Arnold bisou e foi o homem do jogo |
Depois da pesada derrota na
Madeira, diante do Marítimo (2-5), Quim Machado não foi de modas e fez cinco
alterações no onze, mexendo pela primeira vez no meio-campo e ataque. O que
aparentava ser um 4x4x2 clássico, com Dani e Rúben Semedo no duplo pivot, nem ficou muito percetível, uma
vez que logo no primeiro minuto Fábio Pacheco foi expulso e o jogador
emprestado pelo Sporting recuou para central.
O lance que ditou a expulsão de Fábio
Pacheco e a grande penalidade madrugadora assinalada a favor do V. Guimarães
(convertida em golo por Henrique Dourado) e a boa resposta do Vitória sadino
ilustram bem o que foi o jogo: apenas os de Setúbal jogaram.
Os minhotos, mesmo apanhando-se
em vantagem numérica e no marcador bem cedo, foram sempre uma equipa lenta, previsível
e com falta de objetividade, concentração e garra. Consequentemente, raramente
criaram (na verdadeira aceção do verbo criar) ocasiões de golo. A exceção foi
um remate de Josué ao poste, aos 7 minutos.
A apatia vimaranense espelha-se
até nos dois golos que marcou. O primeiro através de um penalty construído por um mau passe de Suk e talvez alguma falta de
frieza de Fábio Pacheco. O segundo no autogolo de Rúben Semedo, numa jogada que
aparentemente nem ia levar muito perigo. Ou seja, mais por demérito e
infelicidade dos de Quim Machado do que por mérito dos de Armando Evangelista.
Entre ambos os tentos dos de
Guimarães, uma grande exibição da equipa da casa, que não acusou
psicologicamente a dupla penalização ao minuto inaugural. A formação do Bonfim
(disposta em 4x4x1) mostrou crença e espírito de sacrifício, com muitos
jogadores a terem de se desdobrar dentro de campo e a terem de atuar em
posições que não são as suas e para as quais não iam preparados. Falo, por
exemplo, de Costinha, extremo improvisado médio-centro – improvisado é mesmo o
termo correto, uma vez que não se pode considerar sequer adaptado – e de André
Claro, que ora era extremo-esquerdo, ora era segundo avançado, numa missão de
grande desgaste.
Onze do Vitória durante 76 minutos |
Apesar dos elogios que têm de ser
feitos a praticamente todos os jogadores sadinos, foi Arnold o homem do jogo. Dá
para perceber que não é um grande prodígio do ponto de vista técnico, mas o
próprio está ciente das suas limitações e, especialmente das suas
potencialidades: grande velocidade e bom remate. Foi com essas armas que o
congolês foi à luta, e foi com elas que disparou dois tiros certeiros na baliza
de Douglas.
Voltou a faltar aos setubalenses
a estrelinha que os nortenhos continuam a ter. Os primeiros voltam a ceder um
empate caseiro a dois golos depois de terem estado em vantagem; os segundos
beneficiam novamente de um tento na própria baliza para somar pontos. Frente ao
Tondela foram três, no Bonfim um.
Se a uns os dois pontos perdidos
e novo encontro sem ganhar em casa acaba por ser atenuado pela exibição em
desvantagem numérica, a outros a felicidade e os pontos vão disfarçando um futebol
pobre. Nas contas dos de Setúbal, irão fazer falta estes pontos perdidos no
Bonfim? E para os de Guimarães, a necessitar de chicotada psicológica, até
quando os pontos vão sobreviver apesar da pobreza exibicional?
Ficha de jogo
I Liga – 3.ª jornada
Estádio do Bonfim, em Setúbal
Vitória (4x4x2): Ricardo; William Alves, Frederico Venâncio c, Fábio
Pacheco e Ruca; Arnold (Vasco Costa, 82), Rúben Semedo, Dani e Costinha (Paulo
Tavares, 77); Suk e André Claro (André Horta, 77)
Suplentes não utilizados: Raeder
(GR), François, Miguel Lourenço e Uli Dávila
Treinador: Quim Machado
Disciplina: Cartão amarelo
a Suk (12’ ),
Arnold (42’ ),
Rúben Semedo (70’ ),
Paulo Tavares (90+3’ )
e William Alves (90+4’ );
cartão vermelho direto a Fábio Pacheco (1’ )
Vit. Guimarães (4x2x3x1): Douglas c;
Bruno Gaspar, Josué, João Afonso e Breno (Arrondel, 36); Bouba Saré e Tozé;
Tomané, Montoya (Ricardo Gomes, 68) e Ricardo Valente (Licá, 54); Henrique
Dourado
Suplentes não utilizados: Assis
(GR), Pedro Henrique, Cafú e João Vigário
Treinador: Armando
Evangelista
Disciplina: Cartão amarelo
a Bouba Saré (30’ ),
João Afonso (39’ ),
Ricardo Valente (40’ ),
Tomané (41’ ),
Tozé (47’ )
e Arrondel (48’ )
Árbitro: Tiago Martins (AF Lisboa), assistido por André Campos e Paulo
Ramos e com Bruno Rebocho como 4.º árbitro
Golos
0-1, por Henrique Dourado
(2, g .p.).
