terça-feira, 24 de setembro de 2024

O mundialista e campeão pelo Boavista que despontou no Vitória FC. Quem se lembra de Frechaut?

Frechaut despontou no Vitória antes de brilhar no Boavista
Jogador polivalente, capaz de atuar como lateral direito e médio defensivo, foi um dos destaques do Boavista campeão nacional em 2000-01. Na mesma altura o então selecionador nacional António Oliveira fez dele um internacional A e, um ano depois, levou-o ao Mundial da Coreia do Sul e do Japão.
 
Mas a vida e a carreira de Nuno Miguel Frechaut Barreto, que ficou conhecido pelo apelido que herdou da bisavó francesa, não se resumem a esse período. Filho de um serralheiro tubista e de uma funcionária de uma escola, ambos moçambicanos, nasceu em Lisboa, mas foi viver para Setúbal quando ainda tinha poucos meses de idade.
 
À beira-Sado fez-se homem e… futebolista. Cresceu no bairro dos Índios, ao lado da Bela Vista, e foi lá que começou a jogar à bola. Depois foi jogar futebol de cinco no Ídolos da Praça, mas por insistência de um vizinho, que jogava no Vitória, fez captações no clube mais representativo da cidade. Convenceu, ainda com seis ou sete anos, e só saiu dos sadinos já sénior, aos 22.
 
Presença assídua nas jovens seleções nacionais desde que se estreou pelos sub-15 em abril de 1993, começou a treinar na equipa principal do Vitória em 1995-96, então às ordens de Quinito, mas só fez a estreia na época seguinte, pela mão de Mário Reis. A afirmação não foi imediata, mas gradual, e coincidiu com o apuramento para a Taça UEFA em 1999 – o primeiro do clube em 25 anos –, sob a orientação de Carlos Cardoso.
 
 
Pelo meio, provocou uma fumarada no hotel em que a equipa estagiava. “Eu ficava no quarto com o Mário Loja, éramos os mais novos da equipa. Éramos brincalhões e um pouco inconscientes, e após o almoço vínhamos a brincar no corredor e ele pegou no extintor do hotel e ameaçou que ia disparar. Eu tirei-lhe aquilo das mãos, tirei a cavilha e disparei. Só que eu não sabia que aquilo fazia tanta fumarada. Foi só um toque pequeno no extintor, mas saiu imenso pó que encheu o corredor. Ficámos apavorados, deixámos o extintor no sítio e fomos a correr para o quarto. Passados alguns minutos, fui ao corredor e encontrei o Hélio, que era nosso capitão, e o Mamede, e disse-lhes: ‘Alguém já fez asneira no corredor’. O diretor do hotel, entretanto, chamou o treinador e houve reunião de grupo para saber quem foi e assumimos a culpa. Na altura o mister Cardoso virou-se para nós e disse: ‘Amanhã jogamos contra o Benfica e a única coisa que vocês têm de fazer para se redimirem é serem os melhores jogadores em campo’. E a verdade é que ganhámos esse jogo e estivemos os dois bem”, revelou à Tribuna Expresso em março de 2018.
 
A ressaca da qualificação europeia não correu bem ao Vitória, que veio a ser despromovido à II Liga em 2000. Contudo, Frechaut continuou a mostrar qualidade e deu o salto para o Boavista no verão desse ano, depois de um longo assédio por parte do presidente João Loureiro e do treinador Jaime Pacheco. “O mister Jaime Pacheco, que sempre mostrou algum interesse em mim, fez-me chegar esse interesse através do presidente do clube, o João Loureiro, com quem me cruzava algumas vezes nas seleções porque fazia viagens connosco. Ele já me dizia que um dia havia de ver-me de xadrez. Um dia, o mister Jaime Pacheco chamou-me a uma casa que ele tinha, não sei se ainda tem, em Palmela. No tempo de férias eu tinha feito um torneio de futebol de 7, em Palmela, e ele chamou-me lá a casa. Ele disse que gostava de mim, que me apreciava, perguntou se eu gostaria de trabalhar com ele. Disse obviamente que sim. Entretanto as negociações seguiram via clube”, recordou.
 
