sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Nórdicos no Benfica. 12 jogadores e dois treinadores antes de Tengstedt e Schjelderup

Eriksson e Stromberg foram os primeiros nórdicos a chegar à Luz
Anunciado recentemente como reforços do Benfica neste mercado de inverno e prestes a fazer a estreia de águia ao peito, o ponta de lança dinamarquês Casper Tengstedt (ex-Rosenborg) e o extremo norueguês Andreas Schjelderup (ex-Nordsjaelland) vão juntar-se ao lateral direito dinamarquês Alexander Bah e ao médio norueguês Fredrik Aursnes para dar continuidade à história de jogadores (e treinadores) nórdicos no Estádio da Luz.
 
Esta (re)aposta recente dos encarnados no mercado do norte da Europa traz à memória de muitos adeptos os plantéis benfiquistas na década de 1980 e no início dos anos 1990, que tinham como denominador comum a presença de jogadores suecos e/ou dinamarqueses. Contudo, foi necessário esperar até ao século XXI para que chegassem à Luz os primeiros jogadores noruegueses – os finlandeses e islandeses ainda terão de esperar.
 
Sven-Göran Eriksson
Mas esta história começou não com um jogador, mas sim com um treinador, que por sinal se haveria de tornar um dos mais marcantes da história do Benfica, o sueco Sven-Göran Eriksson. Acabadinho de guiar o Gotemburgo à conquista da Taça UEFA, foi contratado pelo então presidente benfiquista Fernando Martins e desde logo primou por um futebol ofensivo e pela conquista de troféus.
Durante a primeira passagem pela Luz, de dois anos, venceu a dobradinha e levou o Benfica à final da Taça UEFA (perdida para o Anderlecht, a duas mãos) em 1982-83, numa temporada em que o Benfica venceu os primeiros 15 jogos oficiais, um recorde que ainda perdura. Na época seguinte sagrou-se bicampeão, tendo rumado depois à AS Roma.
Haveria de regressar aos encarnados em 1989 para atingir a final da Taça dos Campeões Europeus em 1989-90, perdida para o AC Milan, e para conquistar o título nacional na temporada que se seguiu. Eriksson era tão conceituado que Toni, técnico que levou as águias ao título nacional em 1988-89, aceitou ser relegado para adjunto do sueco após essa conquista.
Haveria de deixar novamente a Luz em 1992 para rumar à Sampdoria.
 
 
 
Glenn Strömberg

Não foi só Eriksson que trocou o Gotemburgo pelo Benfica em 1982. Também o médio centro sueco de elevada estatura (1,91 m) Glenn Strömberg fez o mesmo trajeto, embora só se tivesse estreado de águia ao peito em fevereiro de 1983.
Em duas temporadas na Luz amealhou 44 encontros e seis jogos, tendo conquistado dois campeonatos (1982-83 e 1983-84) e uma Taça de Portugal (1982-83), tendo ainda ajudado os encarnados a atingir a final da Taça UEFA em 1982-83.
No verão de 1984 mudou-se para o futebol italiano tal como o treinador que o levou para Lisboa, mas para reforçar a Atalanta.
Internacionalmente viveu o momento mais alto da carreira em 1990, quando participou no Campeonato do Mundo realizado em Itália.
 
 
 
Michael Manniche
Quem ainda coincidiu com os suecos Eriksson e Strömberg na Luz foi o possante ponta de lança (1,92 m) dinamarquês Michael Manniche. “A minha maior qualidade? Sou mais alto do que a maioria. Acho que é mesmo a única... Não encontro outra”, declarou à chegada a Portugal.
Recrutado no verão de 1983 ao modesto Hvidovre IF e apelidado de “tosco”, conseguiu em quatro épocas tornar-se no melhor marcador estrangeiro da história do Benfica, com 76 golos em 132 jogos – entretanto, foi superado pelo Mats Magnusson (87), pelo brasileiro Jonas (137) e pelo paraguaio Óscar Cardozo (172).
Entre 1983 e 1987 conquistou dois campeonatos (em 1983-84 e 1986-87), três Taças de Portugal (1984-85, 1985-86 e 1986-87) e uma Supertaça Cândido de Oliveira (1985).
Após quatro anos de águia ao peito, transferiu-se para o Copenhaga.
 
