quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Franceses no Benfica. Dois campeões em sete antes de Meité

Sete futebolistas franceses jogaram no Benfica antes de Meité
Contratado ao Torino por seis milhões de euros, o médio Soualiho Meïté vai tornar-se no oitavo jogador francês a atuar pelo Benfica, acrescentando o seu nome a uma história ainda muito recente, iniciada já no século XXI, numa altura em que a seleção de França já tinha vencido dois Campeonatos da Europa (1984 e 2000) e um Mundial (1998), ainda não teve episódios particularmente felizes. Afinal, só dois dos sete gauleses que jogaram de águia ao peito foram campeões. E nem esses nem os outros cinco foram titulares indiscutíveis.

Ainda assim, em 1994 reforçou os encarnados um reforço francês de peso, o médio Jean-Jacques Eydelie, mas que não chegou a estrear-se oficialmente pelo emblema lisboeta. Campeão europeu pelo Marselha em 1993, quando se transferiu para o Benfica vinha de um ano sem jogar, devido ao envolvimento num caso de manipulação de resultados que lhe valeu ainda 17 dias na cadeia. 

Precisamente no ano em que o Benfica comemorou o centenário, em 2004, chegou à Luz não um, mas dois futebolistas franceses. O primeiro, o guarda-redes Yannick, era uma espécie de namoro antigo dos encarnados, que há várias épocas perseguiam o guardião que desde 2001 brilhava na baliza do Alverca, depois de ter entrado em Portugal pela porta da Naval no ano anterior.
Yannick Quesnel
“A hipótese surgiu já no final da primeira época que eu fiz no Alverca, mas faltava pagar uma percentagem da transferência à Naval. A Naval pediu dinheiro, a tal metade da transferência, mas não houve acordo entre Alverca, Benfica e Naval. Em 2004, no final da temporada acabámos por descer, mas fiquei livre, o meu contrato terminava, e houve uma proposta do Vitória de Guimarães, com o Jorge Jesus, e também do Benfica, com o José Veiga. A minha ideia era ir para o Vitória, mas a situação era complicada, porque o Palatsi ainda estava lá, e enquanto ele não saísse, não havia espaço para assinar, e assim fui para o Benfica, que foi mais rápido a tratar de tudo”, afirmou em janeiro de 2017, em entrevista ao blogue Prémio Carreira.
Embora Giovanni Trapattoni também contasse com o até então titular Moreira e o recém-contratado Quim, o treinador italiano apostou no guardião natural de Libourne, no sudoeste francês, para o primeiro jogo da época, frente ao Anderlecht, relativo à primeira-mão da terceira pré-eliminatória de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões. O Benfica venceu (1-0) e Yannick não sofreu golos, mas o guarda-redes gaulês não voltou a jogar de águia ao peito.
“Esperava jogar mais, mas fui logo enganado pelo sistema. Estavam lá dois bons guarda-redes internacionais, Quim e Moreira, que voltavam do Euro com a Seleção. Fiz a pré-temporada como titular, joguei na primeira-mão da Liga dos Campeões e na segunda-mão, fomos ao Anderlecht disputar a eliminatória, com o mister Trapattoni. Na véspera fizemos um treino para preparar a equipa, eu estava como titular, juntamente com cinco outros jogadores. Fizemos um bom treino e recebemos os últimos conselhos do mister para o jogo. Estávamos todos preparado para disputar esse jogo importante. Na tarde do jogo, tivemos a habitual palestra, e quando chegamos lá, o mister e o José Veiga estavam a falar e pediram-nos para esperar mais dez minutos lá fora, que foi o que fizemos. Quando descobrimos a equipa que ia jogar, foi uma surpresa e uma grande deceção para seis jogadores, incluindo eu. Não era o Trapattoni que mandava, mas sim o José Veiga, que foi quem mudou a equipa toda, e resultou numa derrota por 3-0, como se devem recordar. Em Lisboa, falei com o Trapattoni, e o seu discurso foi mesmo este: ‘sabes Yannick, não tenho nenhuma obrigação para dar razões do quem joga ou não, mas tu és uma boa pessoa, então, aqui não posso fazer como eu quero e, por causa disso, não vais jogar muito’. Depois tentei falar com o José Veiga, mas ele dizia mentira sobre mentira...”, contou.
A meio dessa época foi emprestado ao Estoril e na temporada seguinte foi cedido ao Marselha, terminando depois a ligação contratual ao Benfica.


