segunda-feira, 21 de outubro de 2024

O herói da decisiva vitória do Benfica nas Antas em 1991. Quem se lembra de César Brito?

César Brito entrou aos 80 minutos para bisar no reduto portista
Sempre que estamos em vésperas de um FC Porto-Benfica, há sempre pelo menos um jornal, uma estação de rádio ou um canal de televisão que vai à procura de declarações de um jogador muito específico. Quem? César Brito. Nunca falha! Afinal, estamos a falar de um avançado que saltou do banco aos 80 minutos para bisar na vitória encarnada nas Antas em 28 de abril de 1991 (0-2), um resultado decisivo na caminhada da equipa então orientada por Sven-Göran Eriksson rumo ao título nacional.
 
Com esse triunfo, as águias alargaram de um para três pontos a vantagem sobe os dragões, na altura comandados por Artur Jorge. Essa vitória teve outra nota de cariz histórico: foi a última do Benfica no Estádio das Antas, apesar de o reduto portista ter recebido clássicos até 2003-04. Curiosamente, as duas primeiras vitórias dos encarnados no Estádio do Dragão para o campeonato foram uma espécie de homenagem à façanha de César Brito, porque foram ambas por 2-0 e com avançados a bisar: Nuno Gomes em outubro de 2005 e Lima em dezembro de 2014.
 
Mas voltemos a focar-nos em César Brito, cuja carreira não se resumiu a esse jogo. Nasceu em Barco, no concelho da Covilhã, no seio de uma família com oito irmãos – tinha cinco irmãos mais velhos e duas irmãs mais novas.
 
 
Benfiquista e com o sonho de ser futebolista desde sempre, começou por jogar na ADF do Fundão aos 12 anos, tendo depois passado para o Sport Clube de Barco, clube pelo qual começou a jogar nos seniores aos 16 anos, quase 17.
 
Depois de ajudar o emblema da aldeia a subir à III Divisão e de uma temporada a competir no terceiro escalão, mudou-se para o principal clube do concelho, o Sp. Covilhã, no início da época 1983-84. Na temporada seguinte, a jogar ao lado de Rui Barros (emprestado pelo FC Porto), ajudou os serranos a subir à I Divisão e a atingir as meias-finais da Taça de Portugal. “Eu fui o melhor marcador nesse ano, fiz uns golinhos, umas coisas boas, e pronto, depois surgiu o Benfica”, contou à Tribuna Expresso em agosto de 2020.
 
 
As duas primeiras épocas na Luz, porém, ficaram marcadas pela escassa utilização, devido à concorrência de Manniche, Nené, Rui Águas e Diamantino. Não foi além de um total de 20 jogos (e cinco golos) pelo Benfica entre 1985 e 1987, mas contribuiu para a conquista da Supertaça Cândido de Oliveira em 1985, da Taça de Portugal em 1985-86 e da dobradinha em 1986-87.
 
Seguiram-se dois anos positivos no Portimonense, por empréstimo das águias, tendo nesse período faturado por 14 vezes em 52 jogos, o que lhe permitiu estrear-se pela seleção nacional A quando ainda era jogador dos algarvios, em 1989, somando nesse ano as sete primeiras de 14 internacionalizações. Pelo meio, sofreu um grave acidente de viação em Pombal no qual perdeu uma filha e que o afastou dos relvados durante meia temporada, numa altura em que até era para regressar ao Benfica.
 
 
O regresso à Luz acabou por ser efetivado no início da época 1989-90, marcada pela caminhada até à final da Taça dos Campeões Europeus, perdida em Viena para o AC Milan (0-1). César Brito marcou dois golos nesse percurso, ambos aos húngaros do Budapest Honvéd.
 
 
Contudo, foi na temporada que se seguiu que atingiu o seu momento de maior notoriedade, o tal bis nas Antas que embalou os encarnados para o título. “Quando entrámos no balneário era um cheiro insuportável. Há quem diga que era bagaço, outros que era sulfato. Era um ardor nos olhos. Aquilo foi uma coisa horrível, abrimos uns chuveiros, mas era impossível estar ali. E então tivemos de nos ir equipar nos corredores que davam acesso aos balneários. E a revolta foi tanta que nos deu uma força extra e o Benfica fez um jogo espetacular. Recordo o Rui Águas, que fez um jogão, eu de vez em quando ainda vejo esse resumo. Toda a equipa com uma vontade enorme, provocado pelo que aconteceu e não só, porque queríamos ser campeões. Recordo que comecei a aquecer muito cedo, ainda no início da segunda parte, estive a aquecer muito tempo, levei com muitas moedas de 50 escudos, aquelas moedas grandes. Da bancada mandavam-me com as moedas para a zona onde estava a fazer o aquecimento e ainda apanhei algumas, punha no bolso do fato de treino. Ainda juntei umas quantas moedas. Depois entrei aqueles 10 minutos e fui feliz”, recordou.
 
 
Jogos como esse às ordens de Sven-Göran Eriksson fizeram-no ganhar o rótulo de arma secreta, o tal jogador que é decisivo no papel de substituto utilizado. Porém, em 1991-92 foi a temporada em que foi mais vezes titular e também aquela em que faturou mais: 13 remates certeiros em 37 partidas, 24 delas no onze inicial.
 
 
Esse ímpeto foi perdido em outubro de 1992, já com Tomislav Ivic no comando técnico, quando sofreu uma grave rutura na coxa, teve de ser operado e ficou sem jogar até maio de 1993.
 
 
Já sem a influência de outrora, sagrou-se campeão nacional em 1993-94, às ordens de Toni, não tendo saído do banco nos célebres 3-6 em Alvalade – curiosamente, foi suplente utilizado no jogo dos 7-1, em dezembro de 1986. “Estive nos bons e nos maus momentos”, lembrou.
 
Na época a seguir, apanhou Artur Jorge como treinador e perdeu definitivamente espaço, acabando por rumar ao Belenenses no verão de 1995, em final de contrato. “Na altura estava o João Alves no Belenenses. Ele falou comigo, estava interessado e eu pensei: porque não tentar um aninho ali no Belenenses? E foi muito bom. Joguei muitas vezes e fui o melhor marcador do clube naquele ano, as coisas correram muito bem”, recordou, sobre uma temporada em que apontou nove golos em 27 jogos oficiais e ajudou os azuis do Restelo a obter um honroso sexto lugar na I Liga.
 
 
A parceria entre João Alves e César Brito correu tão bem que foi exportada para Espanha em 1996-97. “O João Alves vai para o Salamanca e voltou a falar comigo, para saber se eu queria. E porque não jogar no estrangeiro? Também era uma experiência nova e aceitei. Foi das melhores coisas que me aconteceram. (…) Pela idade que tinha, não tinha ilusões. Jogava muita vez, criámos um grupo de trabalho espetacular, com alguns portugueses que foram daqui, juntou-se o Pauleta, joguei muitas vezes com ele, fazíamos uma dupla espetacular, fazíamos golos. Tive dois anos em Salamanca brutais, lindos”, afirmou o avançado, autor de 22 remates certeiros em 73 partidas pelo emblema espanhol entre 1996 e 1998, tendo contribuído para a promoção à La Liga em 1997.
 
 
Na reta final da carreira representou ainda o Mérida, na II Liga Espanhola, e disputou um jogo pelo Sp. Covilhã em 1999-00, mas sofreu uma rutura muscular e pendurou as botas em seguida.
 
 
Após encerrar a carreira dedicou-se a vários negócios na zona onde nasceu e cresceu: já teve um restaurante, uma marisqueira e uma discoteca.







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