 
 
Ebbe Skovdahl
Depois da experiência bem-sucedida com Eriksson, o Benfica voltou a contratar um treinador no mercado nórdico no verão de 1987, desta feita o dinamarquês Ebbe Skovdahl, proveniente do Brondby, clube que guiou ao título nacional dinamarquês e aos quartos de final da Taça dos Campeões Europeus nesse mesmo ano.
Contudo, a experiência não correu muito bem. Skovdahl levava dez vitórias, três empates e três derrotas em 16 jogos quando deixou o cargo, após uma igualdade a dois golos na receção ao Farense na 12.ª jornada do campeonato, a 27 de novembro de 1987, tendo sido substituído por Toni. O técnico dinamarquês deixou as águias em segundo lugar na I Divisão, em igualdade pontual com o Boavista e a cinco pontos do líder FC Porto, e ainda em prova tanto na Taça de Portugal como na Taça dos Campeões Europeus.
“Foi um bom período da minha carreira, muito bom para a minha vida e não sai a mal do Benfica. Foram cerca de seis meses e, pelo que me lembro, estávamos em segundo lugar do campeonato e nos quartos-de-final da Taça dos Campeões Europeus. Aliás, nesse ano o Benfica chegou à final, mas perdeu para o PSV”, recordou ao Maisfutebol em dezembro de 2008.
Após deixar a Luz voltou ao Brondby.
Haveria de falecer em outubro de 2020, aos 75 anos.
 
 
Mats Magnusson
Quando saiu Manniche, entrou para o seu lugar o ponta de lança sueco Mats Magnusson, ligeiramente mais baixo (1,85 m) mas ainda assim possante, precisamente por indicação de Skovdahl. “Pensava que estava no topo da carreira, na Suécia, quando em julho de 1987 o meu empresário me ligou e disse que tinha o Benfica ao telefone. Não acreditei, pensei que estava a brincar comigo”, confessou ao Maisfutebol em fevereiro de 2017.
“Para mim era um sonho, estava a jogar na Suécia e tinha ido muitas vezes ao antigo Estádio da Luz em estágios com o Malmö. Vi vários jogos na Catedral e para mim naquela altura era uma utopia jogar e entrar naquele campo”, acrescentou.
Recrutado ao Malmö, clube pelo qual se havia sagrado campeão da Suécia em 1986, deixou a sua marca na Luz, ao somar 87 golos em 163 jogos, registo que faz dele o terceiro melhor marcador estrangeiro da história benfiquista, sendo apenas superado por Óscar Cardozo e Jonas – mas deteve o primeiro lugar deste ranking durante cerca de duas décadas.
Além dos muitos remates certeiros, o avançado conquistou dois campeonatos (1988-89 e 1990-91) e uma Supertaça Cândido de Oliveira (1989) e atingiu duas finais da Taça dos Campeões Europeus (1987-88 e 1989-90) durante os cinco anos que passou de águia ao peito. Em 1989-90, quando já era orientado pelo compatriota Sven-Göran Eriksson, foi ainda o melhor marcador do campeonato português, com 33 golos – o principal perseguidor, o portista Rui Águas, não foi além de 16.
Pelo meio, marcou presença no Campeonato do Mundo de Itália, em 1990.
Haveria de deixar a Luz no verão de 1992, rumo ao Helsingborgs.
“Tenho muito orgulho em ser benfiquista. Amo o Benfica muito, de coração”, assegurou.
 
 
 
Jonas Thern
Quem ainda coincidiu Eriksson e Magnusson na Luz foi o também sueco Jonas Thern, um médio que pertencia aos quadros do Malmö, clube pelo qual havia conquistado dois campeonatos e duas taças da Suécia.
Com uma estadia em Lisboa que coincidiu totalmente com a segunda passagem de Eriksson pelos encarnados, este centrocampista amealhou 101 jogos e dez golos de águia ao peito entre 1989 e 1992, tendo conquistado uma Supertaça (1989) e um campeonato (1990-91) e contribuído para a caminhada até à final da Taça dos Campeões Europeus em 1989-90. “Claro que me lembro bem desse tempo. Fui campeão, joguei uma final da Taça dos Campeões e podia ter chegado a outra, gostei muito de jogar em Portugal”, afirmou ao Record em outubro de 2001.
Pelo meio, marcou presença no Campeonato do Mundo de Itália, em 1990.
No verão de 1992, após a participação no Campeonato da Europa que se realizou precisamente no seu país e no qual a Suécia atingiu as meias-finais, mudou-se para o Nápoles.
 
