quinta-feira, 14 de junho de 2018

A minha primeira memória de… um Mundial

Golo de Papa Bouba Diop foi o primeiro que vi num Mundial

Tendo nascido eu em 1992, ainda não via futebol em 1998 – e muito menos em 1994 -, pelo que a minha primeira memória da fase final de um Campeonato do Mundo remonta a 2002. Nas semanas anteriores, tinha devorado revistas e recortes de jornais com informações não só sobre as 32 seleções, mas também sobre os países representados. Sabia quase tudo sobre cada um. Frequentava o 4.º ano e, por morar perto da escola, ia almoçar a casa. E foi precisamente à hora de almoço que começou o jogo inaugural desse torneio organizado por Coreia do Sul e Japão.  


De um lado estava uma França que eu julgava invencível. Era a campeã europeia e mundial – pelo que, segundo as regras da altura, não precisou de participar na fase de qualificação – e tinha jogadores que atuavam ao mais alto nível. Zidane liderava uma panóplia de craques, entre os quais Barthez, Thuram, Desailly, Lizarazu, Petit, Pires, Henry e Trezeguet.

Do outro, um Senegal repleto de jogadores desconhecidos, uma espécie de França B ou C, pois grande parte dos futebolistas da seleção gaulesa eram originários de países franco-africanos. Algum valor deveriam ter, pois Fary fartava-se de marcar golos em Portugal, na altura pelo Beira-Mar, mas não foi incluído no lote de 23 eleitos. As tais revistas e os tais recortes sugeriam os nomes de Fadiga e Diouf para ter em conta, mas não consegui esquecer o do aportuguesado Tony Sylva (guarda-redes) e o de Papa Bouba Diop, que viria a ser o protagonista desse encontro. 15 anos mais tarde, conheci pessoalmente um dos guardiões suplentes, Kalidou Cissokho, que já veterano defendeu as redes do FC Setúbal na II Distrital.

Um mundo separava as duas seleções, mas a surpresa acabou mesmo por acontecer. Lembro-me de o tal Papa Bouba Diop ter concluído de uma forma algo atabalhoada um contra-ataque senegalês no lance do único golo da partida, ainda na primeira parte, seguindo-se uma dança de celebração junto à bandeirola de canto. Felizmente, tive a oportunidade de confirmar essa memória nebulosa através do Youtube. Também me recordo que tinha deixado o sofá para ir para as aulas a meio do segundo tempo, com a convicção de que os franceses iriam dar a volta. Tal não veio a acontecer, disseram-me quando regressei a casa.


A França que eu julgava invencível fez um Mundial horrível, e o Senegal acabou por tornar-se uma das surpresas da prova. Essa foi a primeira memória de um Mundial, mas outras se sucederam nos dias seguintes. Lembro-me de assistir à chocante derrota de Portugal diante dos Estados Unidos no átrio da escola, através de uma televisão com uma imagem paupérrima.

Nada o fazia prever. A equipa das quinas vinha de um tremendo Euro 2000 e de uma qualificação obtida de uma forma impecável, tinha em Figo um dos melhores jogadores do mundo e um conjunto de jogadores que ofereciam bastantes garantias, apesar da lesão de Simão e do doping de Quim e Kenedy. Pauleta era o titular na frente de ataque, mas Nuno Gomes marcava sempre que jogava pela seleção. Ricardo tinha sido o dono da baliza durante a qualificação, mas Vítor Baía roubou-lhe o lugar no estágio que antecedeu a fase final. João Pinto tinha feito uma grande temporada no Sporting. Rui Costa, Pedro Barbosa, Sérgio Conceição e Capucho viviam bons momentos e faziam crer que Portugal tinha fantásticas soluções para as posições de apoio ao ponta de lança. Contudo, novo desaire, mas frente à Coreia do Sul, deitou tudo por terra – pelo meio, uma goleada imposta à Polónia.

Ronaldo, o estranho penteado e a apurada técnica de remate 
Quem acabou por vencer esse Mundial foi o Brasil, catapultado pela veia goleadora de Ronaldo, que se apresentou na Ásia com um dos penteados mais estranhos que alguma vez vi: uma espécie de retângulo de cabelo numa cabeça que, de resto, se encontrava completamente rapada. Foi a primeira vez que vi o Fenómeno.  Depois das graves lesões, já não era o futebolista genial que cavalgava pelo meio-campo adversário ao serviço do Barcelona, mas era tremendo na cara do guarda-redes. Com o peito no pé, colocava friamente a bola onde sabia que nenhum guardião era capaz de chegar. Oliver Kahn que o diga. Ainda tenho gravado em VHS toda a final entre Brasil e Alemanha, que culminou com a vitória canarinha por 2-0 – dois golos de Ronaldo, pois claro.


Mas houve mais: as arbitragens escandalosas que empurraram a Coreia do Sul rumo às meias-finais e o fantástico golo de livre direto do brasileiro Ronaldinho ao inglês David Seaman (ao qual assisti praticamente durante um pequeno-almoço) continuam bem presentes na minha memória.









E para o caro leitor, qual foi o primeiro Mundial de que tem memória? E quais foram os melhores e mais marcantes jogos de sempre da prova?

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