Manuel dos Santos
Também no verão de 2004 reforçou o Benfica o lateral esquerdo Manuel dos Santos que, curiosamente, até nasceu na cidade de Praia, em Cabo Verde. Titularíssimo no Marselha nas quatro épocas anteriores, tinha sido escolhido para o melhor onze do ano da Ligue 1 e pré-convocado para a seleção francesa em 2003, além de ter tido um importante na caminhada do emblema do sul de França até à final da Taça UEFA no ano seguinte.
“Na altura conheci um primo de José Veiga, que lhe deu o meu número. Falei com o Veiga e foi ele quem me convenceu. Já levava quatro anos de Marselha e estava com 29 de idade. Eu queria jogar no estrangeiro. Mas até ao dia em que falei com Veiga, não pensava jogar no Benfica ou Portugal. Na verdade, quando comecei a falar com ele, passados dois minutos percebi que podia ser muito bom para mim”, recordou ao Maisfutebol em março de 2020.
Porém, na Luz teve de lidar com a concorrência do grego Fyssas, que tinha acabado de se sagrar campeão europeu, e por isso nunca foi titular indiscutível, ainda que em 2004-05 tivesse jogado mais nove jogos – 34 contra 25 – do que o helénico, numa época em que um golo ao Heerenveen num jogo da Taça UEFA e na qual se sagrou campeão nacional – desde 1993-94 que as águias não conquistavam o título.
“O meu passado no Benfica foi muito bom, fomos campeões, fiz amizade com Luisão, Geovanni, Nuno Gomes, Simão… é uma parte da minha vida que fica gravada. Foi um momento alto na carreira, até porque já conhecia o Benfica, em Cabo Verde só se fala no Benfica, por isso, jogar lá era bom, ser campeão foi maravilhoso”, contou.
“Passei um ano com Trapattoni, como homem era uma pessoa agradável e gentil, como treinador duro e exigente. Mas essa exigência levou-nos ao título. O FC Porto não fez um grande campeonato, mas nós concentrámo-nos nos nossos jogos. Em certos momentos, o Benfica não jogou muito bem, mas no final, o que fica marcado na história é que foi o Benfica quem foi campeão e só isso é que importa”, acrescentou.
Na temporada seguinte Fyssas deixou a Luz, mas chegou o brasileiro Léo, que assumiu a titularidade de forma mais efetiva já sob o comando técnico de Ronald Koeman. Após quatro jogos até dezembro de 2005, Dos Santos voltou ao futebol francês para defender a camisola do Mónaco, clube que já tinha representado ao mais alto nível entre 1994 e 1997.
“Os adeptos cantam do primeiro minuto até ao final, são fanáticos, não encontrei isto em mais nenhum lado. No Benfica, os adeptos têm mais proximidade com os jogadores, têm mais respeito, mais carinho”, confessou.



Laurent Robert
Quem ainda esteve quase a coincidir no plantel benfiquista com Manuel dos Santos foi o extremo Laurent Robert, que chegou à Luz em janeiro de 2006 aos 30 anos, com o estatuto de internacional francês, tendo inclusivamente vencido a Taça das Confederações 2001, e depois de passagens bem-sucedidas por Montpellier, Paris Saint-Germain e Newcastle.
Depois de ter jogado no Portsmouth na primeira metade da temporada não entrou de caras no onze de Ronald Koeman, mas foi bastante utilizado, tendo atuado em 20 jogos (12 a titular) e marcou três golos, um dos quais numa vitória caseira sobre o FC Porto.
“É uma grande memória que eu tenho do futebol”, começou por contar ao Maisfutebol, acerca do grande golo de livre direto que marcou a Vítor Baía no clássico. “Joguei sobre a direita nesse jogo, numa diagonal sofri uma falta e marquei o livre. A bola saiu forte, bateu no chão e passou por cima do Vítor Baía. Acho que ele não foi muito feliz naquela jogada. É um grande jogo, o maior clássico em Portugal, por isso lembro-me bem do jogo, da atmosfera, do golo, de tudo”, acrescentou.
Ainda assim, não ficou no plantel na época seguinte, acabando por rumar aos espanhóis do Levante. “Todas as semanas vou ver os resultados. Serei sempre adepto e espero que o Benfica seja campeão. Seria uma festa muito grande. Quando joguei aí estávamos numa fase de mudança. Sei que agora o Benfica tem tudo e fico feliz. É o maior clube em Portugal”, revelou, em dezembro de 2009.



