sábado, 22 de junho de 2019

Jesus vs. Vitória vs. Lage. Quem teve melhores e piores condições para lançar miúdos da formação do Benfica?

Jorge Jesus, Rui Vitória e Bruno Lage foram campeões na Luz
Não é por uma mentira ser repetida várias vezes que se torna verdade. E é enganador fazer análises através da frieza dos números sem atender aos contextos. Hoje, Jorge Jesus quase que é visto como um criminoso por não ter aliado resultados desportivos a apostas firmes em produtos da formação do Benfica, algo que os sucessores vieram a conseguir.


O Baby Benfica começou a fazer-se sentir no pós-Jesus, é indesmentível, mas nunca se leu ou ouviu uma alma caridosa explicar que quem sucedeu ao amadorense encontrou jovens com muito mais andamento. Olhando apenas para os que chegaram aos encarnados para integrar as camadas jovens, que se estrearam na equipa principal sem se desvincularem do clube pelo meio e não somaram muitos minutos no futebol sénior por outros clubes – ou seja, sem contar com Lindelof, Nélson Semedo, Oblak, Ederson, Bruno Varela, André Horta e Alfa Semedo -, JJ lançou 11 canteranos em seis anos, Rui Vitória 10 em três e meio e Bruno Lage oito em ano e meio.

Porém, se repararmos no número de minutos que estes 29 jovens já levavam no futebol sénior (mesmo continuando vinculados ao Benfica) antes da estreia na equipa principal, os que chegaram às mãos de Jorge Jesus estavam com muito menos rodagem competitiva do que os que Rui Vitória e Bruno Lage vieram a encontrar.  

Rui Vitória lançou miúdos que tinham, em média, quase o dobro dos minutos (3086) dos que Jesus fez estrear. Ainda que com uma amostra mais curta, Bruno Lage deu a primeira oportunidade a jovens com um pouco menos minutos  de competição (2889) do que os que chegaram às mãos do seu antecessor. Em média, até à estreia na equipa principal um jovem tinha completado 1645 minutos entre equipa B e/ou empréstimos antes de merecer a confiança de Jesus. Dois deles, Roderick e Luís Martins, não tinham sequer qualquer minuto somado no futebol profissional, numa altura em que os bês encarnados ainda não tinham sido reativados. E é necessário recordar que só na quarta (e antepenúltima) época de Jesus nas águias (2012-13) é que a equipa B foi reintroduzida.

Minutos no futebol sénior antes da estreia pela equipa principal do Benfica

Para esta contabilidade entram apenas minutos somados nas competições de futebol sénior, porque se tivermos em conta que o Benfica só começou a participar na UEFA Youth League em 2013-14 e na U23 Premier League International Cup em 2014-15, nas duas últimas épocas de Jesus nas águias, as diferenças seriam ainda maiores. Os miúdos de agora chegam à equipa principal com muito mais andamento, não haja dúvidas.

Além destes, há outros dois pormenores a ter em conta: 1) O Benfica não voltou a repetir as vendas precoces de jogadores da formação, o que se verificou com João Cancelo e Bernardo Silva, aliando assim rendimento desportivo ao retorno financeiro; 2) Se olharmos para os jogadores da formação que na última década se afirmaram imediatamente como titulares (Rúben Dias, Renato Sanches e até mesmo se quisermos incluir Ferro, Florentino e João Félix), todos chegaram à equipa principal com um número de minutos superior aos tais 1645 que constituem a média dos que foram estreados por Jesus.

O que estes dados nos dizem é que, se houve treinador que forçou a aposta em jovens mesmo não estando eles totalmente preparados, esse treinador é Jorge Jesus.


Artigo atualizado a 23 de agosto de 2020, após a conclusão da temporada 2019-20.






















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