segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Os cinco internacionais angolanos que jogaram no Farense antes de Djalma

Cinco internacionais angolanos jogaram no Farense
Anunciado recentemente como reforço do Farense para 2020-21, o antigo extremo de Marítimo e FC Porto, Djalma, vai tornar-se no sexto internacional angolano a representar os leões de Faro, juntando-se a uma história iniciada na década dourada do clube, em 1990, e que ameaça perdurar.

O primeiro jogador que representou tanto os Palancas Negras como o emblema algarvio nasceu em Angola, mas foi viver para Faro com três anos. Com passagem pela formação do Farense, o lateral Raúl Barbosa rodou no Penha e no Padernense antes de se estrear pela equipa principal na fantástica época de 1994-95, que culminou com a obtenção do quinto lugar na I Liga.

Raúl Barbosa
Nessa temporada atuou num total de 17 partidas (16 a titular) em todas as competições, alternando a titularidade com Portela. “Foi pela mão do Joaquim Sequeira, uma pessoa que deixou marcas e a quem devo tudo. Foi ele que me indicou, porque já me conhecia do Padernense e também da formação do Farense. Depois, cheguei e consegui impor-me, naquela que foi a melhor época da história do clube”, contou, em entrevista ao blogue Quantos Farenses Somos?.

Na época seguinte representou o Boavista, mas em 1996-97 voltou ao São Luís para atuar em 22 encontros oficiais (18 a titular) e marcar um golo ao Gil Vicente no campeonato. “O Ricardino Neto [então dirigente] pediu-me para voltar. Como não estava a jogar muito no Boavista, aceitei, mas já não foi como antes…”, contou, lamentando o ambiente pesado com os adeptos após o regresso.

Ainda assim, só tem elogios a fazer ao Farense. “No Algarve só há um clube, digam os outros o que disserem. O Farense tem uma massa adepta espetacular, uma cidade que respira futebol, e o lugar deste clube é na I Liga. A ambição tem sempre de passar por estar nesse patamar”, vincou.

Depois saiu para o Felgueiras e tornou-se internacional angolano, tendo disputado um jogo no CAN 1998. “Eu nasci em Angola e surgiu essa oportunidade: na altura o selecionador era o Professor Neca, ele conhecia-me de Portugal e chamou-me para jogar na CAN. Já tinha tido vários convites, quando o selecionador era o Carlos Alhinho, mas rejeitei sempre, porque tinha a esperança de jogar na seleção portuguesa. Mas aquela oportunidade não desperdicei”, começou por explicar.

“Tínhamos uma seleção muito forte, com Akwá, Paulão, Quinzinho, o Luís Miguel, que jogava no Sporting, o Lázaro, o Lito Vidigal… A equipa era excelente, e até começámos bem, empatámos 0-0 com a África do Sul, que era muito poderosa na altura [e a campeã em título]. Mas depois fomos muito roubados! Empatámos com a Namíbia [3-3] e depois perdemos o último jogo com a Costa do Marfim [2-5]. Mas foi uma experiência que me deixou muitas saudades”, acrescentou.

 

 

Mauro
Precisamente na temporada em que Raúl Barbosa foi jogar para o Boavista, em 1995-96, foi contratado à Naval o extremo Mauro, nascido em Lisboa, mas filho de um antigo jogador do Belenenses nascido em Angola, Laurindo. Nessa altura ainda não se tinha estreado na I Liga nem tinha jogado pela primeira vez pelos Palancas Negras.

Após três jogos como suplente utilizado e pouco mais de 50 minutos de utilização, foi emprestado ao Lamego, então na II Divisão B. A estreia no primeiro escalão aconteceu precisamente no Estádio do Restelo, palco onde o pai brilhara décadas antes e onde Mauro concluiu a formação. “É engraçada esta vida. Andei a sonhar em jogar para sempre no Belenenses e acabei a trocar de clube ano após ano, pelo país inteiro. Mas o mais irónico foi a minha estreia na I Liga. Joguei pelo Farense no... Restelo, ante o meu Belenenses. E perdi”, contou ao Record em setembro de 2002.

Depois recomeçou o seu trajeto ascendente, tendo voltando a entrar na I Liga em 2001-02 pela porta do Paços de Ferreira. Em 2002 amealhou os primeiros de 11 jogos ao serviço da seleção angolana, pela qual marcou três golos – dois ao Chade e um à RD Congo. Porém, foi perdendo algum gás nos anos que se seguiram e acabou por não voltar a ser chamado depois de 2004.

 

 

Quinzinho
O internacional angolano que se seguiu no São Luís foi o ponta de lança Quinzinho, emprestado pelo FC Porto nos primeiros meses de 2000, após ter passado a primeira metade dessa época nos espanhóis do Rayo Vallecano, já depois de ter representado os Palancas Negras em duas edições da Taça das Nações Africanas, em 1996 e 1998.

