Jesualdo Ferreira: professor, fã de 4x3x3 e único treinador português tricampeão nacional
Jesualdo Ferreira viveu o ponto alto da carreira no FC Porto
Mais do que um treinador: um
professor.
Um professor no sentido literal,
porque se licenciou em Educação Física pelo Instituto Superior de Educação
Física (ISEF) e lecionou no mesmo estabelecimento de ensino, onde esteve na
génese da criação da cadeira de futebol e do gabinete de futebol. Mas um professor também no
sentido mais figurativo, pela forma como muitos jogadores lhe atribuem
ensinamentos cruciais para a evolução deles. “Foi o Jesualdo
Ferreira, no FC
Porto, que me ensinou aquilo que um avançado deve fazer e, sobretudo, que
me corrigiu”, afirmou, por exemplo, Radamel
Falcao à France Football em março de 2019. “Jesualdo
Ferreira, um velho rabugento português, que tive três anos no FC
Porto. Ensinou-me detalhes do jogo, um passe, uma receção orientada...Foi o
que mais me marcou”, afirmou por sua vez Lisandro
López em 2017, em entrevista ao jornal argentino Clarín. Transmontano nascido em Mirandela
a 24 de maio de 1946, partiu com os pais para Angola ainda em tenra idade, mas
na adolescência regressou a Portugal com os tios para estudar: primeiro em
Chaves, depois em Aveiro, tendo chegado a jogar futebol na Ovarense. Após concluir a licenciatura,
integrou os quadros da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) em 1974, tendo
trabalhado com as seleções jovens, numa altura em que passou a haver uma
estreita ligação entre FPF e ISEF. Em 1979 mudou-se para o Benfica,
clube no qual assumiu o cargo de coordenador do futebol jovem, e dois anos
depois iniciou a carreira de treinador ao comando do Rio Maior, na II Divisão
Nacional. Passou ainda pelo Torreense
antes de surgir pela primeira vez na I
Divisão em 1984-85, ao leme da Académica. Como a experiência em Coimbra não
correu particularmente bem – despediu-se à 7.ª jornada, com a equipa no último
lugar –, voltou às divisões secundárias para orientar Atlético,
Silves
e novamente Torreense,
sem resultados propriamente espetaculares.
Em 1992 assumiu o cargo de
selecionador nacional de sub-21,
tendo vencido nesse ano o Torneio de Toulon ao leme de um conjunto de jogadores
como Jorge Costa, Abel Xavier, Hélder
e Rui
Costa. Entretanto, voltou a adjuvar Toni,
primeiro no Benfica
entre 1992 e 1994 e depois no Bordéus em 1994-95. Após ter estado ao comando dos
marroquinos do FAR Rabat em 1995-96, voltou à FPF para assumir as funções de selecionador
dos sub-21
entre 1996 e 2000, tendo também comandado os sub-20 no Campeonato do Mundo da
categoria em 1999. Em 2000-01 voltou a merecer a
confiança de um clube da I
Liga, o Alverca,
tendo alcançado a permanência e aprimorado jogadores como Ricardo Carvalho e
Pedro Mantorras, naquela que foi a época em que o internacional angolano
explodiu no Ribatejo.
No início da temporada seguinte voltou
ao Benfica
para ser novamente adjunto de Toni,
mas após a demissão do treinador principal assumiu o comando da equipa no final
de dezembro de 2001. Aguentou quase onze meses no cargo, tendo saído após uma
humilhante eliminação da Taça
de Portugal, em casa, às mãos do Gondomar, da II Divisão B.
Poucos meses após deixar a Luz,
foi convidado para comandar o Sp.
Braga em abril de 2003, numa altura em que os minhotos
lutavam pela permanência. Não só conseguiu esse objetivo como, nas temporadas
seguintes, tornou os arsenalistas
na quarta força do futebol português, alcançando o apuramento para a Taça
UEFA nas três épocas completas que passou no clube: 2003-04, 2004-05 e
2005-06. Em determinadas alturas desse período, os bracarenses
chegaram a liderar a I
Liga e a dar a impressão de que poderiam lutar pelo título. No verão de 2006 mudou-se para o Boavista,
mas a poucos dias do início da temporada 2006-07, o FC
Porto ficou sem treinador, após a saída do neerlandês Co Adriaanse, o que
levou Pinto
da Costa a oferecer-lhe o cargo. No Dragão poliu jogadores como Ricardo
Quaresma, Anderson, Pepe,
Lucho
González, Raul Meireles, Paulo Assunção, Bosingwa e Lisandro
López, que geraram mais-valias de muitos milhões de euros aos cofres azuis
e brancos. Também trocou o 3x3x4 de Adriaanse pelo 4x3x3, o seu sistema
favorito. “Pela forma como se ocupam os espaços e pelos jogadores que nós
garantimos durante o jogo através de movimentos mais curtos e que se aproximam
mais, é aquele que controla melhor o espaço. (…) Para o meu 4x3x3 é preciso
jogadores capazes de o interpretar: sem dois laterais fortes ofensivamente, o 4x3x3
é menos forte; sem dois médios verticais e sem capacidade de se envolver, terá
menos opções; sem um 6 de alta qualidade é difícil que o 4x3x3 tenha também
maiores equilíbrios defensivos; em relação ao ataque, se os três atacantes
forem dois extremos puros e um avançado, para mim não, porque para mim têm de
ser três avançados, com a dupla característica de saberem jogar fora e jogar
dentro, entrarem como finalizadores”, defendeu no Canal 11 em dezembro
de 2019.