Ao Bessa chegou, viu e venceu. Alternou entre a titularidade e o banco de suplentes durante a primeira metade da época como um polivalente que podia atuar à direita da defesa ou no meio-campo, mas a partir de abril de 2001 afirmou-se como lateral direito titular no onze de Jaime Pacheco, aproveitando uma lesão de Rui Óscar, contribuindo para a conquista do título nacional. “Foi uma época fantástica, foi uma época de muita luta, de muito sofrimento, em que demos tudo. Tínhamos um grupo fantástico, éramos mais do que as pessoas dizem. Muitas dizem que éramos uma equipa de sarrafeiros. Éramos realmente uma equipa muito agressiva, era uma equipa que se calhar o futebol português não estava à espera. Para além de ser uma equipa agressiva, tinha qualidade e jogadores com muita qualidade e acabámos por conseguir chegar ao final do campeonato na frente e foi muito merecido. Todos os jogadores estiveram unidos, todos sabiam o que é que queriam fazer, qual era o objetivo. E foi muito bom, muito bom”, lembrou.
 
 
Em junho de 2001 fez a estreia pela seleção nacional A logo no terreno da principal adversária na qualificação para o Mundial 2002, a República da Irlanda, e a partir daí passou a figurar entre as escolhas habituais de António Oliveira, que também o chamou para a fase final. No único jogo em que participou no Campeonato do Mundo, Portugal goleou a Polónia por 4-0. Entretanto, jogou na Liga dos Campeões pelo Boavista e ajudou os boavisteiros a sagrarem-se vice-campeões nacionais em 2001-02.
 
 
Nos dois anos que se seguiram somou mais quatro internacionalizações às ordens de Luiz Felipe Scolari, mas acabou preterido das escolhas finais para o Euro 2004, tendo como consolação a chamada aos Jogos Olímpicos de Atenas, no mesmo verão.
 
Em janeiro de 2005 foi um dos muitos portugueses que se transferiu para o Dínamo Moscovo e nem por isso desapareceu totalmente do radar da seleção nacional, tendo somado as duas últimas internacionalizações da carreira em novembro de 2005.
 
Acabou por regressar a Portugal no início de 2006, pela porta do Sp. Braga, na altura um clube a querer cimentar-se como a quarta potência do futebol nacional, apesar de um interesse (não efetivado) por parte do FC Porto. “Sei que na altura o professor Jesualdo Ferreira, que estava a treinar o Sp. Braga, entrou em contacto comigo e disse que gostava muito que eu fosse para o Sp. Braga. Entretanto o presidente Salvador também me ligou e disse que gostava muito que eu fosse para o Sp. Braga. Eu nunca digo que não por respeito e porque nunca sabemos o dia de amanhã. Disse só que precisava de refletir. Passaram-se uma ou duas semanas, as coisas não evoluíam com o FC Porto, continuava a haver interesse do Sp. Braga e então decidi ir para Braga”, contou, tendo trabalhado às ordens de Carlos Carvalhal, Jorge Costa, Jorge Jesus e Domingos Paciência no emblema minhoto.
 
 
No ocaso da carreira representou ainda os franceses do Metz (2009 a 2011), a Naval na II Liga portuguesa (2011-12) e o Boavista na II Divisão B e no Campeonato de Portugal (2012 a 2014).
 
Nesta sua segunda passagem pelo Bessa voltou a ser falado nos jornais nacionais, mas pelas piores razões, pois esteve envolvido num acidente com mais dois carros na A28, na zona do Freixieiro, em Matosinhos, que culminou com a morte de outra pessoa. “Tinha saído do treino e vinha para casa. Estava na faixa da esquerda porque ia fazer uma ultrapassagem e a carrinha saiu da faixa da direita também para fazer uma ultrapassagem, bate no meu carro e pronto. A carrinha entrou em despiste e capotou e eu andei também em despiste. Eu posso até não me sentir culpado, mas só o facto de ter morrido uma pessoa, já faz com que eu sinta... pesa muito, independentemente de ser ou não culpado, não consigo esquecer... E depois, ficou uma mulher, ficou um filho, uma filha... podia ter sido eu. A questão aqui é que uma pessoa perdeu a vida e isso mexeu comigo; mexeu e mexe, nunca irei esquecer”, confessou.



 






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