O filho de peixe que soube nadar, trocou o Benfica pelo FC Porto e vice-versa. Quem se lembra de Rui Águas?
Rui Águas brilhou de dragão e águia ao peito
Filho da antiga glória
benfiquista José
Águas, começou a jogar futebol nas camadas jovens do Benfica,
mas em 1974 deixou o clube em que o pai
se celebrizou e teve que penar muito para lá voltar, tendo passado pela
formação do CAC da Pontinha e do Sporting,
assim como pelos seniores de Sesimbra,
Atlético
e Portimonense.
Percorreu todas as divisões
nacionais, desde a terceira à primeira,
tendo feito a estreia no patamar
maior do futebol português ao serviço dos alvinegros
de Portimão em 1983-84. Na temporada seguinte, marcada pelo apuramento dos algarvios
para a Taça
UEFA, afirmou-se ao ponto de ter somado duas internacionalizações pelos sub-21
e o primeiro de 31 jogos pela seleção
nacional A, estreando-se na reta final de uma derrota em Itália
(0-2) em abril de 1985.
No final dessa época deu o salto
para o Benfica,
tornando-se numa figura do clube no final da década de 1980, tendo faturado 55
golos em 109 partidas entre 1985 e 1988. Foi campeão nacional em 1986-87,
venceu a Taça
de Portugal em 1985-86 e 1986-87 e, pelo meio, foi convocado para o Mundial
1986, tendo sido apenas utilizado no jogo diante de Marrocos.
Em 1987-88 ajudou os encarnados
a atingir a final da Taça
dos Campeões Europeus, tendo terminado a prova como um dos melhores
marcadores, imitando o que o pai
havia conseguido em 1960-61.
No verão de 1988, protagonizou
uma das transferências mais controversas de sempre do futebol português, ao
mudar-se para o rival FC
Porto, para onde foi ganhar onze vezes mais, uma decisão tomada a pensar no
pai.
“Em certas alturas, quando temos de olhar por nós e pela nossa família e
decidir o que é mais certo ou mais clubista, eu tenho o exemplo do meu pai,
que não foi tão valorizado como devia e eu é que ajudei o meu pai.
A minha saída do Benfica
foi também para ajudar o meu pai”,
afirmou ao podcast Final Cut em outubro de 2023. Embora tivesse uma afirmação
imediata nas Antas, apesar do estigma por ser um ex-Benfica,
brilhou sobretudo na segunda temporada de dragão
ao peito, quando se sagrou campeão nacional e apontou 24 golos em todas as
competições – em dois anos de FC
Porto, somou um total de 40 remates certeiros em 80 partidas.
Mesmo apelidado de “traidor”
quando se mudou para o rival, Rui Águas voltou ao Benfica
no verão de 1990, tendo acionado uma cláusula do seu contrato com o FC
Porto que lhe permitia sair ao fim de dois anos mediante o pagamento de uma
pequena verba. “O que fiz para voltar ao Benfica
teve a ver com o que eu sabia que ia representar para o meu pai.
Havendo a possibilidade de voltar, fi-lo tendo o meu pai
como referência”, contou ao Sol
em abril de 2017. O regresso à Luz
foi o que “sonhava”, conseguindo sagrar-se campeão nacional e finalmente melhor
marcador da I
Divisão em 1990-91, também aí imitando o pai,
goleador-mor do campeonato português em cinco ocasiões (1951-52, 1955-56,
1956-57, 1958-59 e 1960-61). O pior veio depois. “No ano
seguinte parto o pé, e quando a minha figura é fragilizada, as coisas acabaram
por regressar. Ainda joguei e marquei, mas com o final da carreira e o passar
dos anos, o que vem outra vez? Vem o tipo que jogou no FC
Porto, não vem o tipo que regressou, que marcou, que foi campeão… São coisas
que sobrevivem pela negativa. Infelizmente para mim”, recordou o antigo
avançado, que nesta segunda passagem pelo Benfica,
de 1990 a 1994, amealhou 49 golos em 128 encontros, ainda que mais metade dos
remates certeiros (26) tenham sido obtidos na tal temporada 1990-91. Ainda
assim, engrossou o palmarés individual e do clube com a conquista da Taça
de Portugal em 1992-93 e do campeonato nacional na época que se seguiu.
No final de 1994, quando já tinha
34 anos, viveu uma curta experiência no Estrela
da Amadora, tendo atuado em nove jogos e apontado quatro golos em pouco
mais de dois meses, entre agosto e outubro. Depois despediu-se dos relvados
na Serie
A italiana, com a camisola do Reggiana, tendo encerrado a carreira no verão
de 1995. “Gostava de fazer uma época final para me sentir bem. Saí do Benfica
sem qualquer azia, o contrato acabou, fui à minha vida, até porque já não me
estava a sentir especialmente bem, apoiado. A idade também acaba por prejudicar
e decidi fazer uma época por prazer. Não era ali que ia conseguir, e eles
também não queriam que continuasse. No Estrela
fiz uma primeira parte boa, ainda voltei à seleção,
e depois decidi acabar a carreira em Itália
para ter uma experiência fora. Não foi especialmente conseguida, mas
interessante na mesma”, lembrou, em jeito de balanço. Após pendurar as botas tornou-se
treinador, tendo começado como adjunto de Artur
Jorge na seleção
nacional, chegando a confrontar Ricardo
Sá Pinto após este ter agredido o selecionador. Como técnico principal iniciou-se
no Estoril,
na altura na II Divisão B, em 1999-00, mas a meio da temporada mudou-se
para o Vitória
de Setúbal, não conseguindo impedir a despromoção à II
Liga. Posteriormente foi adjunto do
ucraniano Anatoliy Byshovets no Marítimo
e de Jesualdo Ferreira no Sp.
Braga antes de ser convidado por Luís
Filipe Vieira para liderar o departamento de scouting do Benfica. Seguiram-se trabalhos como
treinador dos sub-20 dos sauditas do Al Hilal e coordenador da Academia do Al
Nasr do Dubai antes de abraçar o projeto da seleção
de Cabo Verde, tendo orientado os tubarões
azuis no CAN 2015. Mais recentemente, voltou a ser
adjunto de Jesualdo Ferreira nos brasileiros do Santos
(2020), no Boavista
(2020-21) e nos egípcios do Zamalek (2022 e 2023).
Sem comentários:
Enviar um comentário