sexta-feira, 21 de junho de 2019

Angola e Guiné-Bissau no maior e mais quente CAN de sempre

Angola e Guiné-Bissau vão representar a lusofonia no Egito
Depois da Taça Asiática e da Liga das Nações e com a Copa América e a Gold Cup em andamento, há mais um torneio de seleções para ver. O Campeonato Africano das Nações (CAN) 2019 arranca nesta sexta-feira, naquela que será a primeira vez que a competição se vai realizar no verão e com 24 equipas, entre elas Angola e Guiné-Bissau.


Inicialmente a prova estava prevista para os Camarões, mas atrasos na construção das infraestruturas desviaram o torneio para o Egito, numa decisão tomada pelo Comité Executivo da Confederação Africana de Futebol (CAF) a 8 de janeiro deste ano. Vai ser a quinta vez que realiza em solo egípcio, depois de 1959, 1974, 1986 e 2006, tornando o país no que mais vezes organizou a prova. O pontapé de saída estava agendado para o último sábado, mas foi atrasado em seis dias devido ao Ramadão.

Ultrapassadas as complicações logísticas para a organização do torneio, esperam-se dificuldades desportivas para as duas representantes da lusofonia, as menos cotadas dos respetivos grupos. "Desejo que façam boa figura. Jogadores bons existem nas duas seleções, mas em qualquer uma das duas existem dificuldades", começou por dizer ao DN o selecionador de Cabo Verde, Rui Águas.

Angola renovada e sem tubarões no grupo

Angola vai para a oitava presença, a primeira desde 2008, e não tem tubarões no Grupo E, onde está instalada juntamente com a Tunísia, o Mali de Marega (FC Porto), Diaby (Sporting), Sacko (V. Guimarães) e a Mauritânia, uma das seleções estreantes a par de Madagáscar e Burundi.

Os Palancas Negras, orientados pelo sérvio Srdan Vasiljevic, têm-se debatido com alguns problemas, com os jogadores a faltarem às duas sessões de treino de segunda-feira depois de o presidente da Federação Angolana de Futebol se ter recusado a ouvi-los sobre o pagamento das diárias e do prémio de qualificação para a CAN. "São coisas que não ajudam ao coletivismo, que é sempre fundamental. Espero que as coisas se resolvam", desejou Rui Águas, que levou Cabo Verde ao CAN 2015.
Seleção angolana vai para a oitava presença num CAN

Quem conhece bem Angola é Paulo Duarte, treinador português que passou a maior parte da última década em África, como selecionador de Gabão e Burquina Faso e treinador dos tunisinos do Sfaxien. O técnico levou os burquinenses ao 3.º lugar na última edição, em 2017, mas não conseguiu a qualificação para o CAN 2019 ao ficar atrás dos palancas e da Mauritânia.

"É uma Angola renovada, sem grandes nomes mas com jovens talentos com muita qualidade e que reaparece com um futebol muito bonito e agradável depois de seis anos sem participar na CAN", opinou, sobre uma seleção que tem seis jogadores a atuar em Portugal: Bruno Gaspar (Sporting), Buatu e Gelson Dala (Rio Ave), Wilson Eduardo (Sp. Braga), Mateus (Boavista) e Evandro Brandão (Leixões).

Guiné-Bissau em crescimento

A Guiné-Bissau vai participar apenas pela segunda vez no CAN, depois de não ter ido além da fase de grupos em 2017. No entanto, ao contrário de Angola, vai ter dois pesos-pesados no grupo: os detentores do título Camarões, que têm entre os convocados o maritimista Joel e o guarda-redes Onana, que brilhou na Liga dos Campeões ao serviço do Ajax, e o Gana de Thomas Partey (Atlético Madrid) e Asamoah (Inter), que é sempre um crónico candidato. O Benim completa o grupo e é importante frisar que os quatro melhores terceiros classificados de cada grupo avançam para os quartos-de-final.

"Sei que tem muitas restrições como habitualmente, como Cabo Verde, porque são países com poucos recursos ao contrário de outros participantes, mas existe talento", salientou Rui Águas, sobre os djurtus, que têm uma dúzia de jogadores a atuar nos campeonatos portugueses: Jonas Mendes (Académico Viseu), Rui Dabó (Fabril), Nadjack (Rio Ave), Juary Soares (Mafra), Nanú (Marítimo), Mamadu Candé (Santa Clara), Jaquité (Tondela), Bura e Mama Baldé (Desp. Aves), Sori Mané (Cova da Piedade), Romário Baldé (Académica) e Mendy (V. Setúbal).


"Guiné-Bissau tem vindo a crescer muito e a descobrir jogadores a alinhar na Europa, sendo que acaba por perder alguns deles para a seleção portuguesa. Caso esses jogadores não tivessem optado pela seleção portuguesa, a Guiné teria uma seleção fortíssima, mas mesmo assim tem vindo a subir muito no ranking FIFA e pode fazer uma boa campanha e talvez chegar aos quartos-de-final, com uma maturidade e experiência que nunca teve", considerou Paulo Duarte, em alusão a jogadores como Danilo Pereira, Bruma e Eder, todos internacionais por Portugal.

