Portugal voltou a ser campeão da Europa de sub-17 |
Treze anos depois, uma Seleção
Nacional portuguesa de futebol 11 voltou a vencer uma grande competição.
Curiosamente, mais uma vez foi a de sub-17, que tal como em 2003 venceu o
Campeonato da Europa.
Quando tamanho sucesso é alcançado,
é normal que se olhe para os principais jogadores da equipa e se lhes augure um
grande futuro. Há quem lhe chame a nova geração de ouro do futebol nacional. Se
vai ser ou não, teremos que esperar para ver, até porque nem sempre estes
resultados querem dizer grande coisa. Recordemos que Márcio Sousa era o grande
craque dos sub-17 que venceram o Europeu de 2003, em Viseu, e hoje nem sabemos
por onde anda.
Estes meninos que Hélio Sousa
guiou ao título têm como principal particularidade o facto de atuarem no
escalão acima. Ou seja, têm idade de juvenis, mas alinham quase todos nos
juniores. Estão habituados a jogos que exigem uma intensidade maior, um maior
tempo de jogo e onde os adversários estão mais desenvolvidos fisicamente ao
nível de todas as capacidades motoras. Basicamente, têm queimado etapas e,
nisso, têm-se revelado uns autênticos homens.
Isto só é possível com a
existência das equipas B. Com quase 50 jornadas de II Liga e competições como a
Youth League, os treinadores destas formações secundárias acabam por se
socorrer dos juniores, que também queimam etapas. Assim sendo, sobra espaço
para juvenis alinharem pelos juniores e ficam todos a ganhar, ao jogarem a um
nível mais exigente.
Sem surpresa, os agora campeões
europeus de sub-17 revelaram, durante todo o torneio, uma intensidade difícil
de acompanhar por parte dos adversários, fazendo valer o facto de jogarem um
escalão acima.
Se isto explica tudo? Claro que
não. É preciso talento, e esta Seleção tem jogadores bem interessantes.
Defesa à moda do Porto com tempero de Vinagre
Olhando para os jogadores mais
recuados desta jovem equipa, salta à vista o facto de o guarda-redes e três
defesas se chamarem Diogo. Desportivamente, até podia querer dizer uma nulidade,
não jogassem os quatro no FC Porto.
O guarda-redes Diogo Costa
(FC Porto) apenas sofreu um golo durante todo o Europeu. Raramente teve
trabalho, mas isso só fez sobressair a sua concentração nas escassas ocasiões
em que teve de intervir. Sempre muito atento e seguro, até a jogar com os pés,
tem a particularidade de já ter sido chamado por Rui Jorge para a Seleção
Olímpica, mesmo só tendo 16 anos.
À sua frente, dois colegas de
clube. Diogo Queirós (FC Porto) começou o torneio algo intranquilo,
talvez acusando o peso da braçadeira de capitão, mas quando assentou
psicologicamente revelou-se um autêntico patrão na defesa, com muita qualidade
no futebol aéreo.
Diogo Leite (FC Porto) não
ficou atrás do companheiro de eixo defensivo, mostrando-se irrepreensível ao
longo da competição, com muita segurança e capacidade de se impor nas alturas.
O esquerdino Luís Silva
(Stoke City) também foi a jogo, mas não teve hipóteses de destronar a dupla
portista.
Rúben Vinagre é um dos principais talentos desta geração |
No lado direito da defesa, mais
um Diogo, Diogo Dalot (FC Porto). É um lateral ofensivo, prova disso os
golos que marcou tanto na meia-final como na final, a concluir da melhor forma
subidas pelo corredor. Remata forte, o que até lhe dá capacidade para executar
livres.
No flanco oposto, brilhou Rúben
Vinagre (Mónaco). Extremo de origem, faz lembrar Fábio Coentrão pelo estilo
aguerrido, velocidade e pela forma como dá profundidade à faixa esquerda. Cruza
bem, tendo feito várias assistências, e executou inúmeras bolas paradas.
Como alternativa para ambos os
corredores, o fiável Thierry Correia (Sporting), um polivalente e
consistente lateral que tanto jogou à direita como à esquerda.
Ao ataque com as asas e o bico da águia
Dos seis jogadores habitualmente
titulares do meio-campo para a frente no 4x3x3 de Hélio Sousa, cinco são do
Benfica. Uma base que se revelou de sucesso para a conquista do título.
