A meio da tarde de hoje, estava em fazendo “zapping” no facebook quando me deparo com o link de um artigo na edição online do Jornal do Barreiro (http://www.jornalbarreiro.com/new.php?category=7&id=7841) em que uma nova estudante do ensino superior se mostra contra as praxes.
Depois de ter sido praxado
no ano transacto e de ter praxado ainda na semana passada, tive curiosidade e resolvi
ler tal testemunho, porque apesar de ter estado envolvido dos dois lados da barricada
dessa fase da vida académica, creio que quem é “anti-praxe” terá as suas razões,
os seus argumentos por detrás da decisão e tudo isso merece ser respeitado, e não
será por isso que será “fraquinha, esquisita,
aquela-que-não-gosta-de-brincadeiras”, eu próprio, em outras circunstâncias,
poderia ter-me declarado contra esse ritual, tive sempre oportunidades para tal,
antes e durante, e não acho que desistir seria um ato de cobardia caso não estivesse
contente, antes pelo contrário, seria um ato de coragem dar um passo em frente e
mostrar o seu desacordo perante uma plateia de futuros colegas, no entanto, tudo
foi feito com o meu consentimento.
Mas centremos-mos na ideia
principal do texto, elaborado por uma jovem que posteriormente fiquei a saber que
seria até minha colega de escola, ainda que em outro curso, as praxes como um método
de integração completamente inadequado. Será bem assim? Não estou de acordo. Respeito todas as opiniões,
mas por favor, é escusado vendê-las como verdades absolutas.
A minha atual condição de
veterano, permite-me ter um olhar experiente sobre este tema, porque tal como já
o disse anteriormente, estive nos dois lados, e percebi completamente o objetivo
da praxe e o caminho pelo qual passámos para chegar a esse objetivo.
Dou um exemplo concreto: Sempre
que vou a almoços de família ou a casamentos, tenho familiares mais próximos a impingirem
que fale com os primos (da minha idade) mais afastados, que nunca vi na vida, como
se houvesse um assunto, como se houvesse uma completa desinibição, como se a nossa
condição de primos/colegas fosse suficiente para automaticamente significar boa
relação ou amizade. Será que os métodos de integração desses parentes chegados são
os mais adequados? Não creio.
A 26 de Setembro de 2011 cheguei
ao primeiro dia de praxes não conhecendo ninguém, estando completamente mudo, rodeado
de futuros colegas de vários pontos do país, com diferentes trajetos de vida, com
personalidades distintas, sem motivo algum de conversa, até que ao fim do dia, com
um fato de fuzileiro sobre o corpo repleto de polpa de tomate, farinha, vinagre,
ovos e outros ingredientes começam a surgir as primeiras conversas, sem a inibição
como se de um primo afastado se tratasse: “estás todo sujo nas costas!”, “Como vais
tirar isso do cabelo?”, “Lava-te com água fria!”, “Ainda vou ter de apanhar o comboio…”
ou “O que os meus pais dirão disto?”, assim como as primeiras risadas, as primeiras
conversas sem o receio de usar o tal “mais baixo calão” que os jovens, entre si,
em diálogos do dia-a-dia, usam e abusam de uma forma absolutamente natural.
De realçar que os tais cânticos de linguagem menos própria não são feitos despropositadamente,
têm o seu nexo, todos eles, ou pelo menos a sua esmagadora parte, defendem e propagam
o curso, reforçam os valores da união, espírito de grupo e orgulho em pertencer,
no meu caso, a Comunicação Social.
Foram estes fatores associados que viram nascer belas amizades na minha e em outras
turmas, desenvolvidas certamente de uma forma mais rápida (e nem por isso menos
conseguida) do que se o primeiro contacto entre caloiros fosse num dia de aulas,
em que cada um se apresentaria, ouviria uma palestra do professora e voltasse a
casa, pronto para mais uma jornada escolar no dia seguinte, com praticamente mais
do mesmo, até que lentamente se desenvolvam laços.
