Recorde as melhores pérolas do “Manuelmachadês”

Manuel Machado orientou o Moreirense entre 2000 e 2004 e em 2017-18

Manuel Machado tem no palmarés um título da II Liga, dois da II Divisão B e um do campeonato nacional de juniores, mas a mais conhecida distinção que lhe é conhecida é a de homem com vocabulário mais rico do futebol português. O antigo treinador de Moreirense, Vitória de Guimarães, Nacional, Sp. Braga e Académica, entre outros, pensa numa frase e profere-a com recurso aos sinónimos mais complexos disponíveis no dicionário português.

 
A sua riqueza de vocabulário é tanta que os Gato Fedorento dedicaram-lhe um episódio da rubrica “Tesourinhos Deprimentes” do programa Diz Que É Uma Espécie de Magazine, da RTP 1, a 9 de dezembro de 2007. Diziam os humoristas que era necessário um dicionário português-manuelmachadês para compreender o treinador, que, entretanto, explicou que é algo que lhe sai naturalmente ao fim de 20 anos de docência: “Muitas vezes chegam os pais de um aluno e não podemos dizer que o menino é burro… temos de encontrar um texto alternativo.”
 
E não há alguém melhor em textos alternativos do que Manuel Machado, que um dia perspetivou um jogo equilibrado entre um clube maior e outro mais pequeno: “Vão estar em campo duas equipas que defendem emblemas de dimensão diferente, mas de alguma forma tem de ser equacionado o facto de o rendimento ser perfeitamente igual no que reporta àquilo que conseguiram realizar até à data, pelo que adivinho que o equilíbrio seja uma permanente.”
 
Em oposição, quando falou na antecâmera de um encontro que se perspetivava desequilibrado, falou num “diferencial entre as duas coletividades”.
 
Noutra ocasião, considerou um resultado justo: “No cômputo geral, essa fluidez interpretativa acaba por ter uma agradável resultante na medida em que a pontuação obtida ratifica as opções tomadas.”
 
Na mesma entrevista, referiu que a equipa que orientava, o Nacional, esteve bem coletivamente: “O Nacional, com uma postura diferenciada como é óbvio, de contenção, acabou por se mostrar um adversário bem digno.”
 
Contrariamente a essa postura de contenção existe a postura ofensiva, que é como dizer, em manuelmachadês, “uma estratégia que não pressupunha uma metodologia muito defensiva”.
 
Após outro jogo, quis explicar que o resultado não foi mau de todo: “Não é um resultado conclusivo à assunção da meta que perseguimos, mas também não podemos esbater que se trata de um passo muito importante nesse sentido.”
 
Também bastante complexa foi a forma que encontrou para dizer, depois de um encontro, que não esperava tantos golos: “A resultante do jogo, no seu resultado volumoso, acaba por ser o fator mais surpreendente da partida.”
 
Numa altura em que orientava o Sp. Braga, em 2007-08, apelou a uma maior constância exibicional: “Se não, tudo isto que fizemos em termos de avanços exibicionais por relação com o passado mais remoto da equipa, na época presente, dilui-se.”
 

 

Também ao leme dos bracarenses, Manuel Machado quis referir-se a um jogo da sua equipa na Taça UEFA como bonito: “Num plano mais técnico, e em termos da promoção da modalidade que é o futebol, houve um bom jogo de futebol em Braga no plano estético.”
 
Por outro lado, quando liderava o Moreirense, explicou, por palavras próprias, que a equipa já tinha um modelo de jogo consolidado: “No jogo padronizado, há processos que já estão adquiridos e automatizados.”
 
Já quando comandava a Académica, algures em 2006 ou 2007, quis salientar que a briosa corrigiu erros: “A Académica retificou alguns procedimentos que tinha, de alguma maneira, denunciado como deficitários.”
 
E, normalmente, quando há muitos procedimentos deficitários, as equipas estão nos últimos lugares da classificação, o que equivale a dizer “lugares da parte terminal da tabela classificativa”.
 
E para as equipas que estão nos lugares da parte terminal da tabela classificativa, não perder com os grandes já é bom um resultado. Antes de um desses jogos, assumiu a missão de “obstar que o FC Porto leve facilmente de Vila das Aves os pontos que estão em disputa". Missão essa que não era impossível, até porque “o futebol, felizmente, é um jogo e muitas vezes os pressupostos teóricos e o potencial teórico que é apresentado à partida é desmentido dentro do terreno de jogo”.
 
Noutra situação, manifestou mesmo que esperava ganhar um jogo: “Tenho a esperança de ter mais um golo marcado, no final do jogo, do que o meu adversário.” E esse golo tanto poderia surgir no início como na “parte terminal do encontro”.
 
Até a criticar a arbitragem Manuel Machado conseguiu ser elegante, preferindo, como texto alternativo, dizer que “o critério disciplinar é extremamente agudo”. Porém, depois de uma visita ao Estádio do Dragão não teve meias palavras: “Este tipo que andou ali no meio do terreno não presta.”
 
Já numa ocasião em que perdeu mesmo as estribeiras, numa altura em que comandava o Moreirense e chamou filho da puta a alguém, explicou que não queria realmente dizer aquilo que disse: “Nada do que eu disse vai no sentido de melindrar essa cidadania e os seus direitos, tudo o que eu disse é contextualizado a um processo desportivo.”
 
E, para terminar, um desejo de Feliz Natal em Manuelmachadês: “Sobretudo para os que professam a religião católica, que são quem o celebra, e numa fase em que as questões materiais denunciam dificuldades, que este seja um Natal que recupere, fundamentalmente, o nascimento de Jesus, os afetos e o sentimento familiar que todos queremos e que infelizmente nos últimos tempos se têm vindo a perder.”