quinta-feira, 22 de maio de 2025

O filho de peixe que soube nadar, trocou o Benfica pelo FC Porto e vice-versa. Quem se lembra de Rui Águas?

Rui Águas brilhou de dragão e águia ao peito
Filho da antiga glória benfiquista José Águas, começou a jogar futebol nas camadas jovens do Benfica, mas em 1974 deixou o clube em que o pai se celebrizou e teve que penar muito para lá voltar, tendo passado pela formação do CAC da Pontinha e do Sporting, assim como pelos seniores de Sesimbra, Atlético e Portimonense.
 
Percorreu todas as divisões nacionais, desde a terceira à primeira, tendo feito a estreia no patamar maior do futebol português ao serviço dos alvinegros de Portimão em 1983-84. Na temporada seguinte, marcada pelo apuramento dos algarvios para a Taça UEFA, afirmou-se ao ponto de ter somado duas internacionalizações pelos sub-21 e o primeiro de 31 jogos pela seleção nacional A, estreando-se na reta final de uma derrota em Itália (0-2) em abril de 1985.
 
 
No final dessa época deu o salto para o Benfica, tornando-se numa figura do clube no final da década de 1980, tendo faturado 55 golos em 109 partidas entre 1985 e 1988. Foi campeão nacional em 1986-87, venceu a Taça de Portugal em 1985-86 e 1986-87 e, pelo meio, foi convocado para o Mundial 1986, tendo sido apenas utilizado no jogo diante de Marrocos.
 
 
Em 1987-88 ajudou os encarnados a atingir a final da Taça dos Campeões Europeus, tendo terminado a prova como um dos melhores marcadores, imitando o que o pai havia conseguido em 1960-61.
 
 
No verão de 1988, protagonizou uma das transferências mais controversas de sempre do futebol português, ao mudar-se para o rival FC Porto, para onde foi ganhar onze vezes mais, uma decisão tomada a pensar no pai. “Em certas alturas, quando temos de olhar por nós e pela nossa família e decidir o que é mais certo ou mais clubista, eu tenho o exemplo do meu pai, que não foi tão valorizado como devia e eu é que ajudei o meu pai. A minha saída do Benfica foi também para ajudar o meu pai”, afirmou ao podcast Final Cut em outubro de 2023.
 
Embora tivesse uma afirmação imediata nas Antas, apesar do estigma por ser um ex-Benfica, brilhou sobretudo na segunda temporada de dragão ao peito, quando se sagrou campeão nacional e apontou 24 golos em todas as competições – em dois anos de FC Porto, somou um total de 40 remates certeiros em 80 partidas.
 
 
Mesmo apelidado de “traidor” quando se mudou para o rival, Rui Águas voltou ao Benfica no verão de 1990, tendo acionado uma cláusula do seu contrato com o FC Porto que lhe permitia sair ao fim de dois anos mediante o pagamento de uma pequena verba. “O que fiz para voltar ao Benfica teve a ver com o que eu sabia que ia representar para o meu pai. Havendo a possibilidade de voltar, fi-lo tendo o meu pai como referência”, contou ao Sol em abril de 2017.
 
O regresso à Luz foi o que “sonhava”, conseguindo sagrar-se campeão nacional e finalmente melhor marcador da I Divisão em 1990-91, também aí imitando o pai, goleador-mor do campeonato português em cinco ocasiões (1951-52, 1955-56, 1956-57, 1958-59 e 1960-61).
 
O pior veio depois. “No ano seguinte parto o pé, e quando a minha figura é fragilizada, as coisas acabaram por regressar. Ainda joguei e marquei, mas com o final da carreira e o passar dos anos, o que vem outra vez? Vem o tipo que jogou no FC Porto, não vem o tipo que regressou, que marcou, que foi campeão… São coisas que sobrevivem pela negativa. Infelizmente para mim”, recordou o antigo avançado, que nesta segunda passagem pelo Benfica, de 1990 a 1994, amealhou 49 golos em 128 encontros, ainda que mais metade dos remates certeiros (26) tenham sido obtidos na tal temporada 1990-91. Ainda assim, engrossou o palmarés individual e do clube com a conquista da Taça de Portugal em 1992-93 e do campeonato nacional na época que se seguiu.
 
 
No final de 1994, quando já tinha 34 anos, viveu uma curta experiência no Estrela da Amadora, tendo atuado em nove jogos e apontado quatro golos em pouco mais de dois meses, entre agosto e outubro.
 
Depois despediu-se dos relvados na Serie A italiana, com a camisola do Reggiana, tendo encerrado a carreira no verão de 1995. “Gostava de fazer uma época final para me sentir bem. Saí do Benfica sem qualquer azia, o contrato acabou, fui à minha vida, até porque já não me estava a sentir especialmente bem, apoiado. A idade também acaba por prejudicar e decidi fazer uma época por prazer. Não era ali que ia conseguir, e eles também não queriam que continuasse. No Estrela fiz uma primeira parte boa, ainda voltei à seleção, e depois decidi acabar a carreira em Itália para ter uma experiência fora. Não foi especialmente conseguida, mas interessante na mesma”, lembrou, em jeito de balanço.
 
Após pendurar as botas tornou-se treinador, tendo começado como adjunto de Artur Jorge na seleção nacional, chegando a confrontar Ricardo Sá Pinto após este ter agredido o selecionador.
 
Como técnico principal iniciou-se no Estoril, na altura na II Divisão B, em 1999-00, mas a meio da temporada mudou-se para o Vitória de Setúbal, não conseguindo impedir a despromoção à II Liga.
 
Posteriormente foi adjunto do ucraniano Anatoliy Byshovets no Marítimo e de Jesualdo Ferreira no Sp. Braga antes de ser convidado por Luís Filipe Vieira para liderar o departamento de scouting do Benfica.
 
Seguiram-se trabalhos como treinador dos sub-20 dos sauditas do Al Hilal e coordenador da Academia do Al Nasr do Dubai antes de abraçar o projeto da seleção de Cabo Verde, tendo orientado os tubarões azuis no CAN 2015.
 
Mais recentemente, voltou a ser adjunto de Jesualdo Ferreira nos brasileiros do Santos (2020), no Boavista (2020-21) e nos egípcios do Zamalek (2022 e 2023). 



 



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