quarta-feira, 21 de maio de 2025

Neste dia em 2003, o FC Porto de Mourinho venceu a Taça UEFA. Recorde a caminhada até à final de Sevilha

FC Porto levantou o troféu após final emocionante em Sevilha
Não foi a primeira conquista europeia do FC Porto e também não foi a última. Em termos de prestígio da competição também não foi a mais importante. Mas, para muitos, foi a mais marcante, pelo autoritarismo como os homens de José Mourinho superaram alguns adversários e pela forma épica como bateram outros.
 
Tudo começou a 26 de janeiro de 2002, dia do 39.º aniversário do treinador setubalense e também da sua estreia ao leme dos dragões. O jovem técnico pegou na equipa azul e branca em quinto lugar e conseguiu guiá-la ao terceiro posto, o último de acesso à Taça UEFA – o Benfica foi quarto classificado e, por isso, ficou fora das provas europeias em 2002-03.
 
No verão desse ano, Mourinho construiu um plantel à sua medida e os resultados começaram a aparecer no campeonato e na prova internacional. A primeira vítima foi o Polonia Varsóvia, equipa polaca que foi completamente cilindrada no Estádio das Antas a 19 de setembro: 6-0. Edgaras Jankauskas (20 e 56 minutos) e Hélder Postiga (69’ e 89’) bisaram e Derlei (37’) e Maniche (55’) completaram a lista de marcadores.
 
 
Na segunda-mão, na capital polaca, o FC Porto até se deu ao luxo de perder por 2-0, com Antoni Lukasiewicz (67 minutos) e Marcin Kus (81’) a faturar já na segunda parte.
 
 
 
Numa altura em que já lideravam a I Liga, após oito jornadas, os dragões regressaram ao antigo Estádio do Prater, que passou a ser designado Ernst-Happel-Stadion, palco da conquista da Taça dos Campeões Europeus de 1986-87, para defrontar o Áustria Viena na segunda eliminatória. Num jogo difícil, Derlei apontou o único golo do encontro aos 70 minutos.
 
 
Se a eliminatória não estava fechada, o FC Porto tratou de completar o trabalho nas Antas, onde venceu por 2-0, com golos de Postiga (29 minutos) e Derlei (86’).
 
 
 
Seguiram-se os franceses do Lens, na terceira eliminatória, ainda no final de 2002. Na primeira-mão, nas Antas, os dragões presentearam os gauleses com uma incontestável vitória por 3-0. Hélder Postiga inaugurou o marcador aos 34 minutos, num remate até algo frouxo de fora da área, muito por culpa de uma escorregadela do avançado português, mas o experiente guarda-redes Guillaume Warmuz deixou a bola passar por baixo do corpo. À beira do apito do intervalo, mais do mesmo: Postiga rematou forte de fora da área e a bola parecia controlada por Warmuz, porém, o guardião gaulês deixou escapar o esférico entre as mãos, deixando-o entrar na baliza. Um frango monumental, ainda maior do que o primeiro. A vitória dos azuis e brancos nunca esteve em causa, mas faltava dar uma estocada final na eliminatória. Acabou por ser o lituano Edgaras Jankauskas, que rendeu o ovacionado Postiga, a fazer o 3-0 final, a passe de Costinha.
 
“Uma grande exibição do FC Porto valeu uma vitória confortável por 3-0 sobre o Lens e, salvo imponderáveis, suficiente para permitir à equipa seguir em frente na Taça UEFA. Foi um jogo atípico, porque a equipa de Mourinho teve muitas oportunidades de golo e acabou por marcar por três vezes com alguma sorte – nos dois primeiros houve a colaboração do guarda-redes Warmuz, no terceiro o remate de Jankauskas sofreu um desvio no relvado e só acabou nas malhas. Mas quem joga tão bem como fizeram ontem Deco, Postiga e Cª mereceu até aquela ajuda. Warmuz, capitão da equipa, tem sido posto em causa pelo treinador e depois do jogo é bem capaz de ter perdido o lugar para Itandje, guarda-redes da seleção francesa sub-21”, escreveu o jornal Record.
 
