É impossível escrever a história
do Vitória,
nem que seja de forma muito resumida, sem incluir o nome de vários jogadores
nascidos em África. Desde os que foram autênticos pilares das equipas dos
tempos áureos, nas décadas de 1960 e 1970, ao herói
da Taça de Portugal de 2004-05, passando pelo único futebolista vitoriano a
vencer a Bola de Prata, histórico troféu oferecido todas as épocas ao melhor
marcador da I Divisão - antes da introdução do troféu, Francisco Rodrigues foi o goleador-mor da prova em 1943-44 e 1944-45. Entre os que nasceram no continente negro mas se
assumiram como portugueses e os que vestiram as cores de seleções africanas, vale
a pena recordar os dez futebolistas africanos que mais vezes representaram os sadinos
no primeiro escalão.
Menção honrosa: Rashidi Yekini (66 jogos)
Rashidi Yekini |
Rashidi Yekini não está entre os
dez jogadores africanos que mais vezes atuaram pelo Vitória
na I Divisão, mas o seu nome teria de ser forçosamente incluído nesta peça.
Desse por onde desse, não havia volta a dar. É um nome incontornável da
história dos sadinos,
que é inevitavelmente incluído nas discussões sobre o melhor futebolista da
história do clube.
Uma das razões pelas quais é um
ídolo vitoriano sem estar entre os dez africanos com mais jogos no primeiro
escalão tem a ver com duas épocas memoráveis na II Liga em 1991-92 e 1992-93,
sagrando-se melhor marcador em ambas, com 22 e 35 golos. Na época seguinte já
atuou na I Liga e também foi o artilheiro-mor, com 21 remates certeiros, sendo
o único futebolista de sempre a acumular os títulos de melhor marcador das duas
ligas profissionais portuguesas. Enquanto representava os sadinos, foi eleito
melhor jogador africano em 1993 e melhor jogador da Taça das Nações Africanas
em 1994, prova que venceu ao serviço da Nigéria.
Contratado aos costa-marfinenses
do Africa Sports em 1990, saiu para o Olympiacos quatro anos depois, voltando ao
Bonfim,
mas sem o mesmo brilho, na segunda metade da temporada 1996-97. Para os adeptos
do Vitória,
que lhe tratavam carinhosamente por Jaquim, é inesquecível a sua exibição,
coroada com dois golos, nos célebres 5-2 ao Benfica a 21 de novembro de 1993.
10. Chipenda (98 jogos)
Internacional angolano por 13
vezes, fez toda a carreira em Portugal, incluindo a formação. Começou no
Dramático Cascais, nos distritais de Lisboa, e foi subindo a pulso, passando
por Barril, União de Almeirim, Loures
e Malveira antes de assinar pelo Belenenses
no verão de 1995. Após uma época no Restelo, rumou ao Bonfim,
onde permaneceu durante sete anos. Nunca foi propriamente um titular
indiscutível, mas fez parte da equipa quinta classificada em 1998-99 e que
subiu de divisão em 2000-01. Por outro lado, viveu por duas vezes a despromoção
e acabou por encerrar a carreira após a segunda
descida, em 2003.
Jorge Ferreira |
9. Jorge Ferreira (105 jogos)
Nasceu na cidade angolana de
Benguela, mas começou a jogar futebol em Portugal, em clubes do
distrito de Setúbal. Depois de Desportivo Portugal e Galitos, concluiu a
formação no Barreirense e foi de lá que para o Vitória
em 1988. Foi à beira-Sado que se destacou ao longo de quatro épocas, a última
das quais na II Liga, e se tornou por quatro vezes internacional português, já
depois de ter representado as seleções jovens lusas. Falhado o regresso ao
primeiro escalão em 1992, o central rumou ao Sp. Braga, onde também permaneceu
durante quatro temporadas.
