O goleador belga do Portimonense que denunciou uma tentativa de corrupção. Quem se lembra de Cadorin?
Cadorin marcou 35 golos em 73 jogos pelo Portimonense na I Divisão
O Portimonense
viveu o seu período áureo em meados da década de 1980, quando obteve a melhor
classificação de sempre na I
Divisão, o quinto lugar em 1984-85, e tornou-se na primeira equipa algarvia
a jogar uma competição europeia, na época seguinte. O goleador dos alvinegros
nessa altura era o belga Serge Cadorin, que em 1984-85 foi mesmo o segundo
melhor marcador do campeonato, com 16 golos – foi apenas superado pelo portista
Fernando Gomes (39), que nessa temporada venceu a sua segunda Bota de Ouro.
Proveniente do RFC Liège,
reforçou o conjunto
de Portimão no verão de 1983 por intermédio do empresário Lucano D’Onofrio,
que contou com a dica de Luís Norton de Matos – na altura jogador do Portimonense
após ter passado três anos no Standard
Liège –, mas traiu quem o levou para o Algarve pelo bem da… verdade desportiva. Porquê? Porque denunciou a tentativa
de corrupção por parte de D’Onofrio antes de um Portimonense-FC
Porto disputado em novembro de 1985, para a 11.ª jornada do campeonato. A
ideia do empresário italo-belga em sondar Cadorin era pagar-lhe 500 contos
(cerca de 2500 euros) e transferi-lo para o FC
Porto ou um clube de Itália ou Suíça em troca de um penálti cometido nos
primeiros cinco minutos. Mas o avançado dos alvinegros
recusou participar no esquema e denunciou o caso ao presidente dos algarvios,
Manuel João, que por sua vez apresentou queixa na Polícia Judiciária. O caso ficou em águas de
bacalhau, devido à falta de provas conclusivas, por ser a palavra de um contra
a do outro, mas o orgulho ferido dos futebolistas do Portimonense
guiou-os a uma vitória sobre o FC
Porto, por 1-0. E sabe quem marcou o único golo do encontro? Ele mesmo,
Cadorin, que apareceu isolado na pequena área para bater Zé
Beto, após cruzamento de Luís Reina a partir do corredor esquerdo. Foi a
primeira derrota dos dragões,
então comandados por Artur
Jorge, nessa temporada.
No verão do ano seguinte, sofreu
um grave acidente doméstico e ficou com 70% do corpo queimado devido à explosão
de uma garrafa de álcool demasiado próxima do fogo durante a preparação de um
churrasco, numa altura em que tinha um pré-acordo com o Sporting.
O acidente fragilizou-o e travou
a trajetória ascendente da sua carreira, tendo ficado toda a temporada 1986-87
sem jogar. Ainda chegou a integrar uma digressão dos leões
a África em junho de 1987, mas acabou por representar a Académica
em 1987-88, descendo de divisão antes de uma derradeira época em Portimão. Depois voltou à Bélgica, onde
encerrou a careira em 1990, quando ainda nem tinha 29 anos. Viria a morrer em abril de 1987,
aos 45 anos, vítima de ataque cardíaco.
Sem comentários:
Enviar um comentário