 
Na segunda-mão, Mourinho teve respeito pelo adversário e apresentou o melhor onze disponível. O Lens mostrou outra cara e venceu por 1-0, com golo de Rigobert Song à beira da meia hora de jogo, na sequência de um canto, num lance em que Vítor Baía pareceu ser carregado no interior da pequena área. No entanto, o FC Porto conseguiu o apuramento para a quarta eliminatória.
 
“O FC Porto valeu-se da confortável vantagem de três golos que trazia da primeira mão para seguir na Taça UEFA. Numa noite calma, só um golo a meio da primeira parte – e marcado em falta sobre Baía – agitou um pouco as águas, mas não o suficiente para alguma vez a equipa portista estar em verdadeiro perigo. O jogo não foi grande coisa, mas ficou evidente no conjunto das duas mãos quem era mais forte. E ontem, sob um frio terrível, num campo muito difícil e frente a uma equipa rugosa, o onze de José Mourinho soube negociar bem o que faltava da eliminatória. Faltou, isso sim, ligar um pouco mais o seu jogo e partir para o ataque com a desenvoltura habitual de modo a não perder o encontro e interromper assim uma série que ia em nove vitórias e em 12 jogos sempre a marcar golos”, resumiu o Record, acerca de um encontro disputado a 12 de dezembro de 2002, duas semanas depois da partida das Antas.
 
 
 
Já em fevereiro de 2003, na quarta ronda, o FC Porto mediu forças com os turcos do Denizlispor. Depois de uma primeira parte sem golos, o segundo tempo trouxe sete remates certeiros, seis para os dragões e um para os visitantes. Capucho (48 minutos), Derlei (54’), Ricardo Costa (65’), Jankauskas (69’), Deco (73’) e Alenichev (82’) faturaram para os azuis e brancos, ao passo que Roman Kratochvil apontou o golo de honra da equipa que viajou desde a Turquia (78’).
 
 
Tal como em eliminatórias anteriores, o resultado folgado da primeira-mão permitiu aos azuis e brancos descomprimir no segundo jogo, tendo empatado a dois golos em Denizli. Depois de Derlei ter inaugurado o marcador aos 42 minutos, Ersen Martin (52’) e Mustafa Özkan (58’) deram a volta ao resultado no início do segundo tempo. Já nos minutos finais, Clayton fez o 2-2 final (84’).
 
 
 
Já com apenas as oito melhores equipas em prova, o FC Porto defrontou o Panathinaikos nos quartos de final, numa altura de alguma pujança do conjunto de Atenas, que havia ultrapassado a primeira fase de grupos da Liga dos Campeões nas duas épocas anteriores e que contava com alguns futuros campeões europeus por seleções, como Nikopolidis, Seitaridis, Fyssas, Basinas e Karagounis.
 
Na primeira-mão, nas Antas, o conjunto helénico saiu vencedor, graças a um golo solitário do avançado internacional polaco de origem nigeriana Emmanuel Olisadebe, aos 73 minutos.
 
“O FC Porto ficou longe das meias-finais da Taça UEFA ao perder nas Antas (0-1) com o Panathinaikos. Foi a primeira vez que a equipa não marcou num jogo a sério em toda a época e na primeira parte podia bem tê-lo feito. O segundo tempo foi pior e já se sabe que os gregos, e particularmente o Panathinaikos, são uma espécie de besta negra das Antas. Mais uma vez tiveram a sorte pelo seu lado, mas não foi só isso. Nunca é”, sintetizou o Record.
 
 
Restava aos dragões a espinhosa missão de vencer na capital grega, num estádio Apostolos Nikolaidis com um ambiente sempre hostil para com a equipa visitante. Mas o FC Porto não se intimidou e conseguiu apurar-se de forma épica, com Derlei a abrir o ativo e a empatar a eliminatória logo aos quinze minutos. A decisão foi adiada para o prolongamento, etapa na qual Derlei voltou a marcar, aos 103’, garantindo assim o apuramento portista para as meias-finais.
 
