segunda-feira, 10 de novembro de 2025

O guarda-redes russo na origem da detenção de Vale e Azevedo. Quem se lembra de Ovchinnikov?

Ovchinnikov esteve quatro anos e meio em Portugal
Foi internacional russo em 35 ocasiões, esteve em dois Europeus e deixou boa imagem no futebol português, apesar de assombrado por dois monstros das balizas, Michel Preud’homme e Vítor Baía, e de ter estado na origem da detenção de Vale e Azevedo.
 
Nascido a 10 de novembro de 1970 em Moscovo, fez toda a formação no Dínamo local, mas não chegou a estrear-se pela equipa principal, tendo passado pelos georgianos do Dynamo Sukhumi antes de se começar a afirmar como um dos melhores guarda-redes russos ao serviço do Lokomotiv Moscovo entre 1991 e 1997.
 
Enquanto guardião dos moscovitas venceu duas taças da Rússia (1996 e 1997), foi eleito guarda-redes russo do ano em duas ocasiões (1994 e 1995) e tornou-se num habitual convocado para a seleção do seu país, pela qual se haveria de estrear a 17 de fevereiro de 1993, após cinco internacionalizações pela seleção de sub-21 da União Soviética e duas pela seleção B da Rússia. Não foi convocado por Pavel Sadyrin para o Mundial 1994, mas esteve entre os eleitos de Oleg Romantsev para o Euro 1996.
 
Em outubro de 1996 mostrou-se em bom plano numa eliminatória da Taça das Taças diante do Benfica e entrou no radar dos dirigentes encarnados, o que culminou na sua contratação em julho de 1997.
 
 
Na altura, a baliza benfiquista tinha como dono e senhor Michel Preud’homme, mas Ovchinnikov foi aproveitando ausências do belga para jogar 27 vezes de águia ao peito ao longo de duas temporadas, tendo sofrido 23 golos.
 
 
 
Curiosamente, ambos os guardiões haveriam de deixar a Luz na mesma altura, no verão de 1999, aquando das chegadas Robert Enke e Carlos Bossio. Enquanto Preud’homme pendurou as luvas, Ovchinnikov rumou ao Alverca, num negócio com contornos estranhos: o passe do guardião russo teria sido adquirido por uma empresa denominada Florina Services por cerca de 500 mil contos (2,5 milhões de euros), numa transação que teve o agente Paulo Barbosa como intermediário, o por sua vez resultou na sua colocação nos ribatejanos em 1999-00.
 
Mais: 1 - o Alverca (então presidido por Luís Filipe Vieira) veio a servir de ponte, conforme já era amplamente noticiado na altura, para o jogador reforçar o FC Porto no início da época 2000-01, após chegar ao fim o empréstimo de Vítor Baía aos dragões por parte do Barcelona; 2 - a verba que supostamente o Benfica teria recebido nunca chegou aos cofres da Luz, o que resultou, em 2001, na detenção e condenação do ex-presidente benfiquista Vale e Azevedo, acusado de se ter apropriado de 193 mil contos (cerca de 963 mil euros) da transferência para comprar o iate Lucky Me.
 
Desportivamente, o guardião esteve em evidência no ano que passou no Ribatejo, ajudando a equipa a então orientada por José Romão a fazer uma época tranquila, sempre pontualmente distante da zona de despromoção. Atuou em 27 jogos e sofreu 38 golos, relegando para o banco Paulo Santos.
 
  
 
No verão de 2000, confirmou-se um dos segredos mais mal guardados do futebol português: Ovchinnikov assinou mesmo pelo FC Porto. Nas Antas e inicialmente sem a concorrência do recém-recontratado mas lesionado Vítor Baía, foi dono e senhor da baliza azul e branca para o treinador Fernando Santos em 2000-01, superando os concorrentes Pedro Espinha, Rui Correia e Hilário. Disputou 48 encontros em todas as provas e sofreu 33 golos, ajudando os dragões a conquistar a Taça de Portugal.
 
 
 
Na temporada seguinte também começou por titular, já com Octávio Machado no comando técnico, contribuindo para a conquista da Supertaça Cândido de Oliveira e para o apuramento para a fase de grupos da Liga dos Campeões. Contudo, perdeu a titularidade para Paulo Santos após uma derrota com a Juventus em Turim (1-3), em outubro de 2001, após 18 partidas e 14 golos encaixados. Entretanto, Vítor Baía recuperou dos problemas crónicos no joelho direito e nunca mais se viu o russo jogar novamente de dragão ao peito.
 
 
Entretanto, voltou ao Lokomotiv no início de 2002 e em boa hora o fez. Falhou o Campeonato do Mundo da Coreia do Sul e do Japão devido a um desentendimento com o selecionador Oleg Romantsev, mas voltou à seleção em agosto de 2002, após mais de três anos de ausência, para assumir a titularidade, tendo feito a qualificação e a fase final do Euro 2004 como dono da baliza russa. No Campeonato da Europa disputado em Portugal defrontou a equipa das quinas na fase de grupos (derrota por 0-2), mas o jogo correu-lhe mal, uma vez que foi expulso com cartão vermelho direto no final da primeira parte.
 
 
Paralelamente, venceu dois campeonatos (2002 e 2004) e duas supertaças (2003 e 2005) da Rússia pelo Lokomotiv, voltando a ser eleito por duas vezes melhor guarda-redes russo do ano (em 2002 e 2003).
 
Viria a despedir-se dos relvados em 2006, aos 36 anos, com a camisola do clube em que se iniciou, o Dínamo Moscovo, após uma época em que partilhou o balneário com os portugueses Nuno Espírito Santo, Jorge Ribeiro, Frechaut, Costinha, Maniche, Danny, Cícero e Almani Moreira, assim com outros jogadores bem conhecidos do futebol luso como Derlei, Enakarhire e Seitaridis. Perdeu a cabeça no seu último jogo como profissional: foi expulso e chegou a agarrar o árbitro pelos colarinhos.
 
 
Após pendurar as luvas iniciou a carreira de treinador, quase sempre como técnico adjunto ou de guarda-redes. Já passou por Lokomotiv Moscovo, Dínamo Kiev, Dínamo Minsk, seleção russa e CSKA Moscovo, entre outros.
  







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