sexta-feira, 5 de abril de 2024

Florentino ou… quando o bom é inimigo do ótimo

Florentino recuperou recentemente a titularidade
Florentino Luís é daqueles jogadores que raramente são criticados. Praticamente tudo o que faz, faz bem. Desarma (muito), falha poucos passes, pratica um futebol simples e dá estabilidade defensiva à sua equipa. Ajudou o Benfica de Bruno Lage a ser campeão em 2019-20 e o de Roger Schmidt a fazer o mesmo em 2022-23.
 
O problema é que o bom – e não haja dúvidas de que o médio internacional jovem português é bom – é inimigo do ótimo. Cada vez exige-se mais aos jogadores de cada posição. Ser dominante em apenas ou outro aspeto do jogo é cada vez mais insuficiente. E, no caso da posição 6, também se pedem coisas que Florentino não tem – ou pelo menos não tem tido – capacidade para dar.
 
Em primeiro lugar, basta recordar que nas duas épocas positivas que teve ao longo da carreira esteve integrado num duplo pivot no meio-campo, ou seja, ainda não demonstrou, ao mais alto nível, o que pode render sozinho à frente da defesa e com um ou dois médios mais adiantados.
 
Depois, é um médio que, ao nível do jogo aéreo, componente tão importante para um trinco, e do rasgo que atualmente se pede a um 6 a atacar, deixa muito a desejar.
 
Dados: Sofascore
Nesta temporada, na I Liga portuguesa, ganhou apenas 43,9% dos duelos aéreos. E como os três grandes jogam com duplo pivot no meio-campo, as comparações são fáceis de fazer. Está abaixo, nesse parâmetro, de Alan Varela (59,38%), João Neves (56,35%), Daniel Bragança (55,56%), Nico González (51,06%), Morita (46,34%), Hjulmand (45,16%) e Eustáquio (45,1%). Apenas supera o companheiro de equipa Kokçu (41,67%).  A grande referência da posição, o espanhol Rodri, do Manchester City, ganhou 71% dos duelos aéreos na Premier League na presente temporada.
 
Não acompanha, nas alturas, o nível que exibe sobre a relva, onde ganhou, até agora, 57,64% dos duelos. Só Daniel Bragança (64,86%) fez melhor. Os que mais se aproximam, entre os três grandes, são João Neves (56,71%), Hjulmand (55,56%) e Eustáquio (54,31%).
 
Dados: Sofascore
Em relação ao tal rasgo ofensivo, é o médio de duplo pivot dos três grandes (com pelo menos 13 jogos realizados esta temporada no campeonato) com pior média de passes para finalização a cada 90 minutos: 0,59. Não é uma estatística aleatória. Reflete uma forma de jogar que, no caso de Florentino, é demasiado baseada no passe simples e fácil, mas que não ajuda a equipa a verticalizar o seu jogo. Bem acima dele estão Kokçu (2,46), Eustáquio (1,55), Alan Varela (1,01), Morita (0,97), Nico González (0,96), João Neves (0,9), Hjulmand (0,89) e Daniel Bragança (0,83). E o trinco benfiquista é, juntamente com Daniel Bragança, o único destes nove médios ainda sem grandes oportunidades criadas. A grande referência da posição, Rodri, está com uma média de 1,54 passes para finalização por 90 minutos na Premier League nesta época.
 
Dados: Sofascore
Noutro item que reflete o rasgo ofensivo, o de remates à baliza por 90 minutos, Florentino é, entre estes nove médios, o que tem pior registo (0,07). Na liderança deste ranking está Kokçu (1,04), seguido por Daniel Bragança (0,55), Nico González (0,48), Eustáquio (0,3), João Neves (0,28), Morita (0,26), Hjulmand (0,26) e Alan Varela (0,08). A título de curiosidade, a média de Rodri é 0,73.
 
Uma ferramenta diferente que está enquadrada no rasgo ofensivo que hoje se pede a um trinco é o drible. Entre os nove médios analisados, Florentino é o que tem uma menor percentagem de dribles bem-sucedidos (44,44%). Melhor nesse aspeto têm sido Alan Varela (83,33%), Daniel Bragança (81,82%), Hjulmand (80%), Nico González (75%), Morita (60%), João Neves (59,26%), Eustáquio (54,55%) e Kokçu (47,06%). Rodri tem 77% na Premier League.
 
Dados: Sofascore
Por aqui se explica porque Lage quis Weigl, Jorge Jesus nunca contou com ele, Fernando Santos e Roberto Martínez nunca o convocaram para a seleção nacional e Roger Schmidt tem experimentado sucessivamente outras opções para o seu duplo pivot. Está na cauda do pelotão e em alguns casos bastante abaixo da média daquilo a que se exige, em parâmetros importantíssimos do jogo de um centrocampista mais defensivo, em comparação a jogadores que desempenham funções similares em equipas que lutam pelos mesmos objetivos e que têm um poderio semelhante.
 
 
 




 
 
 
 
 
 
 
 
 

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