8. Matine (112 jogos)
Matine |
Natural de Lourenço Marques, que a
partir de 1976 se passou a designar Maputo, Matine chegou a Portugal
proveniente do Central de Lourenço Marques para representar o Benfica. Após
quatro temporadas na Luz, vestiu as cores do Vitória
pela primeira vez em 1971-72, participando na memorável campanha sadina
até ao 2.º lugar no campeonato. Graças aos bons desempenhos no Bonfim,
o médio nascido em Moçambique foi chamado pelo selecionador José Augusto para
representar a equipa das quinas na Taça Independência, no Brasil, que culminou com
uma derrota na final ante os anfitriões, no Maracanã. Voltou ao Benfica na
época seguinte, mas regressou a Setúbal no verão de 1973 para jogar com mais
regularidade durante três temporadas, saindo depois para o Portimonense.
7. Janício (117 jogos)
Janício |
Depois de ter perdido de uma
assentada as três opções para a lateral direita da época da conquista da
terceira Taça de Portugal (Éder, Ricardo Pessoa e Manuel José), o Vitória
foi recrutar Janício ao Torreense, equipa que militava na II Divisão B e que
era orientada por José Rachão até o treinador mudar-se para o Bonfim.
O cabo-verdiano chegou como um desconhecido, embora já tivesse o estatuto de
internacional pelo seu país, mas foi titular indiscutível durante as quatro
temporadas que passou no clube, participando na caminhada até ao Jamor em
2005-06 e na conquista da Taça da Liga em 2007-08. Saiu para os cipriotas do Anorthosis
no verão de 2019, despedindo-se sem qualquer golo marcado com a camisola
verde e branca. “Ainda hoje tinha lugar no Vitória
de Setúbal, não fosse um mal-entendido e nunca tinha saído de lá. Até hoje
ainda não vi ninguém melhor. Recusei o FC Porto quando estava lá”, afirmou o 16
vezes internacional por Cabo Verde ao Maisfutebol
em abril de 2017.
6. Chiquinho Conde (125 jogos)
Chiquinho Conde |
Começou a carreira no Maxaquene,
o mesmo clube que revelou Eusébio quando ainda se chamava Sporting de Lourenço
Marques, e de lá saiu para o Belenenses
em 1987, tendo ajudado o emblema
do Restelo a conquistar a Taça de Portugal em 1988-89. Foi o primeiro
moçambicano a jogar legalmente em Portugal após a independência do país. Após
três temporadas nos azuis e uma no Sp. Braga, avançou para a primeira de três
passagens pelo Vitória,
onde formou uma dupla diabólica no ataque com Yekini durante as temporadas
1992-93 e 1993-94. “Com ele era tudo fácil. Não parecia tecnicista, mas era
muito poderoso. Muitas vezes ele sozinho amarrava os dois centrais e
libertava-me. Marquei muitos golos assim. Foi um jogador fantástico, o melhor
parceiro que tive. Dávamos muitas assistências um ao outro. Enfim, foi um
período muito bom”, confessou em entrevista ao Maisfutebol,
em julho de 2015.
Quase 30 golos depois, rumou ao
Sporting, onde não foi feliz. Voltou ao Belenenses,
mas sem o mesmo brilho, regressando depois ao Bonfim
em 1996-97 para redescobrir a felicidade, apontando sete golos em 20 partidas
na I Liga. “Era o meu clube talismã e fica na minha história. O Belenenses
acolheu-me muito bem, mas em Setúbal vivi sete anos fantásticos”, contou.
Entretanto transferiu-se para os
Estados Unidos mas retornou a Setúbal em dezembro de 1997, para apontar quase
30 golos em dois anos e meio. Foi uma das figuras do 5.º lugar de 1998-99 que
marcou o regresso às competições europeias 25 anos depois, mas acabou por sair
após a despromoção à II Liga na época seguinte, com destino a Alverca. Quase
duas décadas depois, regressou ao clube para ser treinador da equipa de sub-23,
em 2018-19.