Comecemos pelo médio mais
recuado, Florentino Luís (Benfica), um dos jogadores mais fulcrais desta
jovem formação. É daqueles trincos que consegue dar verticalidade ao jogo
coletivo através do passe e que gosta de pegar na bola a partir de zonas
recuadas para iniciar a construção dos ataques. Mas além da qualidade técnica,
também é muito forte na componente tática, estando constantemente preocupado em
ocupar rapidamente os melhores terrenos para pisar, quer ofensiva como
defensivamente. É igualmente um exímio recuperador de bolas e uma peça-chave no
que concerne ao equilíbrio da equipa. Um dos que mais impressionou durante o
torneio, sem dúvida.
À sombra de Florentino estava João
Lameira (FC Porto), que deu conta do recado quando foi chamado a atuar,
ainda que sem a mesma qualidade e versatilidade que o companheiro.
Outra surpresa bastante agradável
foi Gedson Fernandes (Benfica). Não é um daqueles médios bastante
rotativos, mas tem uma grande precisão de execução. Passa e protege bem a bola,
e ainda tem um remate fortíssimo e colocado, que gosta de experimentar a média
distância.
Domingos Quina agarrou a titularidade com unhas e dentes |
Como terceiro médio, Domingos
Quina (West Ham) foi outro dos destaques. Até nem começou o torneio como
titular, mas agarrou a titularidade assim que começou a mostrar o seu perfume
futebolístico na reta final do primeiro encontro. Filho do antigo central
benfiquista Samuel, exibiu grande qualidade técnica e uma boa chegada à área.
Deu criatividade à zona central através do drible e da fantasia, recursos
utilizados para ultrapassar situações de inferioridade numérica. Joga bem com
os dois pés e também pode atuar nas alas.
Para Domingos Quina ganhar o seu
espaço, foi Miguel Luís (Sporting) a perdê-lo, mas desengane-se quem
pense que o rebento do antigo lateral da Académica, Nuno Luís, não brilhou no
Europeu. Trata-se de um médio box-to-box,
responsável pela ligação entre os setores. É quem vai buscar a bola junto dos
defesas e entrega-a nos avançados, sempre com grande qualidade. É um excelente
executante de passes e de remates, gostando de testar os últimos de fora da
área.
Mais adiantado, nas alas, Mésaque
Djú (Benfica) foi quase sempre titular, mas não se pode dizer propriamente
que tenha feito um grande Europeu. Foi aparecendo esporadicamente a causar desequilíbrios
durantes os jogos. É rápido, pode alinhar tanto à direita como à esquerda, mas
a ideia que dá é que não exprimiu o seu melhor futebol.
Bem diferente foi a forma como João
Filipe (Benfica) lidou com um palco chamado Campeonato da Europa. Também
não terá brilhado tanto como podia, até porque não marcou qualquer golo, mas
conseguiu exibir os seus dotes técnicos. É um autêntico fantasista, um
malabarista com a bola nos pés, bastante criativo e que dá espetáculo. Um
regalo para os olhos do adepto do futebol.
Utilizado em cinco dos seis encontros
foi Rafael Leão (Sporting), mas limitando-se quase sempre à ponta final
de cada partida, não tendo muito tempo de jogo para mostrar o seu potencial.
No eixo do ataque, a grande
sensação da Seleção Nacional, o artilheiro José Gomes (Benfica). Apontou
sete golos em seis jogos, sendo que cinco foram de cabeça. É fortíssimo no jogo
aéreo, embora não seja muito alto (1,77m). A forma como lê bem o jogo e
identifica o espaço que tem de atacar e o timing
correto para o fazer é que determina a sua finalização. Também é bastante móvel
e joga bem de costas para a baliza. Quando aparece alguém com estes registos
num país futebolístico que não tem primado por ter grandes pontas de lança, é
normal que sejam depositadas grandes esperanças, mas no que toca a este caso é
preciso ter bastante calma, porque quando ascender a sénior não terá tanta
facilidade em enganar os defesas. Cá estaremos para ver.
Bem menos afortunado foi Mickael
Almeida (Lyon), que alinhou em apenas três encontros e não marcou qualquer
golo.
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