Vitória de Setúbal e Académica medem forças na Liga 3 |
Dois históricos que já viveram
melhores dias, Vitória
de Setúbal e Académica coincidiram
em 54 temporadas na I
Liga, entre 1943-44 e 2015-16. Nesse período os dois emblemas conquistaram
a Taça
de Portugal, chegando
a defrontar-se na final mais longa de sempre (em 1967), foram vice-campeões
nacionais e participaram nas competições europeias.
Ao longo desse percurso, sadinos tiveram
nos seus quadros jogadores que já tinham pertencido aos estudantes e
vice-versa.
Vale por isso a pena conferir o
nosso onze ideal de futebolistas que passaram pelos dois clubes, distribuídos
em campo num 4x3x3.
Ricardo (guarda-redes)
Ricardo |
Guarda-redes formado e revelado
pelo Varzim, chegou à Académica
em 2007-08, mas tardou em conquistar o seu espaço, tendo chegado a ser
emprestado à União
de Leiria. Em 2009-10 chegou a
dividir a titularidade com Rui Nereu, mas as duas épocas que se seguiram foram
quase totalmente passadas na sombra do francês Romuald Peiser.
Em 2011-12 foi o escolhido pelo
treinador Pedro Emanuel para jogar na Taça
de Portugal e deu nas vistas, ao ponto de ter sido fundamental para a
conquista do troféu, que escapava à briosa
desde 1939. No final dessa época conquistou também a titularidade no
campeonato, tendo-a mantido até 2014, quando deu o salto para o FC
Porto após 103 encontros pelos estudantes.
“Quando cheguei não era academista,
mas vou embora com o clube no coração. Assumo-o: vou ser academista para
sempre. Vou ter saudades, passei momentos inesquecíveis aqui, como a conquista
da Taça
de Portugal”, afirmou, na hora da despedida, em declarações aos canais
oficiais do clube.
Enquanto jogador dos dragões
foi cedido ao Vitória
de Setúbal em 2015-16. Embora tivesse chegado já com a época em andamento,
assumiu rapidamente a titularidade, indo a tempo de atuar em 28 jogos e sofrer
38 golos, ajudando os sadinos
a assegurar a permanência.
Francisco Silva (defesa central)
Francisco Silva |
Defesa central setubalense e
internacional jovem português, representou a equipa principal do Vitória
de Setúbal em mais de 125 jogos entre 1977 e 1984, sempre na I
Divisão, naqueles que foram os seus primeiros anos de carreira.
Seguiram-se três anos na Académica,
nos quais amealhou mais de 50 partidas, todas nas primeiras duas épocas em
Coimbra (1984-85 e 1985-86).
Após pendurar as botas regressou
ao Vitória,
tendo trabalhado quinze anos (1994 a 2009) como treinador das camadas jovens
dos sadinos.
Hugo Alcântara (defesa central)
Hugo Alcântara |
Defesa central brasileiro muito
alto (1,90 m), foi contratado pelo Vitória
de Setúbal no verão de 2001, numa altura em que Jorge
Jesus era o treinador dos sadinos,
foi titularíssimo no eixo da defesa setubalense ao
longo de quatro temporadas, tendo formado dupla com Hugo Costa e depois com
Auri. Em 2002-03 mostrou-se impotente para evitar a despromoção à II
Liga, mas na época seguinte ajudou os vitorianos a
regressar ao primeiro
escalão e em 2004-05 conquistou a Taça
de Portugal.
Após levantar o troféu
transferiu-se para a Académica,
clube pelo qual atuou em 30 partidas e apontou quatro golos na única temporada
que passou em Coimbra.
Joaquim Mota (lateral direito)
Joaquim Mota |
Lateral direito campeão e
vencedor de uma Taça
de Portugal pelo Sporting,
reforçou o Vitória
de Setúbal no verão de 1981 após quatro anos de pouca utilização de leão
ao peito.
Titularíssimo durante a meia
dúzia de anos que passou no Bonfim,
mostrou-se impotente para impedir a despromoção à II Divisão em 1986, que
interrompeu um ciclo de 24 épocas consecutivas dos sadinos
na elite do futebol português. Contudo, no ano seguinte contribuiu para a
subida à I
Divisão, despedindo-se após essa promoção e mais de 160 jogos e três golos
ao serviço do emblema
setubalense.
Seguiram-se quatro anos na Académica,
nos quais participou em mais de 125 encontros. Em 1987-88 desceu à II Divisão e
nas três épocas seguintes competiu no segundo escalão.
Flávio das Neves (lateral esquerdo)
Flávio das Neves |
Lateral esquerdo natural de São
João da Madeira, entrou na elite do futebol português pela porta do Vitória
de Guimarães e foi de lá que se mudou para a Académica
em 1984.
