Golo de Papa Bouba Diop foi o primeiro que vi num Mundial |
Tendo nascido eu
em 1992, ainda não via futebol em 1998 – e muito menos em 1994 -, pelo que a
minha primeira memória da fase final de um Campeonato do Mundo remonta a 2002. Nas
semanas anteriores, tinha devorado revistas e recortes de jornais com
informações não só sobre as 32 seleções, mas também sobre os países
representados. Sabia quase tudo sobre cada um. Frequentava o 4.º ano e, por
morar perto da escola, ia almoçar a casa. E foi precisamente à hora de almoço
que começou o jogo inaugural desse torneio organizado por Coreia do Sul e
Japão.
De um lado
estava uma França que eu julgava invencível. Era a campeã europeia e mundial –
pelo que, segundo as regras da altura, não precisou de participar na fase de
qualificação – e tinha jogadores que atuavam ao mais alto nível. Zidane liderava
uma panóplia de craques, entre os quais Barthez, Thuram, Desailly, Lizarazu,
Petit, Pires, Henry e Trezeguet.
Do outro, um
Senegal repleto de jogadores desconhecidos, uma espécie de França B ou C, pois
grande parte dos futebolistas da seleção gaulesa eram originários de países
franco-africanos. Algum valor deveriam ter, pois Fary fartava-se de marcar
golos em Portugal, na altura pelo Beira-Mar, mas não foi incluído no lote de 23
eleitos. As tais revistas e os tais recortes sugeriam os nomes de Fadiga e
Diouf para ter em conta, mas não consegui esquecer o do aportuguesado Tony Sylva (guarda-redes) e o de Papa Bouba Diop, que
viria a ser o protagonista desse encontro. 15 anos mais tarde, conheci pessoalmente
um dos guardiões suplentes, Kalidou Cissokho, que já veterano defendeu as redes
do FC Setúbal na II Distrital.
Um mundo
separava as duas seleções, mas a surpresa acabou mesmo por acontecer. Lembro-me
de o tal Papa Bouba Diop ter concluído de uma forma algo atabalhoada um
contra-ataque senegalês no lance do único golo da partida, ainda na primeira parte,
seguindo-se uma dança de celebração junto à bandeirola de canto. Felizmente, tive
a oportunidade de confirmar essa memória nebulosa através do Youtube. Também me
recordo que tinha deixado o sofá para ir para as aulas a meio do segundo tempo,
com a convicção de que os franceses iriam dar a volta. Tal não veio a acontecer,
disseram-me quando regressei a casa.
A França que eu
julgava invencível fez um Mundial horrível, e o Senegal acabou por tornar-se
uma das surpresas da prova. Essa foi a primeira memória de um Mundial, mas
outras se sucederam nos dias seguintes. Lembro-me de assistir à chocante
derrota de Portugal diante dos Estados Unidos no átrio da escola, através de
uma televisão com uma imagem paupérrima.
Nada o fazia
prever. A equipa das quinas vinha de um tremendo Euro 2000 e de uma
qualificação obtida de uma forma impecável, tinha em Figo um dos melhores
jogadores do mundo e um conjunto de jogadores que ofereciam bastantes
garantias, apesar da lesão de Simão e do doping
de Quim e Kenedy. Pauleta era o titular na frente de ataque, mas Nuno Gomes marcava
sempre que jogava pela seleção. Ricardo tinha sido o dono da baliza durante a
qualificação, mas Vítor Baía roubou-lhe o lugar no estágio que antecedeu a fase
final. João Pinto tinha feito uma grande temporada no Sporting. Rui Costa,
Pedro Barbosa, Sérgio Conceição e Capucho viviam bons momentos e faziam crer
que Portugal tinha fantásticas soluções para as posições de apoio ao ponta de
lança. Contudo, novo desaire, mas frente à Coreia do Sul, deitou tudo por terra
– pelo meio, uma goleada imposta à Polónia.
Ronaldo, o estranho penteado e a apurada técnica de remate |
Quem acabou por
vencer esse Mundial foi o Brasil, catapultado pela veia goleadora de Ronaldo,
que se apresentou na Ásia com um dos penteados mais estranhos que alguma vez
vi: uma espécie de retângulo de cabelo numa cabeça que, de resto, se encontrava
completamente rapada. Foi a primeira vez que vi o Fenómeno. Depois das graves
lesões, já não era o futebolista genial que cavalgava pelo meio-campo
adversário ao serviço do Barcelona, mas era tremendo na cara do guarda-redes.
Com o peito no pé, colocava friamente a bola onde sabia que nenhum guardião era
capaz de chegar. Oliver Kahn que o diga. Ainda tenho gravado em VHS toda a
final entre Brasil e Alemanha, que culminou com a vitória canarinha por 2-0 –
dois golos de Ronaldo, pois claro.
Mas houve mais:
as arbitragens escandalosas que empurraram a Coreia do Sul rumo às meias-finais
e o fantástico golo de livre direto do brasileiro Ronaldinho ao inglês David
Seaman (ao qual assisti praticamente durante um pequeno-almoço) continuam bem presentes na minha memória.
E para o caro leitor, qual foi o primeiro Mundial de que tem memória? E quais foram os melhores e mais marcantes jogos de sempre da prova?
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