distritais dez anos depois, mas voltaram em força
em 2017, tendo inclusivamente disputado o playoff
de subida à II Liga em 2018-19.
7. Tondela (27.701 habitantes)
No presente, tal como no passado,
as pequenas cidades também cabem na I Liga. Depois de em 1941-42 ter disputado
a fase de promoção à I Divisão, passou grande parte da sua existência entre os
distritais de Viseu e a antiga III Divisão. Em 2005, o Tondela
sagrou-se campeão distrital e deu o pontapé de saída para uma ascensão
meteórica, que culminou com a subida à I Liga dez anos depois.
Em quatro temporadas entre a
elite, a permanência foi assegurada de forma muito sofrida em três delas, todas
na última jornada. A
exceção foi a tranquila época de 2017-18, em que a equipa às ordens de Pepa
alcançou o 11.º lugar. Apesar desse sofrimento, tem dado água pela barba aos
grandes: ganhou na Luz e no Dragão e empatou três vezes em Alvalade.
6. Vizela (23.802 habitantes)
Depois de várias décadas entre os
distritais de Braga e os escalões nacionais inferiores, o Vizela
emergiu na década de 1980, assegurando a presença na I Divisão em 1984/85. Foi
sol de pouca dura, pois a equipa então orientada por José Romão não foi além do
16.º e último lugar que lhe ditou o rápido regresso à II Divisão. Valeu de
consolação o empate em casa com o campeão FC Porto, na antepenúltima jornada.
Daí para cá, os minhotos
têm andado sempre entre o segundo e o terceiro patamares do futebol português,
tendo estado perto do regresso à elite em 2008, quando foram vencidos ao sprint por Trofense
e Rio
Ave.
5. Elvas (21.571 habitantes)
4. São João da Madeira (21.449 habitantes)
No último meio século, apenas por
quatro épocas a Sanjoanense
não esteve nos campeonatos nacionais, tendo neste período revelado jogadores
como António Sousa e António Veloso, que se tornariam internacionais
portugueses. Porém, as três últimas (de quatro) presenças do clube
de São João na Madeira na I Divisão foram na década de 1960, 20 anos depois
de ter participado no primeiro escalão pela primeira vez, em 1946-47. A melhor
classificação de sempre foi obtida em 1967-68: o 10.º lugar.
Tal como o Sp.
Espinho, o futebol não é a modalidade de eleição do clube, que se tem
destacado mais pelo hóquei em patins, tendo conquistado a Taça das Taças em
1986.
3. Arouca (21.392 habitantes)
Fundado em 1952, o Futebol
Clube de Arouca apenas surgiu nos campeonatos nacionais no século XXI, e
mesmo assim de forma pouco consistente. Campeão distrital da AF Aveiro em 2007,
os beirões
deram aí o tiro de partida para uma ascensão meteórica no futebol português,
tendo alcançado a promoção à I Liga em 2013.
A história dos arouquenses
no primeiro escalão resume-se a quatro épocas, mas ricas em conteúdo. Após ter alcançado
a permanência apenas nas últimas jornadas com Pedro Emanuel ao leme em 2013-14
e 2014-15, Lito Vidigal levou o principal clube da vila de Arouca à Liga Europa
em 2016, graças a um brilhante 5.º lugar.
Para a história ficará a eliminação
dos holandeses do Heracles na 3.ª pré-eliminatória e o prolongamento que
obrigou o Olympiacos a jogar no playoff de
acesso à fase de grupos. Porém, a temporada da estreia europeia ficou marcada
pela despromoção. Entretanto, a equipa
desceu ao Campeonato de Portugal em 2019 e a direção do clube avançou para
um pedido de insolvência da SDUQ e para a rescisão coletiva com o plantel.
2. Vila Real de Santo António (19.077 habitantes)
Na cidade raiana do Algarve, o
Lusitano Vila Real de Santo António (VRSA) teve o estatuto de primodivisionário
por três vezes, entre 1947 e 1950. Numa altura em que a I Divisão era disputada
por 14 equipas, os algarvios obtiveram a melhor classificação da história logo
na época de estreia: o 11.º lugar. Seguiu-se um 13.º e por fim um último lugar
que atirou o clube para a II Divisão.
Desde então que o Lusitano tem
sido presença assídua nos campeonatos nacionais, tendo participado
inclusivamente na edição inaugural da II Liga, em 1990-91. Porém, no século XXI
tem alternado entre as provas da Federação Portuguesa de Futebol e as da AF
Algarve.
1. Campo Maior (8.214 habitantes)
Tal como Elvas
e Vila Real de Santo António, outra
pequena localidade raiana que catapultou uma equipa para a I Divisão. Dirigido
pela família Nabeiro, proprietária do Grupo Delta Cafés, o Campomaiorense teve
uma ascensão meteórica na década de 1990, ao colocar um ponto final numa passagem
de quase 20 anos na III Divisão e festejar três promoções em cinco anos até
chegar à I Liga, em 1995-96.
Na maior parte dos casos referidos, houve mecenas por trás a financiar: família Violas, Nabeiro, Rui Silva (que detinha a ricon).
ResponderEliminar