Em três anos em Coimbra atuou em
cerca de 100 jogos e marcou pelo menos oito golos, competindo sempre na I
Divisão. “Toda a gente na altura falava da Académica como
um clube diferente. Quando cheguei lá apercebi-me disso. Quem joga e passa
pela Académica dificilmente
a esquecerá. Não tinha muito a haver com o rigor nem com a disciplina, muito
menos com o grau de profissionalismo a que estava habituado em Guimarães, mas
com o carinho, o ambiente da própria cidade, da universidade, tudo o que
rodeava o meio estudantil. Foi uma coisa incrível. Aquilo entranha-se e passei
lá três anos maravilhosos, obtivemos a melhor classificação depois dos tempos
áureos deles e tenho o meu nome e fotografias nos quadros da sede do clube. Adorei
trabalhar na Académica.
No meu tempo existiam oito ou nove jogadores universitários, a Académica permitia
que eles estudassem e treinassem em simultâneo. Lembro-me que fizeram de tudo
para eu concluir matemática, para conseguir entrar na faculdade, e arrependo-me
de não o ter feito. Eles queriam muito formar-nos e preparar-nos para a vida.
Curiosamente, quando vim embora, a Académica desceu”,
recordou, em entrevista ao O
Blog do David em julho de 2021.
Após uma curtíssima passagem pelo
Benfica,
reforçou o Vitória
de Setúbal no verão de 1987 e por lá se manteve durante três temporadas,
nas quais os sadinos
concluíram o campeonato sempre na primeira metade da tabela. Nesse período
amealhou mais de 90 encontros e dois golos pelo emblema
setubalense, tendo rumado depois ao Sp. Espinho.
“O Vitória
estava num processo de reformulação do plantel, com o treinador Malcolm Allison
e o presidente Fernando
Oliveira, que me contrataram. É um clube com uma massa associativa
fantástica, o estádio tinha sempre 20 mil pessoas a assistir aos jogos, os
sócios têm uma ligação incrível ao clube, permaneciam em redor do estádio antes
dos treinos, era fantástico... Não faltava nada no Vitória
e até posso confessar que foram os anos em que ganhei mais dinheiro no futebol,
tínhamos prémios absurdos para a época, eu nem mexia no meu ordenado. Joguei ao
lado dos melhores jogadores do futebol português daquela altura, pois muitos
jogadores saíam dos três grandes, porque o Vitória pagava
muito e bem. Se comparar com a realidade atual do clube para aqueles tempos eu
nem me acredito. Eu parecia que estava sempre de férias, a cidade de Setúbal é
incrível, tem praias, a serra da Arrábida, Troia, Figueirinha, Galapos, tem bom
peixe, a minha família ia para lá de férias, uma semana uns, outra semana
outros, era espetacular. Quando vou passar férias tenho que passar sempre por
Setúbal, fiz lá muitas amizades, o clube representa muito para mim. Todos os
anos vou assistir a pelo menos um jogo do Vitória,
sinto-me muito acarinhado”, contou ao O
Blog do David.
Binho (médio defensivo)
Binho |
Médio brasileiro que entrou no
futebol português pela porta da Naval, passou pela Académica
em 2002-03, numa temporada em que atuou em 15 partidas e apontou dois golos em
todas as competições.
Na época seguinte regressou à
Figueira da Foz, tendo reforçado o Vitória
de Setúbal em 2004-05, época que ficou marcada pela conquista da terceira Taça
de Portugal, mas raramente foi opção para José
Couceiro e José Rachão. Na temporada seguinte ganhou espaço devido à
retirada de Hélio e à saída de Sandro, conseguindo o estatuto de
titular como médio defensivo. Esteve três temporadas no Bonfim,
tendo participado em duas finais de Taça,
uma Supertaça
e quatro jogos na Taça
UEFA. No total, amealhou 79 jogos e quatro golos pelos sadinos.
No verão de 2007 rumou aos gregos
do Iraklis.
Hugo Leal (médio centro)
Hugo Leal |
Antiga promessa do futebol
português e campeão europeu de sub-16 em 1996, estreou-se pela equipa principal
do Benfica quando
tinha apenas 16 anos, em abril de 1997, e chegou a representar a seleção
nacional A e clubes como Atlético
Madrid, Paris
Saint-Germain e FC
Porto, mas acabou por fazer uma carreira aquém das expetativas.
Embora tivesse sido contratado
pelos dragões
no verão de 2004, foi emprestado à Académica
em janeiro de 2005, tendo atuado em onze jogos pelos estudantes
até ao final do campeonato.
Entretanto, após passagens por Sp.
