terça-feira, 9 de maio de 2023

Ainda a digerir a despromoção do Vitória…

Vitória de Setúbal caiu no Campeonato de Portugal
Ainda estou a digerir a despromoção do ‘meu’ Vitória. Que dor. Que azia. A permanência estava na mão depois de uma montanha russa de emoções nas últimas semanas e tudo foi por água abaixo ao cair do pano. Só agora, mais de 48 horas depois de ter ficado petrificado no Bonfim e de me ter arrastado até ao carro na zona da Algodeia, me sinto capaz de escrever qualquer coisa sobre o assunto.
 
Quando no início da temporada vi um plantel que me parecia equilibrado, com duas opções para cada posição, e que mesclava titulares da época passada, alguns produtos da cantera, futebolistas que procuravam relançar a carreira após temporadas menos conseguidas na II Liga, outros que eram presenças habituais em equipas de topo do terceiro escalão e ainda jogadores que andavam perdidos no Campeonato de Portugal e na Liga Revelação, nunca imaginei um desfecho destes.
 
Não consigo elaborar uma conclusão clara sobre o que motivou esta descida de divisão, embora possa enumerar alguns possíveis motivos.
 
Num campeonato equilibradíssimo como é a Liga 3, o Vitória foi sempre uma equipa muito permeável defensivamente, que se desequilibrava e abria buracos com facilidade – provas disso são a autoestrada que se abriu no lance da expulsão de François frente ao Real e a forma como o Oliveira do Hospital encontrou espaço para marcar o golo da permanência no Bonfim, numa fase em que o Vitória encostou nove jogadores de campo (mais por iniciativa própria do que por imposição do adversário) à baliza de Mika e praticamente abdicou de contra-atacar.
 
No final do ano passado abordei aqui da questão das bolas paradas defensivas, mas também tenho a perceção que os sadinos foram uma equipa com uma percentagem baixíssima de bolas divididas ganhas, tanto aéreas como à flor da relva – é uma pena que não existam dados estatísticos que o possam comprovar. E um dos jogadores com mais fragilidades neste aspeto foi precisamente o médio defensivo titular após a saída de José Semedo, Malam Camará, que não é propriamente um jogador franzino (1,89 m).
 
Embora um plantel com duas supostas boas opções por posição seja, à primeira vista, o ideal, não sei até que ponto a difícil gestão das expectativas de tanta gente que esperava jogar e a indefinição de um onze-base durante largos meses, associado à ‘distração’ que foi a campanha positiva na Taça de Portugal e o fosso pontual que sempre existiu para os lugares de acesso à fase de subida, terá minado foco e as emoções da equipa.
 
Seja como for, um desfecho destes terá de motivar consequências políticas, como se diz em política. O treinador, que em vários aspetos até melhorou a equipa, tem agora uma aura negativa que creio não ser compatível com a continuidade no cargo. O diretor desportivo, o principal responsável pela construção do plantel, terá de demitir-se ou ser demitido.  Creio que não é insensato dizê-lo.
 
Para quem gere o clube e a SAD, fica um apelo à união por parte do sócio 6600. Por favor, não risquem pessoas só por estarem associadas ao ex-presidente X ou ao ex-candidato Y. A minha perceção é a de que muitos vitorianos úteis e competentes têm sido desperdiçados nos últimos anos, o que se tem refletido, por exemplo, no scouting (aquele trabalho de sapa que levou às contratações de Pedro Tiba, Costinha ou João Amaral). Dentro dos universos Vitória e Setúbal existem soluções que podem gerar uma certa autossuficiência e que acrescentam sentimento à qualidade. E alguns têm feito bons trabalhos em clubes que nas últimas duas, três épocas concorreram diretamente com o Vitória. Falo de jogadores, treinadores e dirigentes, desde o diretor desportivo do Amora ao tipo que há oito dias marcou o golo do Real ao Vitória em Queluz.
 
Para terminar, uma palavra para os vitorianos. É preciso levantar a cabeça e continuar a acompanhar a equipa. O futebol é volátil, tanto para o bem como para o mal. Em 2003 o Vitória desceu em campo à II Liga e dois anos depois festejou a conquista de uma Taça de Portugal. Em 2013 lembro-me de chorar quando vi o (também ‘meu’) Fabril descer aos distritais e um ano depois subiu ao Campeonato de Portugal. Também em 2013 os benfiquistas choraram aquele golo do Kelvin e depois foram tetracampeões. E há tantos e tantos outros exemplos.
 
Da mesma forma que já ouvi adeptos recordar com alguma nostalgia deslocações de II Liga a Castelo Branco, Covilhã ou Santa Maria de Lamas, acredito que daqui a alguns anos ainda vão lembrar de forma nostálgica a época em que foram a Serpa, Vidigueira, Évora e Albufeira ou quando o vitorianos foram demasiados para as dimensões das bancadas e dos peões dos campos de Barreirense, Moncarapachense ou Canaviais.
 
O Vitória vai reerguer-se. Esta despromoção só vai acrescentar contornos mais épicos a esta caminhada. Viva o Vitória!











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