Vitória de Setúbal caiu no Campeonato de Portugal |
Ainda estou a digerir a despromoção do ‘meu’
Vitória.
Que dor. Que azia. A permanência estava na mão depois de uma montanha russa de
emoções nas últimas semanas e tudo foi por água abaixo ao cair do pano. Só agora,
mais de 48 horas depois de ter ficado petrificado no Bonfim
e de me ter arrastado até ao carro na zona da Algodeia, me sinto capaz de
escrever qualquer coisa sobre o assunto.
Quando no início da temporada vi
um plantel que me parecia equilibrado, com duas opções para cada posição, e que
mesclava titulares da época passada, alguns produtos da cantera, futebolistas
que procuravam relançar a carreira após temporadas menos conseguidas na II
Liga, outros que eram presenças habituais em equipas de topo do terceiro
escalão e ainda jogadores que andavam perdidos no Campeonato
de Portugal e na Liga Revelação, nunca imaginei um desfecho destes.
Não consigo elaborar uma
conclusão clara sobre o que motivou esta descida de divisão, embora possa enumerar alguns possíveis motivos.
Num campeonato equilibradíssimo
como é a Liga 3, o Vitória
foi sempre uma equipa muito permeável defensivamente, que se desequilibrava e
abria buracos com facilidade – provas disso são a autoestrada que se abriu no
lance da expulsão de François frente ao Real e a forma como o Oliveira
do Hospital encontrou espaço para marcar o golo da permanência no Bonfim,
numa fase em que o Vitória
encostou nove jogadores de campo (mais por iniciativa própria do que por
imposição do adversário) à baliza de Mika e praticamente abdicou de
contra-atacar.
No
final do ano passado abordei aqui da questão das bolas paradas defensivas,
mas também tenho a perceção que os sadinos foram uma equipa com uma percentagem
baixíssima de bolas divididas ganhas, tanto aéreas como à flor da relva – é uma
pena que não existam dados estatísticos que o possam comprovar. E um dos
jogadores com mais fragilidades neste aspeto foi precisamente o médio defensivo
titular após a saída de José
Semedo, Malam
Camará, que não é propriamente um jogador franzino (1,89 m).
Embora um plantel com duas
supostas boas opções por posição seja, à primeira vista, o ideal, não sei até
que ponto a difícil gestão das expectativas de tanta gente que esperava jogar e
a indefinição de um onze-base durante largos meses, associado à ‘distração’ que
foi a campanha positiva na Taça
de Portugal e o fosso pontual que sempre existiu para os lugares de acesso
à fase de subida, terá minado foco e as emoções da equipa.
Seja como for, um desfecho destes
terá de motivar consequências políticas, como se diz em política. O treinador,
que em vários aspetos até melhorou a equipa, tem agora uma aura negativa que
creio não ser compatível com a continuidade no cargo. O diretor desportivo, o
principal responsável pela construção do plantel, terá de demitir-se ou ser
demitido. Creio que não é insensato
dizê-lo.
Para quem gere o clube e a SAD,
fica um apelo à união por parte do sócio 6600. Por favor, não risquem pessoas
só por estarem associadas ao ex-presidente X ou ao ex-candidato Y. A minha
perceção é a de que muitos vitorianos úteis e competentes têm sido
desperdiçados nos últimos anos, o que se tem refletido, por exemplo, no scouting
(aquele trabalho de sapa que levou às contratações de Pedro Tiba, Costinha
ou João
Amaral). Dentro dos universos Vitória
e Setúbal existem soluções que podem gerar uma certa autossuficiência e que
acrescentam sentimento à qualidade. E alguns têm feito bons trabalhos em clubes
que nas últimas duas, três épocas concorreram diretamente com o Vitória.
Falo de jogadores, treinadores e dirigentes, desde o diretor desportivo do Amora
ao tipo que há oito dias
marcou o golo do Real ao Vitória em Queluz.
Para terminar, uma palavra para
os vitorianos.
É preciso levantar a cabeça e continuar a acompanhar a equipa. O futebol é
volátil, tanto para o bem como para o mal. Em 2003 o Vitória
desceu em campo à II Liga e dois anos depois festejou a conquista de uma Taça
de Portugal. Em 2013 lembro-me de chorar quando vi o
(também ‘meu’) Fabril descer aos distritais e um ano depois subiu ao Campeonato
de Portugal. Também em 2013 os benfiquistas choraram aquele golo do Kelvin
e depois foram tetracampeões. E há tantos e tantos outros exemplos.
Da mesma forma que já ouvi
adeptos recordar com alguma nostalgia deslocações de II
Liga a Castelo
Branco, Covilhã ou Santa Maria de Lamas, acredito que daqui a alguns anos
ainda vão lembrar de forma nostálgica a época em que foram a Serpa, Vidigueira,
Évora e Albufeira ou quando o vitorianos
foram demasiados para as dimensões das bancadas e dos peões dos campos de Barreirense,
Moncarapachense
ou Canaviais.
O Vitória
vai reerguer-se. Esta despromoção só vai acrescentar contornos mais épicos a
esta caminhada. Viva o Vitória!
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