Neste dia em 2003, o FC Porto de Mourinho venceu a Taça UEFA. Recorde a caminhada até à final de Sevilha
FC Porto levantou o troféu após final emocionante em Sevilha
Não foi a primeira conquista
europeia do FC
Porto e também não foi a última. Em termos de prestígio da competição
também não foi a mais importante. Mas, para muitos, foi a mais marcante, pelo
autoritarismo como os homens de José
Mourinho superaram alguns adversários e pela forma épica como bateram
outros.
Tudo começou a 26 de janeiro de
2002, dia do 39.º aniversário do treinador
setubalense e também da sua estreia ao leme dos dragões.
O jovem
técnico pegou na equipa
azul e branca em quinto lugar e conseguiu guiá-la ao terceiro posto, o
último de acesso à Taça
UEFA – o Benfica
foi quarto classificado e, por isso, ficou fora das provas europeias em
2002-03. No verão desse ano, Mourinho
construiu um plantel à sua medida e os resultados começaram a aparecer no
campeonato e na prova internacional. A primeira vítima foi o Polonia
Varsóvia, equipa polaca que foi completamente cilindrada no Estádio das
Antas a 19 de setembro: 6-0. Edgaras
Jankauskas (20 e 56 minutos) e Hélder
Postiga (69’ e 89’) bisaram e Derlei (37’) e Maniche
(55’) completaram a lista de marcadores.
Na segunda-mão, na capital
polaca, o FC
Porto até se deu ao luxo de perder por 2-0, com Antoni Lukasiewicz (67
minutos) e Marcin Kus (81’) a faturar já na segunda parte.
Numa altura em que já lideravam a
I
Liga, após oito jornadas, os dragões
regressaram ao antigo Estádio do Prater, que passou a ser designado Ernst-Happel-Stadion,
palco da conquista
da Taça dos Campeões Europeus de 1986-87, para defrontar o Áustria
Viena na segunda eliminatória. Num jogo difícil, Derlei apontou o único
golo do encontro aos 70 minutos.
Se a eliminatória não estava
fechada, o FC
Porto tratou de completar o trabalho nas Antas, onde venceu por 2-0, com
golos de Postiga
(29 minutos) e Derlei (86’).
Já em fevereiro de 2003, na
quarta ronda, o FC
Porto mediu forças com os turcos do Denizlispor. Depois de uma primeira
parte sem golos, o segundo tempo trouxe sete remates certeiros, seis para os dragões
e um para os visitantes. Capucho (48 minutos), Derlei (54’), Ricardo Costa (65’),
Jankauskas
(69’), Deco
(73’) e Alenichev (82’) faturaram para os azuis
e brancos, ao passo que Roman Kratochvil apontou o golo de honra da equipa
que viajou desde a Turquia (78’).
Tal como em eliminatórias
anteriores, o resultado folgado da primeira-mão permitiu aos azuis
e brancos descomprimir no segundo jogo, tendo empatado a dois golos em Denizli.
Depois de Derlei ter inaugurado o marcador aos 42 minutos, Ersen Martin (52’) e
Mustafa Özkan (58’) deram a volta ao resultado no início do segundo tempo. Já
nos minutos finais, Clayton
fez o 2-2 final (84’).
Já com apenas as oito melhores
equipas em prova, o FC
Porto defrontou o Panathinaikos nos quartos de final, numa altura de
alguma pujança do conjunto de Atenas, que havia ultrapassado a primeira fase de
grupos da Liga
dos Campeões nas duas épocas anteriores e que contava com alguns futuros
campeões europeus por seleções, como Nikopolidis, Seitaridis, Fyssas,
Basinas e Karagounis. Na primeira-mão, nas Antas, o
conjunto helénico saiu vencedor, graças a um golo solitário do avançado
internacional polaco de origem nigeriana Emmanuel Olisadebe, aos 73 minutos. “O FC
Porto ficou longe das meias-finais da Taça
UEFA ao perder nas Antas (0-1) com o Panathinaikos. Foi a primeira vez
que a equipa não marcou num jogo a sério em toda a época e na primeira parte
podia bem tê-lo feito. O segundo tempo foi pior e já se sabe que os gregos, e
particularmente o Panathinaikos, são uma espécie de besta negra das Antas. Mais
uma vez tiveram a sorte pelo seu lado, mas não foi só isso. Nunca é”,
sintetizou o Record.