Braga, Belenenses,
Trofense
e Salamanca, já na curva descendente da carreira, representou o Vitória
de Setúbal durante duas temporadas, entre 2010 e 2012, período no qual
amealhou 52 partidas e dois golos com a camisola
verde e branca em todas as competições.
“Apanhei uns quantos
[treinadores]. Tive Manuel
Fernandes no primeiro ano. Houve faltas de pagamento. Houve situações
constrangedoras de gente que não tinha como sobreviver e isso fez com que me
desgastasse muito. Sofri um bocadinho também com o mal dos outros”, confessou.
Miguel Pedro (médio ofensivo)
Miguel Pedro |
Médio ofensivo/extremo natural de
Paranhos e formado e revelado pelo Salgueiros,
passou pelo Desp.
Aves antes de ingressar na Académica
no verão de 2006.
Em três anos e meio em Coimbra
amealhou 92 jogos e sete golos em todas as competições, contribuindo para a
melhor classificação de sempre dos estudantes
no século XXI (7.º lugar em 2008-09), antes de assinar pelos cipriotas do Anorthosis
em janeiro de 2010.
Após duas épocas e meia no Chipre
e uma temporada no Feirense,
assinou pelo Vitória
de Setúbal no verão de 2012. Em três anos no Bonfim
atuou em 95 partidas e apontou três golos, despedindo-se dos sadinos,
rumo aos gregos do Panachaiki, numa altura em que já tinha 31 anos. “É um ciclo
que se fecha. Vou sentir saudades do clube. Sempre gostei de jogar aqui e
sempre dei o meu máximo. Chegou ao fim um ciclo de três anos que foi bom para
mim. Fiz 95 jogos, ajudei o Vitória
e o clube também me ajudou”, afirmou à Lusa na hora da despedida.
Sougou (extremo direito)
Sougou |
Extremamente veloz nascido em
Fissel, chegou ao Vitória
no verão de 2005, proveniente da Académica,
tendo participado num total de 35 encontros (24 a titular) em todas as
competições em 2005-06, temporada em que os sadinos fizeram
um campeonato tranquilo, atingiram (pelo segundo ano consecutivo) a final
da Taça
de Portugal e participaram na Taça
UEFA. “O Sougou é um jogador que, pela sua velocidade, é importante nos
jogos fora, onde há mais espaços para jogar, pelo menos teoricamente”, disse
sobre ele Norton de Matos antes de uma visita ao FC
Porto.
Após essa época no Bonfim não
chegou a acordo para renovar e acabou por voltar a Leiria.
“Depois de uma época positiva pensava que ficaria mais um ou dois anos em
Setúbal. Não foi possível, e saio triste por não poder continuar”, afirmou em
maio de 2006.
Após o regresso a Leiria, representou
a Académica
durante três anos, entre 2008 e 2011. Nesse período totalizou 98 partidas e 23
golos, afirmando-se como uma das principais figuras da equipa, tendo
contribuído para a melhor classificação de sempre dos estudantes
no século XXI, o 7.º lugar obtido em 2008-09.
No verão de 2011 transferiu-se
para os romenos do Cluj, pelos quais jogou na Liga
dos Campeões.
Cláudio Pitbull (extremo esquerdo)
Cláudio Pitbull |
Entrou em Portugal pela porta do FC
Porto em janeiro de 2005, mas não foi bem-sucedido no Dragão e foi sucessivamente emprestado. Após Santos,
Al Ittihad FC e Fluminense,
foi cedido à Académica
na segunda metade da época 2006-07, a tempo de disputar onze jogos e marcar
dois golos em todas as provas até ao final da temporada.
Na época seguinte foi cedido ao Vitória
e foi no Bonfim
que mostrou a sua melhor face. Como extremo ou avançado móvel, foi uma das
figuras da equipa que em 2007-08 conquistou a primeira Taça
da Liga, tendo sido eleito o melhor jogador da competição em que os vitorianos bateram
o Sporting
na final após desempate por penáltis.
Voltou ao clube em
2010-11, depois de passagens por Rapid Bucareste e Marítimo,
e ainda mostrou melhores números, embora nessa época só tenha ajudado os sadinos
a garantir a permanência. Continuou em Setúbal na temporada seguinte, mas saiu
em janeiro, despedindo-se com um total de 84 partidas e 19 golos ao serviço dos
setubalenses.
“Tenho um carinho enorme pelo
clube e pela cidade. O clube está em dificuldades, mas tem muita tradição. Vou
levar o Vitória
sempre no meu coração. Num restaurante até colocaram o meu nome numa pizza.