5. Rui Carlos (136 jogos)
Rui Carlos |
Mais um exemplo de um jogador
nascido em África mas com toda uma carreira feita em Portugal. Rui Carlos
nasceu em Luanda, mas concluiu a formação e estreou-se no futebol sénior pelo
Caldas. De lá foi para o Gil Vicente, transferindo-se para o Vitória
no verão de 1992. Seguiram-se nove temporadas seguidas no Bonfim,
seis delas na I Divisão. Nem sempre foi um titular indiscutível, mas o lateral
esquerdo/médio teve um percurso muito assinalável na cidade do Sado. Já na fase
descendente da carreira, aos 32 anos, despediu-se do clube com a subida à I Liga
e foi vestir as cores do Seixal.
4. Meyong (139 jogos)
Meyong |
Chegou
a Setúbal aos 19 anos como um anónimo, era conhecido no mundo do futebol como
Albert, vinha do Ravenna da 2.ª liga italiana e só se estreou mais de um mês
depois de assinar devido a um atraso na chegada do certificado internacional
porque este estava na posse dos espanhóis do Mérida, clube onde esteve apenas à
experiência e nunca se chegou a estrear oficialmente. Foi o cabo dos trabalhos,
mas valeu bem a pena. Desde cedo que mostrou bons apontamentos, mas não ajudou
a equipa então orientada por Rui Águas a evitar a despromoção em 1999-00. “Senti-me
muito bem e foi aí que comecei a gostar de Setúbal. Fui muito bem recebido.
Quase conseguíamos a manutenção”, contou à Tribuna
Expresso em abril de 2019.
Na
temporada seguinte só começou a jogar em outubro porque esteve em Sydney, na
Austrália, a ganhar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos ao serviço dos
Camarões, mas regressou a tempo de marcar 13 golos, o último dos quais a
garantir a promoção, aos 89 minutos da última jornada, num triunfo sobre a
Naval (2-1), num Bonfim à pinha. “É um dos golos mais importantes para mim
e dos que mais festejei. Nesse jogo o estádio do Bonfim estava cheio. Foi a
primeira vez que vi o estádio tão cheio e um ambiente fantástico. Consigo fazer
o golo mesmo no fim. Mudou muitas coisas e a vida de muita gente. Se não tinha
marcado naquele jogo o Vitória
não subia de divisão e ia ter muitos problemas”, recordou Zezé, como é
carinhosamente tratado em Setúbal.
3. Conceição (175 jogos)
Conceição |
Nasceu em Luanda, mas foi no Vitória
que apareceu a jogar em 1962-63, dando o pontapé de saída a um período de dez
anos ao serviço do clube que só não foi ininterrupto porque representou o
Farense em 1971-72 antes de uma última temporada no Bonfim.
Não só integrou as equipas que venceram a Taça de Portugal em 1964-65 e 1966-67
como atuou nas duas finais, sendo um dos jogadores que acompanhou o clube em
praticamente todo o seu período áureo. As boas campanhas com a camisola verde e
branca valeram ao defesa cinco internacionalizações por Portugal, todas em
1969.
2. Jacinto João (270 jogos)
Jacinto João |
1. José Maria (317 jogos)
José Maria |
José Maria não só é o futebolista
com mais jogos na história do Vitória
na I Divisão – embora com menos do que Hélio
e Quim em todas as competições - como o que tem mais golos (91). E muito
dificilmente perderá ambos os tronos e um feito goleador notável para quem era
médio esquerdo. “Orgulho-me de todos os jogos e golos que fiz, mas se bati
recordes só tenho de agradecer à malta com quem joguei”, assumiu ao Record
em setembro de 2015.
Natural de Luanda, chegou a
Setúbal proveniente do Petro em janeiro de 1963, iniciando aí 13 anos
consecutivos no clube
sadino. Um dos expoentes máximos dos anos áureos do clube, esteve nas dez
campanhas europeias consecutivas entre 1965-66 e 1974-75 e marcou nas finais da
Taça de Portugal ganhas pelos setubalenses
em 1964-65 e 1966-67.
“Os anos passam, mas serei sempre do Vitória.
Mesmo à distância, acompanho. Oxalá tenha êxito”, afirmou o antigo
internacional português (por quatro vezes), radicado em Nova Jérsia, nos
Estados Unidos.
uah excelente artigo e eu nao conhecia alguns !
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