"Futebol alegre" e ritmo cada vez maior

"Uma competição como esta tem sempre muitos atrativos: um futebol alegre, atacante e às vezes pouco racional. Depende muito se os selecionadores são africanos ou europeus, a diferença é bastante grande. O torneio vai ser jogado num país de futebol, com boas condições e onde mora uma das seleções favoritas, várias vezes campeã africana, que é o Egito", vaticinou Rui Águas, sobre a competição que se vai realizar entre esta sexta-feira e 19 de julho em seis estádios de quatro cidades: Cairo (três estádios), Ismaília, Suez e Alexandria.

Já Paulo Duarte, que participou no CAN por Burquina Faso em 2010 e 2017 e pelo Gabão em 2012, destaca a evolução da prova. "É um torneio cada vez mais competitivo, organizado e rápido, em que os jogadores se aproximam cada vez mais do ritmo do futebol europeu, porque a maior parte dos jogadores joga na Europa e a maioria das seleções tem treinadores europeus. A cada edição, o ritmo vai sendo maior", realçou o histórico central da União de Leiria.

Egito joga em casa e tem Salah

Desafiados a apontar favoritos à conquista do cetro africano, os dois treinadores portugueses frisam que costuma haver "sempre surpresas" no CAN, mas há outro ponto em que concordam: o anfitrião Egito, seleção com mais presenças (24) e títulos (sete), é um dos mais sérios candidatos ao título.

"É difícil apontar favoritos, porque as equipas são inconstantes, mudam muito e muitas delas têm problemas de vária ordem, à exceção da equipa que joga em casa, o que é sempre uma grande vantagem. É muito flutuante. O Egito não é uma equipa que me impressione muito. Tem um jogador de referência que todos sabemos qual é [Mohamed Salah] e ter um avançado de topo mundial é logo uma grande vantagem. E jogar em casa conta muito", frisou Rui Águas, antigo avançado de Benfica e FC Porto, que em 2017-2018 orientou os egípcios do Pharco.


Paulo Duarte, que termina contrato com o Burquina Faso em agosto e ainda não sabe se vai continuar, inclui os egípcios no lote de favoritos, onde também coloca Marrocos, Costa do Marfim e Senegal. "Marrocos tem uma seleção jovem e muito forte, que faz inveja, a Costa do Marfim apresenta-se renovada e o Senegal tem grandes jogadores e uma equipa de excelência", justificou o treinador de 50 anos.

Das estrelas à revelação da Tanzânia

O Egito tem Salah mas há outras estrelas do futebol mundial em ação ao serviço de outras seleções. Mahrez (Manchester City) vai fazer companhia a Brahimi na Argélia, Sadio Mané (Liverpool) e Koulibaly (Nápoles) vão liderar o Senegal, o campeão europeu Naby Keita (Liverpool) estará com a Guiné Conacri, a sensação do campeonato francês Pépé vai representar a Costa do Marfim, e Hakimi (Borussia Dortmund), Benatia (Al-Duhail) e Ziyech (Ajax) serão algumas das figuras de Marrocos.

"O CAN não vai ter em prova duas ou três grandes estrelas. Uma delas é a minha estrela, o Bertrand Traoré, do Lyon, mas não nos qualificámos devido às muitas lesões que afetaram a equipa. Aubameyang [Gabão] também vai estar ausente", lamentou Paulo Duarte. Já Rui Águas aconselha um jogador a seguir: "Defrontou Cabo Verde e gostei especialmente dele. Acabou por ser decisivo. É um rapaz chamado Mbwana Samatta, da Tanzânia, que é um dos melhores marcadores do campeonato belga [pelo Genk]". "É um avançado que pode dar nas vistas", acredita o treinador de 59 anos.

"27 portugueses" em ação

Da I Liga aos distritais, há quase três dezenas de futebolistas a atuar em Portugal que vão estar em ação no Campeonato Africano das Nações, distribuídos por oito seleções:
Guiné-Bissau marca presença no torneio pela segunda vez

Angola: Bruno Gaspar (Sporting), Buatu e Gelson Dala (Rio Ave), Wilson Eduardo (Sp. Braga), Mateus (Boavista) e Evandro Brandão (Leixões);

Argélia: Halliche (Moreirense) e Brahimi (FC Porto);

Burundi: Chris Nduwarugira (Amora);

Camarões: Joel (Marítimo);

Egito: Aly Ghazal (Feirense);

Guiné-Bissau: Jonas Mendes (Académico Viseu), Rui Dabó (Fabril), Nadjack (Rio Ave), Juary Soares (Mafra), Nanú (Marítimo), Mamadu Candé (Santa Clara), Jaquité (Tondela), Bura e Mama Baldé (Desp. Aves), Sori Mané (Cova da Piedade), Romário Baldé (Académica) e Mendy (V. Setúbal);

Mali: Sacko (V. Guimarães), Marega (FC Porto) e Diaby (Sporting);

RD Congo: Mbemba (FC Porto).

Além destes, os filhos de pais portugueses Manuel da Costa e Daniel Cardoso vão estar ao serviço de Marrocos e África do Sul, respetivamente.










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