Os nove sérvios que passaram pelo Farense antes de Stojiljkovic

Nove futebolistas sérvios que representaram o Sporting Clube Farense

É quase impossível falar dos anos dourados da história do Farense sem fazer qualquer menção a futebolistas sérvios, ainda que grande parte deles fossem designados por jugoslavos na altura. A presença de jogadores naturais da Sérvia no São Luís está intimamente ao período de 12 anos consecutivos na I Divisão, entre 1990 e 2002.

Porém, também é possível encontrar jogadores naturais desse país balcânico no percurso iniciado em 2006 e que haveria de recolocar os leões de Faro na I Liga em 2020.

Miroslav Curcic

O primeiro sérvio a jogar pelo Farense foi o avançado Miroslav Curcic, natural de Milenci, no norte do país, e proveniente do Antuérpia, clube pelo qual tinha disputado a Taça UEFA.

Logo na primeira época em Faro (1990-91), que marcava o regresso dos algarvios à I Divisão, destacou-se ao ponto de apontar 13 golos em 35 jogos em todas as competições – Vitória de Setúbal (dois), Gil Vicente (dois), Penafiel, Tirsense (dois), Benfica, Nacional, Vitória de Guimarães, Salgueiros e Sporting para o campeonato e Belenenses para a Taça de Portugal foram as vítimas de Curcic.

Entretanto transferiu-se para o Belenenses e passou pelo Estoril antes de regressar ao Farense no início de 1995. Já trintão e sem o fulgor da primeira passagem, disputou seis encontros oficiais, mas não marcou qualquer golo.

Depois rumou ao futebol alemão.

Haveria de falecer em agosto de 2017, aos 55 anos.

Milonja Djukic

O senhor que se seguiu foi Milonja Djukic, possante avançado natural de Ivangrado, em Montenegro, mas naturalizado sérvio. Curiosamente, chegou a Faro por indicação do amigo Curcic.

Contratado aos turcos do Trabzonspor em 1991, não era propriamente um goleador, mas ainda assim foi importante para a consolidação do Farense na I Liga durante a década de 1990.

Em sete temporadas no São Luís, apontou 31 golos, todos no campeonato, entre os quais um num empate em Alvalade diante do Sporting em janeiro de 1995 e o golo solitário numa vitória em casa sobre o Rio Ave que evitou a despromoção à II Liga em 1997-98.

“Jogadores algarvios misturados com estrangeiros de grande qualidade. Tínhamos grupos espetaculares. Você acredita que à quinta-feira jantávamos sempre juntos? Ninguém podia faltar. Esse espírito fez o grande Farense dos anos 90, muito por culpa também do Paco Fortes, um espetáculo à parte”, afirmou ao Maisfutebol em 2020.

“Fomos obrigados a ser competitivos, pressionantes, a ir para cima do adversário. Fosse o FC Porto, o Benfica ou outro qualquer, o Paco fazia a equipa crescer para eles”, acrescentou.

Após pendurar as botas Djukic radicou-se em Faro e tem dois filhos desportistas em Portugal, um basquetebolista profissional no CAB Madeira e outro que jogador de futebol amador no Inter Almancil.

Goran Stevanovic

Ainda durante a estadia de Djukic em Faro surgiu no São Luís o médio ofensivo Goran Stevanovic, natural de Mitrovica, uma vez internacional jugoslavo e com passado no poderoso Partizan de Belgrado, que em 1985-86 defrontou o Portimonense na Taça UEFA.

Proveniente do Osasuna, clube pelo qual disputou a I Liga espanhola, disputou 29 jogos oficiais e marcou quatro golos, diante de Boavista, FC Porto, Famalicão e Vitória de Guimarães, durante a temporada 1993-94. “Houve um rapaz jugoslavo, o Stevanovic. Esse era jogador, muito bom mesmo. Era um craque do futebol. Não precisava de treinar, só de jogar. Curiosamente, ganhámos 1-0 ao FC Porto com um golo de cabeça dele, que era o seu ponto mais fraco”, afirmou Paixão ao blogue Quantos Farenses Somos em março de 2014.

Depois prosseguiu a carreira no Vitória de Setúbal, tendo ainda jogado e Portugal ao serviço de Campomaiorense e União da Madeira.

Dragan Punisic

Mais tarde, no verão de 1995, o Farense reforçou-se com o médio Dragan Punisic, natural da capital Belgrado, proveniente do Beira-Mar e que tinha jogado nas competições europeias ao serviço dos conceituados Estrela Vermelha e Vojvodina.

Na temporada de estreia atuou em 20 partidas e marcou três golos, frente a Gil Vicente, Boavista e Campomaiorense, tendo ainda jogado a partida no terreno do Lyon a contar para a Taça UEFA.

Em 1996-97 participou em 23 jogos e faturou por quatro vezes, diante de Boavista, Sp. Braga, Marítimo e Benfica. E na terceira e última época disputou dez encontros e apontou um golo ao Salgueiros.

