O único jogador (duplamente) campeão pelos três grandes de Portugal. Quem se lembra de Eurico Gomes?
Eurico Gomes brilhou nas defesas de Benfica, Sporting e FC Porto
Transmontano nascido em Santa
Marta de Penaguião, foi viver para a Grande Lisboa ainda em tenra idade. Aos 14
anos começou a trabalhar como aprendiz de mecânico numa oficina de automóveis
na Póvoa de Santo Adrião, concelho de Odivelas, enquanto jogava futebol num
emblema local, o Várzea, ao serviço do qual captou a atenção de Mário Coluna,
que o quis levar para o Benfica.
Eurico recusou, uma vez que passaria a ganhar cinco vezes menos do que na
oficina, e foi jogar de graça para o Odivelas.
Contudo, as águias
voltaram à carga e levaram-no em 1970, numa altura em que ainda atuava como médio.
Foi nas camadas jovens dos encarnados
que recuou para o centro da defesa e chegou às seleções jovens, tendo feito a
estreia por uma equipa das quinas, no caso a de sub-18, em março de 1974. Quando subiu a sénior foi
integrado no plantel principal do Benfica,
mas teve de passar um ano em branco, só a atuar nas reservas, antes de se
estrear, tendo beneficiado da saída de Humberto Coelho para ganhar um lugar no eixo
defensivo benfiquista
em 1975-76. Entretanto, Humberto voltou à Luz
em 1977-78 e os dois formaram uma grande dupla, o que levou Eurico a
valorizar-se ao ponto de passar a fazer parte das escolhas da seleção
nacional a partir de setembro de 1978.
Ainda assim, a temporada 1978-79
não lhe correu particularmente bem, o que levou o Benfica
a não avançar para a renovação de contrato, depois de 114 jogos e um golo em
quatro anos. Quem aproveitou foi o presidente do Sporting,
João Rocha, apesar de os dirigentes encarnados
ainda o terem tentado convencer a renovar à última hora. Nesse verão quente de
1979, Fidalgo também se mudou da Luz
para Alvalade,
enquanto Botelho e João Laranjeira fizeram o percurso inverso. Aos dois campeonatos que havia
vencido no Benfica
(1975-76 e 1976-77), juntou mais dois ao serviço do Sporting,
em 1979-80 e 1981-82, conseguindo mesmo vencer a dobradinha na época do segundo
título. Foi o patrão da defesa leonina
ao longo de três anos, nos quais atuou em 116 partidas e apontou dois golos, o
que lhe valeu a distinção com o Prémio Stromp na categoria Atleta Profissional
em 1981.
No verão de 1982, porém, viu-se
novamente envolvido numa situação em que a renovação de contrato não avançou.
Seduzido por José
Maria Pedroto, mudou-se, tal como Augusto
Inácio, para o FC
Porto, clube ao serviço do qual viveu a consagração plena. Além de ter cumprido
a tradição de ganhar dois campeonatos (em 1984-85 e 1985-86), venceu uma Taça
de Portugal (1983-84) e duas Supertaças
(1983 e 1984), ajudou os dragões
a chegar
à final da Taça das Taças em 1983-84 e somou 129 partidas e seis golos com a
camisola azul e branca. Paralelamente, brilhou no Euro 1984,
no qual Portugal
atingiu as meias-finais, o que levou o jornal italiano La Repubblica a considera-lo
o melhor defesa central da Europa. Quando tinha apenas 29 anos e era
titular indiscutível no FC
Porto, partiu uma perna após um choque com o benfiquista
Nunes no jogo inaugural da época 1985-86 e nunca mais recuperou o nível que
havia exibido anteriormente.
Só viria a reaparecer nos
relvados mais de dois anos de depois, em 1987-88, com a camisola do Vitória
de Setúbal, clube ao serviço do qual encerrou a carreira em 1989, aos 33
anos. “O presidente, Fernando
Oliveira, quis construir uma grande equipa, crescida e madura, que não
suscitasse dúvidas. E não suscitou. Foi uma grande época. A primeira grande
aquisição foi o Manuel
Fernandes, porque ele e Fernando
Oliveira tinham uma grande amizade. Depois surgiram os convites a outros em
final de carreira, como eu, que vinha de uma lesão grave e tinha entrado em
litígio com a equipa técnica de Tomislav Ivic no FC
Porto”, contou ao Diário
de Notícias em janeiro de 2018. “Queria acabar a carreira e
provar que não estava aleijado. Dizia-se que eu estava acabado e até que tinha
uma perna maior do que a outra, mas isso ficou dissipado com a minha ida para
Setúbal. O Manuel
Fernandes tinha chamado o Jordão, que inicialmente não estava recetivo e
motivado, mas influenciei-o e ele aceitou. Juntámo-nos ao Mészáros
e ao Zezinho, que já lá estavam, e criámos um Vitória
de Setúbal quase a reeditar o Sporting”,
prosseguiu, sobre uma equipa que tinha cinco antigos jogadores, um ex-treinador
e um ex-preparador físico do Sporting,
todos campeões nacionais em 1981-82 em Alvalade.
Logo após pendurar as botas,
tornou-se treinador. Um dos seus melhores trabalhos foi ao leme do Tirsense,
conseguindo conquistar o título de campeão da II
Liga em 1993-94, seguido da melhor classificação de sempre do clube na I
Liga, o 8.º lugar. Em 1999-00 voltou ao Benfica
para ser adjunto de Jupp Heynckes. Passou por emblemas como Rio
Ave, União
de Leiria, Varzim,
Torreense,
Ovarense,
Nacional,
Maia,
Académica,
Paços
de Ferreira, Louletano
e Cova
da Piedade e também teve aventuras no estrangeiro, na Argélia, na Grécia e na
Arábia Saudita, mas sempre muito longe do nível que havia atingido como
jogador.
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