terça-feira, 5 de abril de 2022

A minha primeira memória de… um jogo entre Benfica e Liverpool

Luisão colocou o Benfica em vantagem na eliminatória
A minha primeira memória de um jogo entre Benfica e Liverpool é a mesma de qualquer adepto benfiquista nascido após os primeiros anos da década de 1980 e, sobretudo, a melhor memória dos benfiquistas relativamente a duelos com os reds.
 
Após passar um grupo equilibrado, com Villarreal, Lille e Manchester United, com os encarnados a deixarem os red devils fora da Europa na derradeira jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões, o Benfica então orientado por Ronald Koeman recebeu a notícia de que o campeão europeu Liverpool seria o adversário nos oitavos de final.
 
Se as águias continuavam vivas naquele que era o seu regresso à Champions após sete anos de ausência, nas competições domésticas as coisas não estavam a correr de feição, uma vez que tinham sido eliminadas da Taça de Portugal em casa diante do Vitória de Guimarães e ocupavam o quarto lugar no campeonato, a oito pontos do líder FC Porto, três do vice Sporting, um do terceiro classificado Sp. Braga e apenas um ponto de vantagem sobre o quinto Nacional e o sexto Boavista.
 
Já o Liverpool de Rafael Benítez não tinha propriamente grandes estrelas, mas defendia o estatuto de campeão europeu, tinha acabado de vencer um grupo da Liga dos Campeões que também tinha o Chelsea de José Mourinho (além de Bétis e Anderlecht) e seguia nos primeiros lugares da Premier League, logo atrás do mesmo Chelsea e do Manchester United. Steven Gerrard (curiosamente suplente utilizado na primeira-mão) e Xabi Alonso eram, talvez, as principais individuais do conjunto de Anfield, secundados por Pepe Reina, Sami Hyypia, Jamie Carragher, Steve Finnan, Luis García, Fernando Morientes, John Arne Riise, Harry Kewell ou Peter Crouch.
 



No primeiro jogo, na Luz, o Benfica não atacou muito, mas conseguiu chegar ao golo através de um lance de bola parada nos derradeiros dez minutos, numa partida que de certa forma tem algumas semelhanças com o recente triunfo dos encarnados sobre o Ajax em Amesterdão. Petit na execução de um livre e Luisão num cabeceamento certeiro colocaram os benfiquistas em delírio (aos 84 minutos), curiosamente na reedição de uma parceria que já tinha valido o golo no jogo do título nacional na época anterior, diante do Sporting de José Peseiro.
 
“Luisão e Petit estão definitivamente talhados para os grandes momentos. Ontem, frente ao campeão europeu, construíram uma vitória que parecia impossível, repetindo a proeza do jogo com o Sporting da época passada, onde os encarnados deram o passo decisivo para a conquista do título. Um livre cobrado pelo médio para a emenda do central, de cabeça, aos 84’ (frente aos leões tinha sido aos 83’...), colocou as águias em vantagem na eliminatória. A equipa de Koeman obteve assim um resultado superpositivo, se considerarmos as raríssimas oportunidades de golo que conheceu a partida, mas terá obviamente de sofrer muito em Inglaterra para passar aos quartos-de-final da Liga dos Campeões. O triunfo frente ao Liverpool é também uma vitória da estratégia montada por Ronald Koeman. O holandês preferiu a contenção à audácia e o calculismo à emoção, mas acabou bem-sucedido”, escreveu o Record.
 
“Foi como se não tivesse havido dois meses e meio de intervalo. Como se, entre a vitória mágica sobre o Manchester United e a derrota imposta esta terça-feira ao campeão europeu, houvesse uma linha contínua, a confirmar a certeza de que as grandes noites da UEFA estão mesmo de volta à Luz. Nada está decidido e o Benfica vai ter de jogar em Anfield nos limites do sofrimento. Mas a vitória por 1-0 sobre este Liverpool era, por tudo aquilo que o jogo mostrou ser desde o pontapé de saída, o melhor dos cenários a que a equipa de Koeman podia aspirar. O jogo não foi épico, ao contrário do de dezembro. Foi, sim, um exercício paciente de rigor, alma e inteligência tática, palavras que não rimam com espetáculo. Mas com um Liverpool tão consistente só podia mesmo ser assim. O Benfica assumiu jogar com armas iguais ao vencedor da última Liga dos Campeões e conseguiu a proeza de ser mais forte. Acima de tudo porque encarou o jogo com a atitude ideal: com a convicção de que era possível ganhar, sem pressas e sem pressões”, resumiu o Maisfutebol.
 
 
 

Apesar do triunfo do Benfica na Luz, o favorito a seguir em frente continuava a ser o Liverpool. Esperava-se que os encarnados se limitassem a tentar resistir em Anfield, que procurassem segurar o empate a zero ou até beneficiar da regra que em caso de empate favorecia quem marcava mais golos fora para alcançar o apuramento.
 
No entanto, talvez nem o mais otimista dos benfiquistas esperaria o que acabou por acontecer: uma vitória imaculada por 2-0, com dois golos com… nota artística. Depois de Simão ter inaugurado o marcador com um remate colocadíssimo aos 36 minutos, Miccoli fez o 0-2 através de um gesto acrobático já nos derradeiros instantes (89’).
 
“Uma noite de sonho. Uma noite histórica. O Benfica ultrapassou pela primeira vez o Liverpool nas competições europeias e fê-lo de forma concludente, superando mesmo as perspetivas mais otimistas. Os encarnados contrariaram a maior força e compleição física do campeão europeu, mostrando arte, talento e inteligência. Derrotados os reds, o detentor do título nacional ganhou legitimidade para sonhar ainda mais alto. Afinal, dos clubes que se qualificaram para os quartos-de-final da prova, só o Barcelona parece ser de outro planeta. Tal como aconteceu no jogo da 1ª mão, a forma como Koeman montou a equipa e as substituições posteriormente operadas foram meio caminho andado para o sucesso. O Liverpool entrou forte, com uma pressão que chegou a ser asfixiante a espaços mas o meio-campo e a defesa do Benfica conseguiram resolver os problemas com maior ou menor dificuldade”, podia ler-se no Record.
 
“Poucos conseguiram silenciar Anfield como o Benfica fez nesta quarta-feira mágica em Liverpool. Com uma grande capacidade de sofrimento e um golo inesquecível de Simão, o campeão português segue para os quartos-de-final, de cabeça levantada, deixando o campeão europeu pelo caminho. Agora, como diria José Torres, deixem-nos sonhar (…). Os primeiros minutos foram, como já se adivinhava, infernais para os visitantes. Embalado pelos surpreendentes cânticos de Anfield, o Liverpool carregou ao primeiro apito do árbitro sobre a área do Benfica, com Luis Garcia e Kewell bem abertos nas alas, Crouch no coração da área, Morientes, Gerrard e Alonso a exercerem uma enorme pressão na zona intermediária. O Benfica, extremamente concentrado, tremeu, mas não caiu”, sintetizou o Maisfutebol.
 











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