Zoran Mijanovic

Quando Djukic e Stevanovic deixaram o Farense, o guarda-redes Zoran Mijanovic, natural de Novi Sad, chegou ao São Luís proveniente do Vojvodina.

As duas primeiras épocas em Faro, 1998-99 e 1999-00, foram vividas na sombra de Candeias, não indo além de um total de 12 jogos e 16 golos sofridos na temporada de estreia e de oito partidas e 15 tentos encaixos na que se seguiu.

Depois beneficiou da saída do concorrente para o Famalicão para ganhar espaço, ainda que o espanhol Raul Iglésias não lhe tivesse dado tréguas. Em 2000-01 participou em 16 encontros e sofreu 18 golos e na temporada seguinte disputou 21 desafios e foi buscar 36 vezes a bola ao fundo das redes, não evitando a despromoção.

Após a descida de divisão rumou à Polónia para representar o Legia Varsóvia, mas em 2006-07 voltou ao Algarve para defender as cores do Olhanense.

Embora não tenha sido particularmente feliz em Faro, leva o Farense no coração, conforme deu conta aquando do regresso dos algarvios à I Liga em 2020. “Fiquei muito contente porque o Farense é um clube histórico e mítico no futebol português. O lugar do Farense é sempre a Primeira Liga. Tem de estar ao mais alto nível e a cidade merece ver jogos grandes contra Benfica, FC Porto e Sporting”, afirmou, em entrevista à Bola Branca.

Ivan Djurdjevic

Quem ainda foi a tempo de ser companheiro de equipa de Mijanovic foi o seu compatriota Ivan Djurdjevic, também natural de Belgrado, canhoto recrutado nos espanhóis do Ourense e que atuava preferencialmente como extremo esquerdo.

Habitual titular no Farense entre 2000 e 2002, na temporada de estreia disputou 32 jogos e marcou cinco golos, diante de Boavista, Belenenses, Alverca e Paços de Ferreira (dois).

Em 2001-02 manteve o estatuto, tendo atuado em 27 partidas e apontado quatro golos, frente a Sp. Braga, Paços de Ferreira, Beira-Mar e União de Leiria, não evitando a despromoção.

Depois prosseguiu a carreira no futebol português com as camisolas de Vitória de Guimarães e Belenenses.

Nikola Zugic

Entretanto o Farense caiu até aos distritais e foi-se levantando, tendo chegado à II Liga em 2013. Foi precisamente nessa altura que se reforçou com o médio defensivo Nikola Zugic, nascido em Belgrado, mas desde tenra idade radicado no Algarve, até porque o pai, Radoslav Zugic, jogou no Louletano entre 1991 e 1993.

Formado no Quarteirense e no Louletano, saltou da formação de Quarteira para a de Faro no verão de 2013, tendo disputado 22 jogos oficiais pelo emblema do São Luís em 2013-14.

Depois transferiu-se para o Santa Clara.

Os algarvios haveriam, entretanto, de descer ao Campeonato de Portugal em 2016 e regressar à II Liga em 2018. Após a subida ao segundo escalão reforçaram-se com dois jogadores sérvios, ambos com carimbo da formação do Partizan de Belgrado.

Vanja Markovic

O mais afortunado foi o médio defensivo Vanja Markovic, internacional sub-19 proveniente dos macedónios do Vardar Skopje, clube pelo qual disputou a fase de grupos da Liga Europa na época anterior.

Fluente em espanhol, acabou por ser utilizado em 22 jogos em todas as competições, ajudando a turma do São Luís a assegurar a permanência. Opção para o treinador Rui Duarte, mas não para o sucessor Álvaro Magalhães, rescindiu contrato ainda antes do final da temporada, em março de 2019, rumando depois ao campeonato da Hungria.

“A cidade é muito boa e as pessoas são muito simpáticas”, afirmou, em declarações ao site do Farense.

Milos Perisic

Também em 2018-19, fez parte do plantel do Farense o defesa central/esquerdo Milos Perisic, nascido em Knin, na Croácia, mas naturalizado sérvio.

Tapado por Bruno Sapo e Cássio no eixo defensivo e por Jorge Ribeiro na lateral canhota, não foi além de seis jogos em todas as competições.

“Faro é uma cidade muito boa para se viver. As pessoas são simpáticas…. Tem boa comida… Praia… Até agora achei uma cidade incrível e sinto-me feliz por cá estar”, afirmou, em declarações ao site do Farense.

Além destes nove sérvios, representaram ainda o Farense vários jogadores de países vizinhos: os montenegrinos Zoran Lemajic (1989 a 1992) e Zarko Draskovic (1995-96), os bósnios Nail Besirovic (1997 a 2001) e Emir Granov (1998-99), os croatas Darko Butorovic (1999-00) e Tin Karamatic (2014-15) e o macedónio Ramiz Pasiov (2015-16).