 
 
Stefan Schwarz
Numa altura em que Eriksson, Magnusson e Thern ainda estavam no Benfica, no verão de 1990 chegou à Luz o lateral esquerdo/médio centro sueco Stefan Schwarz, também proveniente do Malmö, clube pelo qual conquistou um campeonato e uma taça da Suécia, poucas semanas após ter participado no Mundial de Itália.
Ao longo de quatro temporadas de águia ao peito totalizou 111 encontros – que podiam ser mais, caso não tivesse sofrido uma lesão que o travou durante a primeira época na Luz – e dez golos, tendo conquistado dois campeonatos (1990-91 e 1993-94) e uma Taça de Portugal (1992-93). Em 1993-94 ajudou ainda os encarnados a atingir as meias-finais da Taça das Taças. “Tivemos grandes momentos. Grandes jogos. O 6-3 com o Sporting, em Alvalade. A vitória sobre o Arsenal, em Londres, por 3-1, no prolongamento. O empate 4-4 com o Bayer Leverkusen, na Alemanha… Grandes recordações desses tempos”, recordou ao Correio da Manhã em janeiro de 2012.
Pelo meio contribuiu para a caminhada da anfitriã Suécia até às meias-finais do Euro 1992.
No verão de 1994, após participar no Campeonato do Mundo dos Estados Unidos, transferiu-se para o Arsenal.
“Vou assistir a quase todos os jogos no Estádio da Luz. O Benfica é o meu clube do coração, a minha equipa”, afirmou.
 
 
 
Martin Pringle
Pela primeira vez em mais de uma década, o Benfica não teve jogadores nórdicos no plantel em 1994-95 e 1995-96. Contudo, em 1996-97 surgiu mais um avançado de elevada estatura (1,90 m) no Estádio da Luz, Martin Pringle, proveniente do Helsingborgs, clube em que chegou a atuar ao lado de Magnusson.
De águia ao peito, o atacante mostrou entre agosto de 1996 e dezembro de 1998 por que razão… não costumava ser convocado à seleção da Suécia, pela qual não foi além de dois jogos, ambos antes de reforçar os encarnados. Em 55 encontros, marcou apenas oito golos, não tendo conquistado qualquer troféu. “Em pouco mais de dois anos, passei do Stenungsunds IF [uma equipa modesta na Suécia] para o Benfica. Isso levou-me a pensar que eu era, de facto, muito bom jogador, mas, quando cheguei ao Benfica, rapidamente percebi que não era assim tão bom”, afirmou ao jornal sueco Aftonbladet em abril de 2020.
“O Benfica vendeu o Brian Deane ao Middlesbrough e o treinador, Graeme Souness, contratou o Dean Saunders, um jogador que ele contratava para todos os clubes que treinava. Ao mesmo tempo, o presidente [João Vale e Azevedo] ainda foi buscar o Jorge Cadete. No plantel, ainda havia o Nuno Gomes, que estava em ascensão, e a grande estrela da equipa, o João Pinto. Depois de tanto me esforçar, passei de primeira para quinta opção”, acrescentou.
Em janeiro de 1999 foi emprestado aos ingleses do Charlton, pelos quais acabou por assinar a título definitivo meio ano depois.
 
 
 
Anders Andersson
Após mais dois anos e meio sem jogadores nórdicos, o Benfica voltou ao mercado escandinavo no verão de 2001 para contratar o médio sueco Anders Andersson, que representava os dinamarqueses do Aalborg e havia estado ao serviço da sua seleção no Euro 2000, realizado na Bélgica e na Holanda.
“O verão de 2001 foi realmente algo fora do comum para mim. Ir para o Benfica e para Lisboa foi esmagador, algo muito maior do que qualquer outra coisa que experimentei no futebol. Para um sueco era difícil entender o que esperar, mesmo que eu achasse que estava preparado. O facto de o interesse em Portugal ser tão grande foi um choque”, afirmou ao Sportbladet em abril de 2020.
Em duas temporadas e meia na Luz, o centrocampista nunca se conseguiu impor como titular, tendo vivido na sombra de jogadores como Fernando Meira e Ednilson na primeira época e Tiago e Petit no ano e meio que se seguiu. Ao longo desse período somou 57 jogos e um golo de águia ao peito, tendo contribuído para a conquista da Taça de Portugal em 2003-04, embora já estivesse ao serviço do Belenenses quando os encarnados ergueram o troféu no Jamor.
“Sei como é conhecer o Manchester United e ouvir Old Trafford cantar para Ole Gunnar Solskjaer You Are My Sunshine. É realmente poderoso, mas não é o Benfica, onde a paixão é incrivelmente grande, as pessoas seguem-te para onde quer que vás”, contou.
 
