sábado, 4 de janeiro de 2020

A minha primeira memória de... um jogo entre Benfica e V. Guimarães

O momento trágico do jogo de Guimarães a 25 de janeiro de 2004
Comecei a acompanhar futebol em meados de 2000 mas não me recordo nem das goleadas impostas pelo Benfica em novembro de 2000, março de 2002 e junho de 2003 nem dos desacatos do empate a um golo em Felgueiras em janeiro de 2003. Pode até parecer propositado, mas embora tenha uma vaga ideia de um ou de outro jogo, a minha real primeira memória de um jogo entre as águias e o Vitória de Guimarães remonta à fatídica noite de 25 de janeiro de 2004, marcada pela morte de Miki Fehér.


Esse é dos tais acontecimentos inesquecíveis, daqueles em que inclusivamente nos lembramos onde estávamos àquela hora. E eu estava a jogar Championship Manager no computador, alguns metros ao lado da televisão através da qual o meu pai assistia ao jogo, depois de uma tarde passada a assistir ao vivo a um jogo da II Divisão B ou da II Divisão.

Lembro-me de que a noite estava chuvosa em Guimarães e que o empate a zero resistiu até ao minuto 90, quando Fernando Aguiar introduziu a bola na baliza vimaranense na sequência de uma série de ressaltos, com Fehér a ser um dos que tocou na bola antes de esta chegar ao luso-canadiano.


Logo a seguir, Fehér foi advertido com o cartão amarelo por impedir um lançamento lateral dos minhotos e é então que oiço o meu pai: “O rapaz ou morreu ou não sei”. É nessa altura que saio disparado da cadeira onde me encontrava para a frente do televisor, onde aparecia o avançado húngaro caído no relvado e vários jogadores a tentar fazer algo por ele. O n.º 29 das águias tinha acabado de cair de costas no relvado do D. Afonso Henriques, após esboçar um sorriso e baixar-se.

Um dos companheiros, creio que Tomo Sokota, procurou desde logo virá-lo de cabeça para baixo e desenrolar-lhe a língua. Outros não controlaram as emoções e levaram as mãos à cabeça e desataram a chorar compulsivamente, enquanto os médios e os bombeiros tentavam reanimar Fehér. Absolutamente arrepiante.


Entretanto, o jogador é levado para o hospital e sai do estádio debaixo de cânticos de incentivo e de uma ovação dos adeptos afetos às duas equipas. O jogo recomeça simbolicamente com o lançamento lateral que tinha ficado por fazer, mas Olegário Benquerença apitou imediamente depois para o final do jogo. Ninguém tinha cabeça para mais futebol, o que interessava era a vida do jogador, um jovem de 24 anos que estava em Portugal desde os 19, quando foi contratado pelo FC Porto.

Foi sem saber do desfecho das tentativas de salvar Miki Fehér que me fui deitar, ainda arrepiado com o que tinha acabado de ver. No dia a seguir, eu comemorava o meu 12.º aniversário, mas 26 de janeiro de 2004 começou com uma péssima notícia: a morte de Fehér. Quando se trata de uma tragédia como essa, não há clubismos que importem. É sempre triste e de lamentar.

Nos dias que se seguiram, a morte de Fehér foi o tema dominante no espaço mediático, tendo sido transmitido o velório no Estádio da Luz, que contou com a participação de figuras de diversos clubes, entre os quais dos rivais Sporting e Benfica.

Na altura da tragédia, o avançado húngaro estava algo insatisfeito no Benfica devido a pouca utilização e falava-se que poderia rumar ao Marítimo de Manuel Cajuda, treinador que já o tinha orientado e com sucesso no Sp. Braga, em 2000-01. “Toda a gente sabe que a minha preferência é ele, se eventualmente for dispensado pelo Benfica. A partir daí não sei de mais nada, pois tem tudo a ver com os clubes e o jogador. Já falei pessoalmente com ele duas ou três vezes, embora isso não conte muito numa eventual vinda”, confessou o técnico a 7 de janeiro de 2004. “Gosto muito dele e, se vier, será muito bom para mim, para o Marítimo e também para o Fehér. Essa é a minha primeira opção, apesar de haver outros jogadores referenciados. Trabalhei com ele e para mim é o melhor ponta-de-lança que está em Portugal”, acrescentou, citado pelo Record.






























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