quarta-feira, 15 de junho de 2016

Meninos que são homens a queimar etapas

Portugal voltou a ser campeão da Europa de sub-17
Treze anos depois, uma Seleção Nacional portuguesa de futebol 11 voltou a vencer uma grande competição. Curiosamente, mais uma vez foi a de sub-17, que tal como em 2003 venceu o Campeonato da Europa.

Quando tamanho sucesso é alcançado, é normal que se olhe para os principais jogadores da equipa e se lhes augure um grande futuro. Há quem lhe chame a nova geração de ouro do futebol nacional. Se vai ser ou não, teremos que esperar para ver, até porque nem sempre estes resultados querem dizer grande coisa. Recordemos que Márcio Sousa era o grande craque dos sub-17 que venceram o Europeu de 2003, em Viseu, e hoje nem sabemos por onde anda.


Estes meninos que Hélio Sousa guiou ao título têm como principal particularidade o facto de atuarem no escalão acima. Ou seja, têm idade de juvenis, mas alinham quase todos nos juniores. Estão habituados a jogos que exigem uma intensidade maior, um maior tempo de jogo e onde os adversários estão mais desenvolvidos fisicamente ao nível de todas as capacidades motoras. Basicamente, têm queimado etapas e, nisso, têm-se revelado uns autênticos homens.

Isto só é possível com a existência das equipas B. Com quase 50 jornadas de II Liga e competições como a Youth League, os treinadores destas formações secundárias acabam por se socorrer dos juniores, que também queimam etapas. Assim sendo, sobra espaço para juvenis alinharem pelos juniores e ficam todos a ganhar, ao jogarem a um nível mais exigente.

Sem surpresa, os agora campeões europeus de sub-17 revelaram, durante todo o torneio, uma intensidade difícil de acompanhar por parte dos adversários, fazendo valer o facto de jogarem um escalão acima.

Se isto explica tudo? Claro que não. É preciso talento, e esta Seleção tem jogadores bem interessantes.


Defesa à moda do Porto com tempero de Vinagre


Olhando para os jogadores mais recuados desta jovem equipa, salta à vista o facto de o guarda-redes e três defesas se chamarem Diogo. Desportivamente, até podia querer dizer uma nulidade, não jogassem os quatro no FC Porto.

O guarda-redes Diogo Costa (FC Porto) apenas sofreu um golo durante todo o Europeu. Raramente teve trabalho, mas isso só fez sobressair a sua concentração nas escassas ocasiões em que teve de intervir. Sempre muito atento e seguro, até a jogar com os pés, tem a particularidade de já ter sido chamado por Rui Jorge para a Seleção Olímpica, mesmo só tendo 16 anos.

À sua frente, dois colegas de clube. Diogo Queirós (FC Porto) começou o torneio algo intranquilo, talvez acusando o peso da braçadeira de capitão, mas quando assentou psicologicamente revelou-se um autêntico patrão na defesa, com muita qualidade no futebol aéreo.
Diogo Leite (FC Porto) não ficou atrás do companheiro de eixo defensivo, mostrando-se irrepreensível ao longo da competição, com muita segurança e capacidade de se impor nas alturas.
O esquerdino Luís Silva (Stoke City) também foi a jogo, mas não teve hipóteses de destronar a dupla portista.

Rúben Vinagre é um dos principais talentos desta geração
No lado direito da defesa, mais um Diogo, Diogo Dalot (FC Porto). É um lateral ofensivo, prova disso os golos que marcou tanto na meia-final como na final, a concluir da melhor forma subidas pelo corredor. Remata forte, o que até lhe dá capacidade para executar livres.
No flanco oposto, brilhou Rúben Vinagre (Mónaco). Extremo de origem, faz lembrar Fábio Coentrão pelo estilo aguerrido, velocidade e pela forma como dá profundidade à faixa esquerda. Cruza bem, tendo feito várias assistências, e executou inúmeras bolas paradas.
Como alternativa para ambos os corredores, o fiável Thierry Correia (Sporting), um polivalente e consistente lateral que tanto jogou à direita como à esquerda.