Suk recebeu a bola a meio-campo, junto à linha lateral e, pressionado por
Montoya, foi recuando e atrasou-a para a sua área. No entanto, foi Henrique
Dourado que a recebeu e, quando já se isolava, foi derrubado por Fábio Pacheco.
Assinalada grande penalidade que o próprio Henrique Dourado converteu em golo,
atirando para o lado direito de Ricardo.
1-1, por Arnold (14). Costinha,
em missão defensiva, recuperou a bola junto à sua área e deixou-a em Arnold,
que recebeu-a ainda no seu meio-campo, desmarcou Suk na direita e correu em
velocidade para área, onde haveria de receber o passe do coreano, parar a bola
e rematar para o fundo das redes.
2-1, por Arnold (66). Costinha,
descaído para o lado direito, cruza para o coração da área, onde aparece Bruno
Gaspar a cortar de cabeça mas para uma zona onde estava Arnold que rematou
certeiro.
2-2, por Rúben Semedo (73,
p.b.). Ricardo Gomes, no lado direito, consegue passar por André Claro e Ruca,
ganhou posição e cruzou para o interior da área onde Rúben Semedo, ao primeiro
poste, desvia para a própria baliza, tendo a bola ainda batido em Ricardo.
Estatísticas (Vitória-V. Guimarães)
Posse de bola (%): 37-63
Ataques: 24-29
Remates: 9-17
Cantos: 4-4
Faltas cometidas: 20-15
Foras de jogo: 0-3
Apreciação individual
Ricardo: Regressou aos
jogos da Liga mais de um ano depois, somando a primeira titularidade da
temporada. Não teve um início feliz, ao sofrer um golo de grande penalidade
logo aos 2’ ,
embora ainda tenha adivinhado o lado para que a bola foi. Foi traído pelo
desvio infeliz de Rúben Semedo no 2-2 (73’ ). Ainda assim, exibição segura na estreia
com a camisola sadina, apesar do pouco trabalho que teve. Um acréscimo de
qualidade em relação a Raeder.
William Alves: Não deu grande
profundidade ao corredor e defensivamente esteve muitas vezes mal posicionado,
sendo bem visível que ainda se está a adaptar a uma nova posição. Parece-me
algo duro de rins, talvez precisando de perder algum peso. Para quando a estreia
de Gorupec?
Frederico Venâncio: Iniciou
um encontro na condição de capitão pela primeira vez em 2015/16. Patrulhou a
defesa, sempre com muita segurança e concentração. Vai mostrar ainda mais o que
vale quando estiver incorporado numa dupla de centrais com mais rotinas.
Fábio Pacheco: Ainda não
se tinha completado um minuto de jogo quando foi expulso por travar Henrique
Dourado, que seguia isolado. Pode discutir-se se podia ou não ter tido outra
abordagem ao lance, mas numa coisa não há dúvidas: o passe de Suk queimou-o.
Velocidade é a grande arma de Arnold |
Ruca: Pela primeira vez
com a camisola sadina atuou como lateral-esquerdo, posição na qual se destacou
na temporada transata ao serviço do Mafra. Vontade não lhe falta, apesar de
algumas debilidades técnicas e dificuldades de adaptação ao ritmo da Liga. Na
ausência de Nuno Pinto, foi o responsável pela execução de boa parte das bolas
paradas. Foi da sua autoria um livre direto muito bem marcado que obrigou
Douglas a grande defesa (39’ ).
Arnold: Mostrou serviço na
primeira vez que foi titular, ao apontar dois golos. No lance do primeiro,
desmarcou Suk e desmarcou-se a toda a velocidade para a área, para concluir o
lance (14’ ).
No segundo, aproveitou um mau corte de Bruno Gaspar para fuzilar Douglas (66’ ). Aposta na sua velocidade
para ultrapassar os adversários e gerar desequilíbrios, ao ponto de já lhe
chamarem Arnold Bolt. Mais: nunca se demitiu de tarefas defensivas, dobrando ou
fazendo a cobertura a William Alves.
Dani: Primeira titularidade
da época de um dos jogadores com mais anos de casa. Em relação à qualidade de
passe de Paulo Tavares, fica a perder. Já do ponto de vista defensivo, creio
que é melhor a ocupar os espaços. As faltas que comete são ainda longe da área
sadina, cortando potenciais ataques perigosos logo a meio-campo, não arriscando
assim cometê-las em zonas onde poderia ver cartão amarelo e originar livres
perigosos.