Tirando o Grémio,
o Vitória
é o meu clube. Além do FC
Porto, claro, que me abriu as portas da Europa. O pessoal de Setúbal é
espetacular. O peixinho, o choco frito, fui muito feliz. Quando gostamos do
clube e da cidade, somos felizes”, afirmou ao Maisfutebol
em outubro de 2021.
Edinho (ponta de lança)
Edinho |
Neste onze ideal de jogadores que
passaram pelos dois clubes, cabe no ataque Arnaldo Silva e o seu filho, Edinho,
que por influência do pai sempre foi um simpatizante do Vitória
de Setúbal, clube que representou pela primeira vez enquanto iniciado em
1995-96. “O meu pai foi com 17 anos para o clube, então cresci a ver o
que era o Vitória”,
afirmou ao portal do Sindicato
de Jogadores.
Mais tarde, enquanto sénior,
esteve emprestado aos sadinos pelo Sp.
Braga na primeira metade da época 2007-08, tendo marcado nove golos em
23 jogos e contribuído para uma caminhada que haveria de culminar na conquista
da Taça
da Liga e no apuramento para a Taça
UEFA antes de se mudar para os gregos do AEK Atenas durante mercado de
inverno. “Fiquei magoado com o presidente [da comissão de gestão, Carlos Costa]
porque não teve uma atitude correta comigo. Deixou passar a mensagem de que eu
é que quis ir embora quando na verdade o que aconteceu foi uma boa oportunidade
para o Vitória
de Setúbal encaixar algum dinheiro no final da época. Os adeptos
ficaram a pensar que eu fui ingrato e isso não é verdade. Fiquei magoado por
isso, mas não guardo rancor nenhum”, lamentou.
Entretanto tornou-se
internacional português e representou clubes AEK, Málaga,
PAOK e Marítimo
antes de vestir a camisola da Académica
entre fevereiro de 2012 e maio de 2013, tendo nesse período conquistado uma Taça
de Portugal e atuado em 55 jogos (seis dos quais na Liga
Europa) e apontado 23 golos. “Ganhar a Taça
pela Académica,
frente a uma equipa grande [Sporting],
não vou dizer que foi o culminar de um percurso porque houve outros momentos
como a chegada à seleção e à liga espanhola, mas foi brutal. São sentimentos
que qualquer jogador deseja ter”, confessou ao Diário
de Notícias em agosto de 2019.
Os bons desempenhos em Coimbra
valeram-lhe o regresso ao Sp.
Braga, tendo ainda passado pelo futebol turco antes de regressar ao Vitória
de Setúbal em 2016-17. Nesta segunda passagem pelo Bonfim amealhou
71 jogos e 19 golos, ajudando os vitorianos a
chegar à final da Taça
da Liga em 2017-18.
Na hora da saída, revelou alguma
mágoa. “A saudade estará presente todos dias, assim como o calor e o carinho de
todos estes adeptos sadinos que
me mostraram cada vez que orgulhosamente vesti esta camisola sagrada. Foi e
será sempre um orgulho para mim este Enorme Vitória
FC. Acho que merecia outro respeito por tudo que já dei ao Vitória,
não me querendo bastava dizer ao invés de mandarem recados, 'se não assinaram é
porque não querem ficar!' Eu entendi as entrelinhas e vi que não contavam
comigo”, escreveu nas redes sociais.
Fernando Vaz (treinador)
Fernando Vaz |
Um treinador marcante no futebol
português, que além de Vitória
de Setúbal e Académica
dirigiu Belenenses,
Sp.
Braga, seleção nacional, FC
Porto, Vitória
de Guimarães e Sporting,
entre outros.
Aos sadinos
chegou pela primeira vez na fase final da época 1951-52, cedido pelo Belenenses,
para guiar a equipa à subida à I
Divisão. Dez anos depois, o filme repetiu-se, mas desta feita foi a CUF
que o cedeu.
Em 1964-65 surgiu pela primeira
como treinador do Vitória
a tempo inteiro, iniciando um ciclo dourado que ficou marcado pela conquista de
duas Taças
de Portugal (1965 e 1967)
e pela presença em outras duas finais (1966
e 1968).
No final da época de 1968-69
mudou-se para o Sporting
e por lá ficou até perto do término da temporada 1971-72, quando ingressou na Académica,
não indo a tempo de salvar os estudantes
da descida à II Divisão. Na temporada seguinte sagrou-se campeão nacional da II
Divisão, tendo permanecido em Coimbra até meados de 1974.
Em 1976-77 voltou ao Vitória,
mas a meio da época seguinte foi substituído por Carlos Cardoso na sequência de
maus resultados.
O Flávio Neves jogava no meio campo (extremo esquerdo) e não lateral esquerdo. Jogava à frente do Germano, esse sim, defesa esquerdo.
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