Logo na estreia pelo emblema algarvio, numa visita a Alvalade, marcou o golo que na altura empatou o encontro. Ainda que o golo não tivesse evitado a derrota (1-3), ajudou os leões de Faro a assegurar a permanência ao participar em seis encontros (cinco a titular).

“Até joguei contra o FC Porto. Ah ah ah ah. Porque quem me emprestou foi o Rayo, eram eles que me pagavam o ordenado. Por isso mesmo sendo jogador do FC Porto fui emprestado pelo Rayo. Foi na época em que o Sporting ganha o campeonato com o Inácio. Eu joguei contra o FC Porto e até ajudei o Farense a empatar esse jogo. Muita gente diz que o FC Porto perdeu lá o campeonato. Sou profissional, tem de ser assim”, recordou ao Maisfutebol em maio de 2018.

Depois voltou ao FC Porto, que o voltou a ceder uma última vez, desta feita ao Desp. Aves.

Em termos de seleção angolana amealhou 40 internacionalizações e nove golos.

Viria a falecer em abril de 2019, aos 45 anos. 

 

 

Luís Lourenço
Já depois de o Farense ter sofrido uma queda abrupta na hierarquia do futebol português e renascido das cinzas dos campeonatos distritais, os algarvios voltaram a contar com um internacional angolano nas suas fileiras em 2012-13, quando contratou Lourenço.

Nascido em Luanda, mas internacional português desde os sub-16 à seleção B, jogou uma vez por Angola, em agosto de 2011, entrando nos últimos minutos de uma visita à Libéria, quando até estava sem clube.

Um ano depois assinou pelos leões de Faro, então a militar na II Divisão B, tendo disputado um total de nove jogos (três a titular) e apontado dois golos, diante de Quarteirense no campeonato e do Beira-Mar na Taça de Portugal, contribuindo para a promoção à II Liga.

Depois mudou-se para o Corona Brasov , da I Liga romena. 

 

 

Hugo Marques
Por último, mas nem por isso menos importante, o guarda-redes Hugo Marques, que jogou pelo Farense em três patamares competitivos distintos, sempre a subir: Campeonato de Portugal (2017-18), II Liga (2018 a 2020) e I Liga (2020-21).

Nascido em Fão, no concelho de Esposende, passou pela formação do FC Porto e foi internacional português pelas seleções jovens, mas acabou por optar pelos Palancas Negras, precisamente quando atuava em Angola, tendo somado quatro internacionalizações e feito parte da convocatória para o CAN 2012.

Entretanto regressou a Portugal e, depois de uma experiência não muito bem-sucedida no Sp. Covilhã, rumou a sul para representar os leões de Faro no verão de 2017. “O meu antigo treinador de guarda-redes no Gil Vicente, o Cândido, ligou-me a perguntar se estava disponível para representar o Farense e depois passou a chamada ao diretor desportivo Manuel Balela, ao qual agradeço até hoje a sua postura e humanidade. Passadas algumas horas já sabia do projeto e sabia que ia encontrar um grande senhor, o presidente João Rodrigues, algo que depois vim a confirmar. Assinei por um ano e aí começou esta linda história”, contou em abril de 2020, em entrevista a O Blog do David.

Na primeira época foi um dos esteios de uma equipa que, às ordens de Rui Duarte, venceu a Série E do Campeonato de Portugal, alcançou a promoção à II Liga e chegou aos quartos de final da Taça de Portugal, tendo atuado em 36 jogos e sofrido 17 golos.

Na temporada seguinte teve de lidar com a concorrência do guarda-redes internacional português Daniel Fernandes, mas conquistou o seu espaço em janeiro de 2019 e foi a tempo de participar em 17 encontros e sofrer 18 golos, ajudando os algarvios a assegurar a permanência no segundo escalão. “Tive de esperar e lutar pelo meu lugar, mas consegui e acabei a época em grande, a ajudar que se evitasse a descida ao Campeonato de Portugal”, recordou.

Em 2019-20 manteve o estatuto e acabou por ser um dos pilares da equipa que subiu à I Liga após 18 anos de ausência, tendo disputado 25 encontros e encaixado 23 golos até à paragem das competições devido à pandemia de covid-19.

Na presente época começou como suplente de Rafael Defendi, mas beneficiou de uma expulsão do concorrente para se estrear finalmente no patamar maior do futebol português, aos 34 anos. Nunca é tarde para sonhar.

“Não conhecia por dentro o que era ser Farense, conhecia o clube e os adeptos, mas não sabia o que era representar um clube assim tão especial. O Farense é o meu clube de sonho. Sou respeitado, estou a fazer história e sinto que quando entro em campo tenho todos a puxar por mim. Neste momento não sou de Faro, mas sou Farense e dou a vida por este clube”, confessou. 



















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