Rúben Semedo: Foi lançado
para o meio-campo, mas acabou por ter de fazer 89 minutos (mais a compensação)
a central, devido à expulsão de Fábio Pacheco. Impôs-se defensivamente pelo
físico, impulsão e bom posicionamento. Mostrou qualidade em sair a jogar,
embora não fique isento de maus passes. Não comprometeu e acabou por ser
infeliz ao desviar para a própria baliza um cruzamento de Ricardo Gomes (73’ ).
Costinha: Era para ter
atuado como extremo-esquerdo, mas com a equipa reduzida a dez passou para o
centro do meio-campo logo no minuto inaugural, em missão de sacrifício. Deu-se
bem na zona central, tendo, com bastante garra, recuperado a bola que originou
o lance do 1-1 (14’ ).
Voltou a estar na jogada do 2-1, ao fazer o cruzamento mal aliviado por Bruno
Gaspar (66’ ).
Cumpriu defensivamente como se jogasse nessa posição há muito tempo e, quando a
equipa recuperava o esférico, tentava deixá-lo jogável num companheiro.
Suk leva quatro golos e três assistências em 2015/16 |
Suk: Passe a queimar para
Fábio Pacheco originou a expulsão do central e a grande penalidade que daria o
0-1 (1’ ).
Tentou redimir-se pouco depois (4’ ),
com um remate ao lado. Aos 7’
não voltou a ficar bem na fotografia, ao permitir que Josué, no seu raio de
ação, rematasse ao poste. Recuperou o sorriso com a assistência para o 1-1 (14’ ). Sempre a tentar levar a equipa
para a frente.
André Claro: Embora fosse
o extremo-esquerdo no sistema de 4x4x1 com que a equipa jogou durante 76
minutos, apareceu muitas vezes no corredor central, como se desdobrasse em
segundo avançado. Mais um em missão de sacrifício.
Paulo Tavares: Refrescou o
meio-campo e ainda esteve perto de marcar, ao rematar forte para defesa de
Douglas (82’ ).
André Horta: Entrou cheio
de vontade, tentando dinamizar o processo ofensivo do Vitória na procura pelo
terceiro golo.
Vasco Costa: Estreia absoluta
na Liga para o ex-Fafe, ainda que com poucos minutos para se mostrar.
Outras notas
O lateral-esquerdo Nuno Pinto foi
expulso frente ao Marítimo e por isso falhou o jogo com o Vitória de Guimarães
por castigo.
Lukas Raeder, Paulo Tavares e
André Horta sentaram-se pela primeira vez no banco na presente temporada.
3.510 espetadores no Bonfim.
Atendendo que a partida foi uma sexta-feira à noite, que a equipa vinha de uma
derrota pesada e que até foi a melhor assistência da temporada, creio que se
pode falar em boa casa.
Sporting, Schalke, Sevilha, Celta, Rayo Vallecano, Villarreal, Granada, Chievo, Génova, Sassuolo, Nice e Toulouse estiveram no Bonfim a espiar.
Sporting, Schalke, Sevilha, Celta, Rayo Vallecano, Villarreal, Granada, Chievo, Génova, Sassuolo, Nice e Toulouse estiveram no Bonfim a espiar.
‘Opta Vitória’
Ricardo e Vasco Costa foram,
respetivamente, 19.º e 20.º jogadores a serem utilizados por Quim Machado nesta
temporada.
Suk e Frederico Venâncio (450
minutos) são os únicos totalistas da equipa.
Ruca foi titular nas cinco
primeiras jornadas da Liga mas apenas neste encontro jogou pela primeira vez os
90 minutos. Curiosamente, da única vez até há data em que atuou como
lateral-esquerdo.
Fábio Pacheco foi o primeiro
jogador na Liga a ser expulso por duas vezes nesta temporada. Já tinha
acontecido na parte diante da Académica, na 2.ª jornada. Assim sendo, vai
falhar a deslocação ao terreno do Nacional, na próxima ronda.
Terceiro jogo no Bonfim na
presente temporada, terceiro empate a dois. Já assim tinha sido nas receções a
Boavista (1.ª jornada) e Rio Ave (3.ª). Em todas o Vitória esteve a ganhar pelo
menos por 2-1.
Um duelo entre Vitórias já não
terminava empatado no Bonfim para a Liga desde 17 de agosto de 2009 (0-0).
É preciso recuar 14 anos para ver
o Vitória marcar doze (ou mais) golos nas primeiras cinco jornadas da Liga. Foi
em 2001/02 e o treinador chamava-se… Jorge Jesus.
Suk somou a terceira assistência
na temporada. Como marcou quatro golos, esteve em sete dos 12 remates certeiros
do Vitória em 2015/16.
É sempre bonito fazer blogs e Facebooks com fotografias que são trabalho dos outros!
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