Restava aos dragões
a espinhosa missão de vencer na capital grega, num estádio Apostolos Nikolaidis
com um ambiente sempre hostil para com a equipa visitante. Mas o FC
Porto não se intimidou e conseguiu apurar-se de forma épica, com Derlei a
abrir o ativo e a empatar a eliminatória logo aos quinze minutos. A decisão foi
adiada para o prolongamento, etapa na qual Derlei voltou a marcar, aos 103’,
garantindo assim o apuramento portista para as meias-finais. “O FC
Porto conseguiu a grande proeza de eliminar o Panathinaikos em Atenas,
ganhando por 2-0 e chegando pela primeira vez na sua história à meia-final
da Taça
UEFA. Num belo jogo, em que ainda teve que sofrer muito, dois golos de
Derlei, um na primeira parte e outro também na primeira metade, mas do
prolongamento, permitiram ao FC
Porto uma vitória de grande significado a todos os títulos. Nunca
tinha ganho na Grécia, nunca sequer tinha estado a ganhar alguma vez, mas foi
capaz de enfrentar um ambiente difícil com as suas armas e acreditar numa
vitória. Teve alguma sorte em certos momentos – aquela que não tinha tido há
oito dias – e foi capaz de ser uma equipa, que é hoje por hoje o seu grande
trunfo. Derlei foi o herói, o deus do Olimpo que, com dois golos, matou a
mitologia grega mais todos os deuses que andavam a proteger as equipas de
Atenas nos confrontos com os portistas”,
podia ler-se no Record.
Na final, a 21 de maio de
2003, no Estádio Olímpico de La Cartuja, em Sevilha, o FC
Porto enfrentou os escoceses do Celtic,
que eliminaram várias equipas das principais ligas europeias na caminhada até à
final, nomeadamente os ingleses do Blackburn
Rovers e do Liverpool,
os espanhóis do Celta
de Vigo e os alemães do Estugarda,
além do Boavista
na meia-final, impedindo assim uma final que seria 100% portuguesa e 100%
portuense. O avançado sueco Henrik Larsson era a grande figura da equipa.
Numa final extremamente
equilibrada, os dragões nunca
estiveram em desvantagem, mas estiveram pouco tempo na frente do marcador. Se
Derlei abriu o ativo aos 45’, Larsson empatou aos 47’. Se Alenichev fez o 2-1
aos 54’, Larsson marcou o 2-2 aos 57’.
A igualdade levou a decisão para
prolongamento. Já após a expulsão de Bobo Baldé, defesa do Celtic,
aos 96 minutos, os azuis
e brancos marcaram o golo da vitória aos 115’, por intermédio de Derlei,
melhor marcador dessa edição da Taça
UEFA, com 12 golos – mais um do que Larsson. Durante a volta olímpica pelo estádio, Mourinho atirou
a medalha para a bancada. “Estávamos a ganhar 1-0, eles empataram, depois
fizemos o 2-1, eles empatam novamente e aí o prolongamento é que é difícil.
Mesmo para nós, do lado de fora, é difícil, porque uma final é, na maioria das
carreiras, especialmente em Portugal, algo de agora ou nunca. (…) Olhámos para
aquele jogo como o jogo das nossas vidas, das nossas carreiras”, recordou Mourinho,
em entrevista à The Coaches' Voice, em junho de 2019. “Que noite! O FC
Porto levou de Sevilha a tão desejada Taça
UEFA depois de 120 minutos jogados nos limites da própria condição humana.
Com um golo de prata se pintou a oiro mais uma página da história de um clube
que é, desde há algum tempo, o melhor embaixador do futebol português. Por
isso, temos de lhe estar gratos. E mesmo se no escaldante Olímpico de Sevilha
não ficou todo o perfume do futebol que durante uma época inteira nos encantou,
que importa!, ficou uma imagem de personalidade, de carácter e de capacidade de
enfrentar as contrariedades com a atitude e a fé dos homens que acreditam no
seu valor”, pode ler-se no Record.
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