sexta-feira, 23 de maio de 2025

O único jogador (duplamente) campeão pelos três grandes de Portugal. Quem se lembra de Eurico Gomes?

Eurico Gomes brilhou nas defesas de Benfica, Sporting e FC Porto
Transmontano nascido em Santa Marta de Penaguião, foi viver para a Grande Lisboa ainda em tenra idade. Aos 14 anos começou a trabalhar como aprendiz de mecânico numa oficina de automóveis na Póvoa de Santo Adrião, concelho de Odivelas, enquanto jogava futebol num emblema local, o Várzea, ao serviço do qual captou a atenção de Mário Coluna, que o quis levar para o Benfica. Eurico recusou, uma vez que passaria a ganhar cinco vezes menos do que na oficina, e foi jogar de graça para o Odivelas.
 
Contudo, as águias voltaram à carga e levaram-no em 1970, numa altura em que ainda atuava como médio. Foi nas camadas jovens dos encarnados que recuou para o centro da defesa e chegou às seleções jovens, tendo feito a estreia por uma equipa das quinas, no caso a de sub-18, em março de 1974.
 
Quando subiu a sénior foi integrado no plantel principal do Benfica, mas teve de passar um ano em branco, só a atuar nas reservas, antes de se estrear, tendo beneficiado da saída de Humberto Coelho para ganhar um lugar no eixo defensivo benfiquista em 1975-76. Entretanto, Humberto voltou à Luz em 1977-78 e os dois formaram uma grande dupla, o que levou Eurico a valorizar-se ao ponto de passar a fazer parte das escolhas da seleção nacional a partir de setembro de 1978.
 
 
Ainda assim, a temporada 1978-79 não lhe correu particularmente bem, o que levou o Benfica a não avançar para a renovação de contrato, depois de 114 jogos e um golo em quatro anos. Quem aproveitou foi o presidente do Sporting, João Rocha, apesar de os dirigentes encarnados ainda o terem tentado convencer a renovar à última hora. Nesse verão quente de 1979, Fidalgo também se mudou da Luz para Alvalade, enquanto Botelho e João Laranjeira fizeram o percurso inverso.  
 
Aos dois campeonatos que havia vencido no Benfica (1975-76 e 1976-77), juntou mais dois ao serviço do Sporting, em 1979-80 e 1981-82, conseguindo mesmo vencer a dobradinha na época do segundo título. Foi o patrão da defesa leonina ao longo de três anos, nos quais atuou em 116 partidas e apontou dois golos, o que lhe valeu a distinção com o Prémio Stromp na categoria Atleta Profissional em 1981.
 
 
No verão de 1982, porém, viu-se novamente envolvido numa situação em que a renovação de contrato não avançou. Seduzido por José Maria Pedroto, mudou-se, tal como Augusto Inácio, para o FC Porto, clube ao serviço do qual viveu a consagração plena. Além de ter cumprido a tradição de ganhar dois campeonatos (em 1984-85 e 1985-86), venceu uma Taça de Portugal (1983-84) e duas Supertaças (1983 e 1984), ajudou os dragões a chegar à final da Taça das Taças em 1983-84 e somou 129 partidas e seis golos com a camisola azul e branca. Paralelamente, brilhou no Euro 1984, no qual Portugal atingiu as meias-finais, o que levou o jornal italiano La Repubblica a considera-lo o melhor defesa central da Europa.
 
Quando tinha apenas 29 anos e era titular indiscutível no FC Porto, partiu uma perna após um choque com o benfiquista Nunes no jogo inaugural da época 1985-86 e nunca mais recuperou o nível que havia exibido anteriormente.
 
 
Só viria a reaparecer nos relvados mais de dois anos de depois, em 1987-88, com a camisola do Vitória de Setúbal, clube ao serviço do qual encerrou a carreira em 1989, aos 33 anos. “O presidente, Fernando Oliveira, quis construir uma grande equipa, crescida e madura, que não suscitasse dúvidas. E não suscitou. Foi uma grande época. A primeira grande aquisição foi o Manuel Fernandes, porque ele e Fernando Oliveira tinham uma grande amizade. Depois surgiram os convites a outros em final de carreira, como eu, que vinha de uma lesão grave e tinha entrado em litígio com a equipa técnica de Tomislav Ivic no FC Porto”, contou ao Diário de Notícias em janeiro de 2018.
 
“Queria acabar a carreira e provar que não estava aleijado. Dizia-se que eu estava acabado e até que tinha uma perna maior do que a outra, mas isso ficou dissipado com a minha ida para Setúbal. O Manuel Fernandes tinha chamado o Jordão, que inicialmente não estava recetivo e motivado, mas influenciei-o e ele aceitou. Juntámo-nos ao Mészáros e ao Zezinho, que já lá estavam, e criámos um Vitória de Setúbal quase a reeditar o Sporting”, prosseguiu, sobre uma equipa que tinha cinco antigos jogadores, um ex-treinador e um ex-preparador físico do Sporting, todos campeões nacionais em 1981-82 em Alvalade.
 
 
Logo após pendurar as botas, tornou-se treinador. Um dos seus melhores trabalhos foi ao leme do Tirsense, conseguindo conquistar o título de campeão da II Liga em 1993-94, seguido da melhor classificação de sempre do clube na I Liga, o 8.º lugar. Em 1999-00 voltou ao Benfica para ser adjunto de Jupp Heynckes. Passou por emblemas como Rio Ave, União de Leiria, Varzim, Torreense, Ovarense, Nacional, Maia, Académica, Paços de Ferreira, Louletano e Cova da Piedade e também teve aventuras no estrangeiro, na Argélia, na Grécia e na Arábia Saudita, mas sempre muito longe do nível que havia atingido como jogador. 



 



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