Obviamente que situações de
humilhação são faladas, e porquê? Porque os milhares de praxes por esse país fora
que correm normalmente nunca serão (e compreensivelmente) considerados motivos para
uma notícia, nunca veremos uma peça jornalística sobre a ocorrência deste ritual
sem qualquer tipo de incidentes em jornais e canais de quaisquer dimensões, no entanto,
quando as coisas correm para o torto, sabe-se logo.
Ainda assim, avancemos mais
no texto, onde encontramos expressões interessantes como “desejo recalcado de impor regras e mandar no que quer que seja
porque nunca tiveram oportunidade e o fazer na vida quotidiana” ou “outros
gostam de praxar porque, claro, querem ver os outros sofrerem o que eles
próprios já sofreram”, que sinceramente, não são totalmente erradas, existe
pessoas que efetivamente correspondem a esta descrição, de forma absoluta, grupo
ao qual eu e a maioria dos meus camaradas não pertence, porque não me dá gozo nenhum
ver pessoas a fazer coisas sem nexo algum só para me sentir poderoso, mesmo na vida
quotidiana, gosto que as pessoas atuem em relação à minha pessoa devido ao seu bom
senso, à sua capacidade de integração num coletivo, à necessidade de agir corretamente
e de ser solidário, do que por tal ser imposto. Portanto, depois de ler a maior
barbaridade do texto, que passo a citar “não há nenhum que praxe com a intenção
de integrar o caloiro no ambiente académico”, passo a apresentar-me, chamo-me
David Pereira, tenho 20 anos, e sou estudante de 2º ano de Comunicação Social, ramo
de Jornalismo, na mesmíssima Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico
de Setúbal, e a minha intenção, tal como a esmagadora maioria dos meus colegas,
foi mesmo essa, a integração dos caloiros (que o digam os próprios, aqui no blogue
há comentários abertos e a possibilidade de se ficar pelo anonimato), preocupação
essa que nestas praxes se superiorizou mesmo até ao incutir de respeito pelo traje
e de ser veterano, algo que penso eu, terá sido passado na mesma para a nova geração.
Posto isto, mais uma vez reforço
o meu respeito por quem se declara “anti-praxe”, é completamente legitimo, e nem
sempre é fácil lidar com sujidade, certas atividades, gritos, submissão a outros
(num sentido bastante parcial), desgaste e ainda a pressão dos pais, no entanto,
cuidado com as bases falsas com as quais não se conseguem construir argumentos sólidos,
já cansa que opiniões como algumas exprimidas no texto desta minha colega de escola,
assim como de professores e outros agentes, entre as quais, que apelidam estes rituais
como “práticas pré-históricas”, sejam vistas como verdades absolutas de quem se
guia apenas pelo que lê nos jornais (onde só são publicadas as “anormalidades”)
e apanha conversas a meio.
parabens pelo texto puto ;)
ResponderEliminarmuito bom
Só sabe quem sente... Não é tudo farinha do mesmo saco. Se há gente a participar de livre e espontânea vontade, fazendo até o sacrifício de se levantar cedo para estar presente é porque não é tão negro como fazem parecer.
ResponderEliminarÀs vezes é melhor estar calado, normalmente quando se fala do que não se sabe costumam sair disparates. E se cada pessoa conseguisse formar o seu juízo de valor face a qualquer situação na vida ao invés de se seguir pelo dos outros acho que viveríamos num mundo melhor. Temos cabeça para alguma coisa...
Bom texto David!
Totalmente de acordo com o texto, o artigo foi escrito sem qualquer nexo. Como é que uma pessoa que apenas vê, pode falar como se tivesse vivido a praxe? Adorei ser praxado e hoje como praxante vejo UMA ENORME alegria sempre que há praxes nas pessoas que vão ser praxadas. Não se trata de uma guerra anti/a favor das praxes, cada um tem as suas ideias, o grande problema prende-se que mesmo não se identificando com a praxe não se deve abrir um artigo num jornal publico a injuriar a mesma.
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