O futebol italiano está longe de viver uma
fase gloriosa. Aquele país que a nível de clubes conquistou dezoito (!)
competições europeias nos anos 90, perdeu o 3º lugar do Ranking UEFA para a
Alemanha e atualmente só leva (no máximo) três equipas à Liga dos Campeões,
prova na qual não insere nenhuma equipa nas meias-finais desde 2010.
Mas nem estudo está mau nesta potência futebolística.
A conquista do Mundial em 2006 foi procedida pelo caso de corrupção Calciocaos, e por insucessos da sua
seleção nas seguintes edições de Campeonato da Europa, do Mundo e da Taça das
Confederações.
Depois apareceu Cesare Prandelli, antigo
treinador da Fiorentina, que assumiu o cargo de selecionador e transfigurou a squadra azzurra, pegando na espinha
dorsal da campeã invicta da Serie A em 2011/12, a Juventus: Buffon, Bonucci,
Barzagli, Chiellini, Pirlo, Marchisio e Giaccherini.
Com estes e outros jogadores, se construiu
uma Itália vice-campeã europeia em 2012 e medalha de bronze da Taça das
Confederações em 2013, renascida para a alta-roda do futebol.
No entanto, o que se destaca nesta
renascida seleção transalpina é a sua versatilidade tática, adaptando-se às características
do adversário, sem receio de que para que isso aconteça, tenha que ser alterada
meia-equipa.
Na estreia do EURO 2012, diante de Espanha
(1-1), apresentou-se num 3x5x2. A novidade foi De Rossi (Roma) no eixo da
defesa, coadjuvado pelos bianconeros
Bonucci e Chiellini. Depois uma linha de três: nas faixas os flanqueadores
Maggio (Nápoles) e Giaccherini faziam os dois corredores por completo, e no
centro, estava Pirlo, protegido por Marchisio e Thiago Motta (PSG) à sua frente,
o pivot defensivo de quem saíam
precisos passes de rotura para o ataque. No ataque, Cassano (Milan/Inter) e
Balotelli (Man. City/Milan) ou Di Natale (Udinese) tinham a função de aparecer
nos espaços a ser eficazes na finalização.
Ao longo dessa competição, o sistema
voltou a alterar-se, para um 4x4x2 losango. A presença de Buffon na baliza era
uma constante. Depois, como Maggio e Giaccherini eram demasiado ofensivos e não
garantiam equilíbrios, Abate (Milan) e Chiellini ou Balzaretti (Palermo/Roma)
eram os laterais, e Bonucci e Barzagli os centrais. No miolo, Pirlo manteve-se
como pivot defensivo, desta vez
protegido por um mais adiantado De Rossi, e também por Marchisio. Na posição “10”,
Montolivo (Fiorentina/Milan), e no ataque, os homens que já o ocupavam
anteriormente. Menos futebol pelo flanco, mas mais libertada para as unidades
mais ofensivas.
No jogo inaugural da Taça das Confederações
(frente ao México, 2-1), Prandelli voltou a apresentar um sistema raro no
futebol atual: 4x3x2. Na defesa a única novidade em relação ao Europeu foi o
lateral-esquerdo De Sciglio, que foi aparecendo no AC Milan. Depois uma linha
de três médios recuados: Pirlo, De Rossi e Montolivo: o primeiro é o que tem
mais qualidade de passe (curto e longo), o segundo é o mais pressionante e o
terceiro é o menos posicional, o homem que aparece em zonas mais adiantadas.
À frente deste trio, e ocupando uma posição
interior no apoio ao ponta-de-lança (Balotelli), estava a dupla
Marchisio/Giaccherini, com liberdade para atacar e libertos de intensas tarefas
defensivas. Os flancos estavam entregues aos laterais, daí, três médios de
cobertura.
No mal sucedido encontro diante do Brasil
(2-4), novo sistema, o mais europeu e na moda 4x2x3x1. Sem De Rossi e Pirlo,
lesionados, os escolhidos para o duplo pivot
foram Aquilani (Milan/Fiorentina) e Montolivo, com menor capacidade de exercer
pressão e menos precisão de passe. No apoio ao ponta-de-lança, Candreva (Lazio)
e Marchisio nos flancos, e Diamanti (Bolonha), portador de um belíssimo pé
esquerdo, no meio.
Na semifinal, contra Espanha (derrota nas
grandes penalidades, depois de 0-0), Prandelli volta a utilizar três defesas,
mas desta vez em 3x4x2x1. O trio defensivo era exclusivo da Juventus, Maggio e
Giaccherini ocupavam-se por completo dos flancos, e depois duas linhas no
centro do miolo: De Rossi e Pirlo atrás, e Candreva e Marchisio à frente. Com a
ausência de Balotelli, Gilardino (Bolonha) foi o avançado. E diga-se de
passagem que o meio-campo bastante povoado serviu para anular o tiki-taka de La Roja, quebrando apenas no prolongamento, em que o cansaço pesou.
No entanto, desengane-se que os transalpinos passaram o jogo atrás da bola.
Por fim, recordo também a segunda parte de
um particular que a squadra azzurra
efetuou em Março frente ao Brasil (2-2), em Genebra. O sistema utilizado foi o
4x3x3, com De Rossi a assumir o papel de trinco, acompanhado de Montolivo e
Giaccherini como médios interiores, e um trio de atacantes formados pelos
extremos Cerci (Torino) e El Shaarawy (Milan), ambos com bastante tendência
para fletir para zona central, e ‘Super Mario’ no eixo. Para quem não viu o
jogo, os italianos estavam a perder por 0-2 ao intervalo… Ainda assim, o baixar
de forma do ‘Faraó’ e por se tratar de uma tática mais arrojada, não foi
utilizada em encontros mais a sério.
Dito isto, tempo para balanço: 22
jogadores e seis sistemas mencionados, pódio nas duas últimas competições em
que participou e no bom caminho para garantir o apuramento para o Mundial 2014.
Que outra seleção consegue ser tão versátil?
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