 
Azar Karadas
Depois de sete suecos e dois dinamarqueses, o Estádio da Luz abriu as portas a um norueguês no verão de 2004, Azar Karadas, um possante ponta de lança (1,89 m) que também podia atuar como… defesa central.
Karadas chamou a atenção do Benfica quando marcou às águias ao serviço do seu anterior clube, o Rosenborg, numa eliminatória da Taça UEFA em fevereiro e março de 2004, e foi contratado logo à primeira oportunidade.
Em 2004-05 participou em 36 jogos e apontou seis golos em todas as provas, ajudando os encarnados a sagrarem-se campeões nacionais após onze anos de jejum e a atingirem a final da Taça de Portugal, perdida para o Vitória de Setúbal. “O senhor Trap [Giovanni Trapattoni] gostava de mim, tenho essa ideia. Fui titular logo no início e marquei dois golos ao Beira-Mar. Que sensação! Olhava para o meu lado e via o Simão e o Nuno Gomes a fazerem o que queriam da bola. O Mantorras era o meu amigo de banco, como lhe dizia. Era apaixonado pelo Benfica e pelo jogo”, afirmou ao Maisfutebol em maio de 2010.
“Era fantástico jogar com aquela camisola. Era lindo jogar no Estádio da Luz. Os adeptos criam um ambiente fantástico e apoiam muito. Essas são as maiores recordações que tenho do Benfica. Estou orgulhoso de ter jogado no Benfica. A conquista do campeonato com os adeptos do Benfica em euforia foi, de facto, muito bom”, afirmou ao portal zerozero em dezembro de 2015.
O avançado haveria de continuar vinculado ao Benfica até 2007, mas passou os dois últimos anos de contrato emprestado, primeiro aos ingleses do Portsmouth e depois aos alemães do Kaiserslautern.
 
 
 
Daniel Wass
Após um hiato de meia dúzia de anos, o lateral direito dinamarquês (já internacional A) Daniel Wass foi recrutado no verão de 2011 ao Brondby, foi apresentado ao lado do médio defensivo Nuno Coelho e do guarda-redes Artur Moraes, fez a pré-época às ordens de Jorge Jesus e chegou a disputar alguns jogos particulares, mas depois foi prontamente emprestado aos franceses do Evian e não voltou à Luz.
“Se há algo que gostaria de mudar na minha carreira, é ter assinado pelo Benfica. Nunca confiaram em mim e nem sequer me deram a oportunidade de demonstrar as minhas qualidades", afirmou à revista Kaiser em novembro de 2014.
Em julho de 2012 acabou por assinar pelo Evian a título definitivo, num negócio que rendeu dois milhões de euros aos cofres encarnados.
 
 
Victor Lindelof
Precisamente no verão em que Wass saiu em definitivo, entrou o defesa central sueco Victor Lindelof, recrutado por pouco mais de três milhões de euros ao Vasteras, clube do seu país pelo qual já tinha disputado cerca de 50 encontros pela equipa principal apesar de ainda ter idade de júnior, tendo ainda chegado a jogar pelos sub-19 encarnados.
Os três primeiros anos e meio em Portugal foram passados sobretudo na equipa P, pela qual totalizou 96 jogos e dois golos na II Liga entre setembro de 2012 e dezembro de 2015. Pelo meio sagrou-se campeão europeu de sub-21, tendo batido os ex-companheiros de equipa Bernardo Silva e Ivan Cavaleiro na final disputada em Praga.
Depois fixou-se na equipa principal, pela qual em 2013-14 tinha disputado dois jogos que lhe valeram a conquista do título nacional e da Taça de Portugal, e perfilou-se como uma peça importante na conquista dos dois últimos títulos do tetracampeonato (2015-16 e 2016-17), tendo ainda vencido mais uma Taça de Portugal (2016-17), uma Taça da Liga (2015-16) e uma Supertaça Cândido de Oliveira (2016).
No verão de 2017 transferiu-se para o Manchester United, tendo rendido 35 milhões de euros aos cofres das águias, após 73 encontros e dois golos pela equipa principal.
 
 
 
Desde que Lindelof saiu para Inglaterra, foi necessário esperar até ao início da presente temporada para voltar a ver nórdicos na Luz. O lateral direito internacional dinamarquês Alexander Bah foi contratado ao Slávia Praga por oito milhões de euros, destronou o brasileiro Gilberto e viu os bons desempenhos permitirem-lhe ser chamado ao Mundial 2022. Já o médio norueguês Fredrik Aursnes, recrutado ao Feyenoord por 13 milhões de euros, ainda não se estabeleceu como um titular indiscutível, mas com a sua polivalência tem aproveitado algumas ausências para ir jogando ora no duplo pivot do meio-campo ora numa das alas do ataque.
 
 
Paralelamente, o guarda-redes sueco Alexander Sandahl está desde 2020-21 nos quadros do Benfica, tendo já passado por juvenis, juniores e equipa sub-23; o extremo islandês Stigur-Diljan Thordarson chegou no início desta época ao clube, tendo já percorrido juvenis B, juvenis e juniores; e os irmãos luso-finlandeses Lucas (defesa central) e Tomás von Hellens (guarda-redes) estiveram nas camadas jovens encarnadas entre 2017 e 2021 e entre 2019 e 2021, respetivamente.









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