“O FC Porto conseguiu a grande proeza de eliminar o Panathinaikos em Atenas, ganhando por 2-0 e chegando pela primeira vez na sua história à meia-final da Taça UEFA. Num belo jogo, em que ainda teve que sofrer muito, dois golos de Derlei, um na primeira parte e outro também na primeira metade, mas do prolongamento, permitiram ao FC Porto uma vitória de grande significado a todos os títulos. Nunca tinha ganho na Grécia, nunca sequer tinha estado a ganhar alguma vez, mas foi capaz de enfrentar um ambiente difícil com as suas armas e acreditar numa vitória. Teve alguma sorte em certos momentos – aquela que não tinha tido há oito dias – e foi capaz de ser uma equipa, que é hoje por hoje o seu grande trunfo. Derlei foi o herói, o deus do Olimpo que, com dois golos, matou a mitologia grega mais todos os deuses que andavam a proteger as equipas de Atenas nos confrontos com os portistas”, podia ler-se no Record.
 
 
 
Nas meias-finais, o FC Porto teve pela frente um osso teoricamente ainda mais duro de roer, a Lazio, uma das principais equipas italianas naquela altura e que contava com jogadores internacionais como Angelo Peruzzi, Fernando Couto, Sinisa Mihajlovic, Diego Simeone, Dejan Stankovic, Claudio López e Enrico Chiesa.
 
Quando Claudio López inaugurou o marcador para a Lazio logo aos seis minutos, a passe de Favalli, não se podia dizer que a formação italiana estava a causar algum tipo de surpresa na Invicta, por muito forte que esse FC Porto de José Mourinho fosse. No entanto, os dragões reagiram bem e avançaram para uma noite mágica, com direito a uma impensável goleada: 4-1. Maniche, através de um remate colocado de fora da área, empatou a partida logo a seguir (10’). Derlei marcou o segundo, de cabeça após canto de Deco (28’), e o terceiro, na recarga a um livre de Deco depois de defesa incompleta de Peruzzi (50’). Postiga, servido por Alenichev, sentenciou o resultado quando faltava ainda mais de meia hora para jogar (56’). Até ao apito final, José Mourinho foi expulso ao impedir um lançamento de linha lateral de Castromán.
 
“Se há noites europeias que vão ficar na história do FC Porto e do Estádio das Antas (e aqui já não vai haver muitas mais), esta é seguramente uma delas. Não apenas porque terá carimbado o apuramento do FC Porto para a final da Taça UEFA em Sevilha, mas também por tudo o resto que a envolveu. Simplesmente memorável! O jogo, a exibição, o ambiente, o espetáculo. Quem acompanhou tudo isto ao vivo não lamentará um só pingo da chuva que ininterruptamente caiu durante o jogo e abençoou a noite mágica do dragão. O único arrepio que escorreu pela espinha dos portistas foi naquele momento em que esse tal Cláudio Lopez fez o primeiro golo da noite. Mas não haveria de ser um piolho a atravessar-se no caminho do dragão e a travar o ímpeto dos portugueses quando ainda o jogo era uma criança. Era o que faltava! Há males que vêm por bem e esse balde de água fria aqueceu ainda mais a alma portista e tornou a vida dos romanos num inferno. Aliás, com todo aquele fogo que se seguiu não admira que Roma ainda esteja a arder... José Mourinho começou a ganhar o jogo na equipa que armou para o encontro. A inclusão de Alenichev revelou-se uma medida fundamental na decisão do jogo tal foi o contributo que o russo deu à manobra atacante e não só, pois mais do que uma vez ele foi visto a fazer carrinhos no meio-campo portista. Mas se Alenichev já era previsível no onze, já Ricardo Carvalho foi uma meia surpresa. Mas foi também outra aposta certa para controlar e acompanhar os movimentos velozes de López e Chiesa. E se Mourinho optou pela arte, Mancini preferiu o músculo. Simeone não estava no programa, mas a auréola de Deco terá motivado cautelas redobradas dos italianos. Mas nem isso chegou, apesar dos romanos terem começado o jogo a ganhar. Foram os seis minutos de fama da Lazio, pois a partir daí só se viu uma equipa em campo”, escreveu o Record.
 