Hassan Yebda
Dois anos depois de um guarda-redes, um defesa e um atacante, no verão de 2008 o Benfica reforçou-se com um médio francês que, entretanto, se tornou internacional argelino: Hassan Yebda. Nascido em Saint-Maurice, nos subúrbios de Paris, e internacional gaulês pelas seleções jovens, chegou à Luz proveniente do Le Mans.
Embora fosse um desconhecido e tivesse a concorrência de jogadores como Katsouranis, Rúben Amorim ou Carlos Martins, Quique Flores deu-lhe a titularidade durante praticamente toda a temporada 2008-09, tendo atuado num total de 34 jogos (26 a titular) e marcou dois golos, um dos quais num empate no Dragão frente ao FC Porto. “Começámos bem o campeonato e depois de fevereiro começámos a jogar de uma maneira diferente e perdemos muitos pontos. O final da época não acabou bem. Sabemos que uma época se joga do início ao fim e nós não acabámos bem, acabou por não ser uma boa época”, afirmou ao zerozero em agosto de 2020.
A época seguinte ainda foi iniciada de águia ao peito, mas após ter sido suplente não utilizado na jornada inaugural foi emprestado aos ingleses do Portsmouth. Depois foi novamente cedido, ao Nápoles, e, entretanto, assinou a título definitivo pelo Granada.
“As coisas correram-me bem lá. Gostei dos jogadores, do staff e dos dirigentes com quem trabalhei. Tenho muito respeito pelo clube. Cometi o erro de deixar o Benfica. Fui eu que forcei. Jesus queria muito que ficasse. Foi mesmo um erro”, disse em entrevista ao portal sfr.fr em outubro de 2016.



Lionel Carole
Se Yebda saiu com Jorge Jesus, foi com o técnico amadorense que em janeiro de 2011 chegou o lateral esquerdo Lionel Carole, na altura um menino de 19 anos que era presença habitual nas seleções jovens francesas.
Contratado ao Nantes como uma aposta de futuro, mas também para fazer sombra a Fábio Coentrão, foi utilizado em seis jogos no campeonato (todos como titular) na reta final de 2010-11 e na época seguinte foi emprestado ao Sedan.
Em 2012-13 voltou à Luz, tendo atuado por 39 vezes e marcado um golo pela equipa B, mas depois terminou a ligação com os encarnados para rumar ao Troyes, tendo posteriormente chegado a clubes como Galatasaray e Sevilha.



Passagem mais discreta pela Luz – ou melhor, pelo Seixal – foi a do médio Logan Martin, que em 2015-16 disputou 19 jogos e marcou quatro golos pelos juniores benfiquistas. Filho de um antigo defesa de Mónaco e Marselha, Lilian Martin, chegou proveniente do Cannes e depois rumou ao Génova. Aos 22 anos, está sem clube desde 2018, quando representou os escoceses do Dundee United.


Sébastien Corchia
Seguiu-se um lateral direito com estatuto de internacional francês e que prometia finalmente destronar André Almeida: Sébastien Corchia. Depois de épocas extraordinárias ao serviço do Lille, o defesa natural de Noisy-le-Sec, arredores de Paris, sentiu algumas dificuldades em impor-se no Sevilha e por isso foi emprestado pelos andaluzes ao Benfica no verão de 2018.
Porém, também não foi feliz em Lisboa, não indo além de oito jogos (sete a titular) pela equipa principal e dois pelos bês. Ainda assim, sagrou-se campeão nacional. “Foi um prazer jogar neste Estádio lendário e nesta cidade linda. Quero agradecer a todos os benfiquistas, vocês foram espetaculares. Foi fantástico poder ganhar um Campeonato ao serviço deste grande clube”, afirmou, aquando da despedida da Luz.
Depois voltou ao Sevilha, que o emprestou ao Espanyol, mas ainda não voltou a reencontrar a felicidade.




Todibo
Por último - antes de Meité, claro -, reforçou o Benfica no verão de 2019 o defesa central Jean-Clair Todibo, por empréstimo do Barcelona. Embora tivesse chegado à Luz proveniente de um dos maiores clubes do planeta e de ter no currículo cinco internacionalizações pelos sub-20 de França e passagens por Toulouse e Schalke 04, aterrou em Lisboa lesionado e acabou por só se estrear em janeiro, numa altura em que estava já de saída. Depois de apenas dois jogos realizados às ordens de Jorge Jesus, um para a Taça de Portugal e outro para a Taça da Liga, foi recambiado para o Barça, que o cedeu de imediato aos gauleses do Nice.













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