Ao ataque com as asas e o bico da águia


Dos seis jogadores habitualmente titulares do meio-campo para a frente no 4x3x3 de Hélio Sousa, cinco são do Benfica. Uma base que se revelou de sucesso para a conquista do título.

Comecemos pelo médio mais recuado, Florentino Luís (Benfica), um dos jogadores mais fulcrais desta jovem formação. É daqueles trincos que consegue dar verticalidade ao jogo coletivo através do passe e que gosta de pegar na bola a partir de zonas recuadas para iniciar a construção dos ataques. Mas além da qualidade técnica, também é muito forte na componente tática, estando constantemente preocupado em ocupar rapidamente os melhores terrenos para pisar, quer ofensiva como defensivamente. É igualmente um exímio recuperador de bolas e uma peça-chave no que concerne ao equilíbrio da equipa. Um dos que mais impressionou durante o torneio, sem dúvida.
À sombra de Florentino estava João Lameira (FC Porto), que deu conta do recado quando foi chamado a atuar, ainda que sem a mesma qualidade e versatilidade que o companheiro.

Outra surpresa bastante agradável foi Gedson Fernandes (Benfica). Não é um daqueles médios bastante rotativos, mas tem uma grande precisão de execução. Passa e protege bem a bola, e ainda tem um remate fortíssimo e colocado, que gosta de experimentar a média distância.

Domingos Quina agarrou a titularidade com unhas e dentes
Como terceiro médio, Domingos Quina (West Ham) foi outro dos destaques. Até nem começou o torneio como titular, mas agarrou a titularidade assim que começou a mostrar o seu perfume futebolístico na reta final do primeiro encontro. Filho do antigo central benfiquista Samuel, exibiu grande qualidade técnica e uma boa chegada à área. Deu criatividade à zona central através do drible e da fantasia, recursos utilizados para ultrapassar situações de inferioridade numérica. Joga bem com os dois pés e também pode atuar nas alas.

Para Domingos Quina ganhar o seu espaço, foi Miguel Luís (Sporting) a perdê-lo, mas desengane-se quem pense que o rebento do antigo lateral da Académica, Nuno Luís, não brilhou no Europeu. Trata-se de um médio box-to-box, responsável pela ligação entre os setores. É quem vai buscar a bola junto dos defesas e entrega-a nos avançados, sempre com grande qualidade. É um excelente executante de passes e de remates, gostando de testar os últimos de fora da área.

Mais adiantado, nas alas, Mésaque Djú (Benfica) foi quase sempre titular, mas não se pode dizer propriamente que tenha feito um grande Europeu. Foi aparecendo esporadicamente a causar desequilíbrios durantes os jogos. É rápido, pode alinhar tanto à direita como à esquerda, mas a ideia que dá é que não exprimiu o seu melhor futebol.
Bem diferente foi a forma como João Filipe (Benfica) lidou com um palco chamado Campeonato da Europa. Também não terá brilhado tanto como podia, até porque não marcou qualquer golo, mas conseguiu exibir os seus dotes técnicos. É um autêntico fantasista, um malabarista com a bola nos pés, bastante criativo e que dá espetáculo. Um regalo para os olhos do adepto do futebol.
Utilizado em cinco dos seis encontros foi Rafael Leão (Sporting), mas limitando-se quase sempre à ponta final de cada partida, não tendo muito tempo de jogo para mostrar o seu potencial.

No eixo do ataque, a grande sensação da Seleção Nacional, o artilheiro José Gomes (Benfica). Apontou sete golos em seis jogos, sendo que cinco foram de cabeça. É fortíssimo no jogo aéreo, embora não seja muito alto (1,77m). A forma como lê bem o jogo e identifica o espaço que tem de atacar e o timing correto para o fazer é que determina a sua finalização. Também é bastante móvel e joga bem de costas para a baliza. Quando aparece alguém com estes registos num país futebolístico que não tem primado por ter grandes pontas de lança, é normal que sejam depositadas grandes esperanças, mas no que toca a este caso é preciso ter bastante calma, porque quando ascender a sénior não terá tanta facilidade em enganar os defesas. Cá estaremos para ver.
Bem menos afortunado foi Mickael Almeida (Lyon), que alinhou em apenas três encontros e não marcou qualquer golo. 





Sem comentários:

Enviar um comentário