 
Na segunda-mão, no Olímpico de Roma, o FC Porto resistiu e segurou um empate a zero. “Fibra de campeão, nervos de aço e uma coragem sem limites, eis as características determinantes que permitiram ao FC Porto sobreviver à batalha de Roma. Sim, porque acima de tudo foi de uma batalha que se tratou. Num ambiente fantástico que terá contribuído forma decisiva para que a Lazio acentuasse o registo intimidatório com que atuou durante largo período do jogo, cada jogador do FC Porto teve de recorrer à força do seu caráter para não se deixar engolir por um autêntico vulcão. Mas o dragão a tudo isto resistiu e chegou com brilho e justiça à tão desejada final de Sevilha. Pena é que Hélder Postiga não possa jogá-la. É evidente que a vantagem das Antas permitiu ao FC Porto encarar o jogo de Roma com alguma segurança. E embora a lesão de Costinha, a juntar à ausência de José Mourinho do banco e a ilusão que a Lazio conseguiu criar entre os seus adeptos (impressionante o ambiente do Olímpico!) pudessem colocar ainda sob prudente reserva a passagem do FC Porto à final da Taça UEFA, a verdade é que só mesmo uma calamidade poderia desviar o dragão de um caminho que soube construir de forma tão notável e tão sólida”, resumiu o Record.
 
 
 
Na final, a 21 de maio de 2003, no Estádio Olímpico de La Cartuja, em Sevilha, o FC Porto enfrentou os escoceses do Celtic, que eliminaram várias equipas das principais ligas europeias na caminhada até à final, nomeadamente os ingleses do Blackburn Rovers e do Liverpool, os espanhóis do Celta de Vigo e os alemães do Estugarda, além do Boavista na meia-final, impedindo assim uma final que seria 100% portuguesa e 100% portuense. O avançado sueco Henrik Larsson era a grande figura da equipa.
 
Numa final extremamente equilibrada, os dragões nunca estiveram em desvantagem, mas estiveram pouco tempo na frente do marcador. Se Derlei abriu o ativo aos 45’, Larsson empatou aos 47’. Se Alenichev fez o 2-1 aos 54’, Larsson marcou o 2-2 aos 57’.
 
A igualdade levou a decisão para prolongamento. Já após a expulsão de Bobo Baldé, defesa do Celtic, aos 96 minutos, os azuis e brancos marcaram o golo da vitória aos 115’, por intermédio de Derlei, melhor marcador dessa edição da Taça UEFA, com 12 golos – mais um do que Larsson.
 
Durante a volta olímpica pelo estádio, Mourinho atirou a medalha para a bancada. “Estávamos a ganhar 1-0, eles empataram, depois fizemos o 2-1, eles empatam novamente e aí o prolongamento é que é difícil. Mesmo para nós, do lado de fora, é difícil, porque uma final é, na maioria das carreiras, especialmente em Portugal, algo de agora ou nunca. (…) Olhámos para aquele jogo como o jogo das nossas vidas, das nossas carreiras”, recordou Mourinho, em entrevista à The Coaches' Voice, em junho de 2019.
 
“Que noite! O FC Porto levou de Sevilha a tão desejada Taça UEFA depois de 120 minutos jogados nos limites da própria condição humana. Com um golo de prata se pintou a oiro mais uma página da história de um clube que é, desde há algum tempo, o melhor embaixador do futebol português. Por isso, temos de lhe estar gratos. E mesmo se no escaldante Olímpico de Sevilha não ficou todo o perfume do futebol que durante uma época inteira nos encantou, que importa!, ficou uma imagem de personalidade, de carácter e de capacidade de enfrentar as contrariedades com a atitude e a fé dos homens que acreditam no seu valor”, pode ler-se no Record.
 
 
 
 
   



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