Apesar dos créditos que foi
ganhando, esgotou-os, pelo menos aos olhos da administração portista,
em 2009-10, quando não foi além de um terceiro lugar no campeonato, tendo
ficado atrás do campeão Benfica
e do segundo classificado Sp.
Braga, numa época marcada pela polémica do túnel da Luz,
que afastou Hulk e Sapunaru dos relvados durante vários meses. Após deixar o FC
Porto assinou pelo Málaga,
mas esteve poucos meses no clube
andaluz, tendo-o deixado no início de 2010, com a equipa em zona de
despromoção na liga
espanhola.
Poucas semanas depois, foi
contratado pelo Panathinaikos. Não ganhou qualquer troféu, numa fase de
dificuldades económicas e de hegemonia do rival Olympiakos, mas manteve-se no
cargo quase dois anos, até novembro de 2012. No mês seguinte foi apresentado
como diretor desportivo do Sporting,
função que passou a acumular com a de treinador principal em janeiro de 2013,
sucedendo ao belga Franky
Vercauteren. Melhorou a classificação da equipa, do 12.º para o 7.º lugar,
e desempenhou um papel importante para o lançamento de jovens como Bruma,
Ricardo Esgaio, Eric Dier, Tiago Ilori e Zezinho, mas após o final da temporada
deixou o clube, uma vez que o novo presidente, Bruno
de Carvalho, preferiu apostar em Leonardo Jardim.
Seguiu-se o regresso a Sp.
Braga, mas não conseguiu replicar o sucesso da sua primeira passagem pela
Pedreira, tendo deixado o cargo em fevereiro de 2014, com a equipa em 7.º lugar. Entretanto, foi para o norte de
África e Médio Oriente engrossar o palmarés e a conta bancária. Venceu a
dobradinha do Egito ao leme do Zamalek em 2014-15 e, com o médio espanhol Xavi
às suas ordens nos qataris do Al-Sadd, conquistou um campeonato (2018-19), uma
Taça do Emir (2016-17), uma supertaça (2016-17) e uma taça (2016-17). Em 2020 teve uma curta
experiência nos brasileiros do Santos,
tendo deixado o cargo após uma eliminação precoce no campeonato paulista, e no
final desse ano regressou ao Boavista,
conseguindo assegurar a permanência na última jornada. O último clube em que trabalhou
foi o Zamalek, entre março de 2022 e março de 2023, tendo conquistado um
campeonato do Egito em 2021-22 e a Taça do Egito referente à época anterior,
mas já decidida em julho de 2022.
David, daqui Hugo Forte. Podes atualizar a peça — Ruben Amorim também passou a ser tricampeão nacional (2020/21, 2023/24 e 2024/24). Além disso, Joseph Szabo também era português (luso-húngaro) e ganhou em 1940-41, 1943-44 e 1953-54
Esse conceito de tricampeão é um bocadinho como o dos brasileiros, que falam em "hexa" quando se referem à eventual próxima conquista de um Mundial.
Normalmente, nós portugueses referimo-nos a um tricampeão como alguém ou um clube que conquistou três campeonatos consecutivos. Sendo o conceito de tricampeão o de três campeonatos consecutivos, Jesualdo Ferreira continua a ser o único.
Além do Amorim e do Szabo, também o Jorge Jesus (2009-10, 2014-15 e 2015-16) e o Sérgio Conceição (2017-18, 2019-20 e 2021-22) ganharam três campeonatos, mas não consecutivos.
David, daqui Hugo Forte. Podes atualizar a peça — Ruben Amorim também passou a ser tricampeão nacional (2020/21, 2023/24 e 2024/24). Além disso, Joseph Szabo também era português (luso-húngaro) e ganhou em 1940-41, 1943-44 e 1953-54
ResponderEliminarBoa tarde Hugo,
EliminarEsse conceito de tricampeão é um bocadinho como o dos brasileiros, que falam em "hexa" quando se referem à eventual próxima conquista de um Mundial.
Normalmente, nós portugueses referimo-nos a um tricampeão como alguém ou um clube que conquistou três campeonatos consecutivos. Sendo o conceito de tricampeão o de três campeonatos consecutivos, Jesualdo Ferreira continua a ser o único.
Além do Amorim e do Szabo, também o Jorge Jesus (2009-10, 2014-15 e 2015-16) e o Sérgio Conceição (2017-18, 2019-20 e 2021-22) ganharam três campeonatos, mas não consecutivos.