quarta-feira, 30 de outubro de 2024

O diabo loiro que bisou na estreia pelo Benfica e depois eclipsou-se. Quem se lembra de Paulo Nunes?

Paulo Nunes marcou dois golos em oito jogos pelo Benfica em 1997
Um dos avançados da moda no futebol brasileiro em meados da década de 1990, formou uma dupla infernal com Mário Jardel que fez do Grêmio vencedor da Libertadores em 1995, foi melhor marcador do Brasileirão em 1996 e tinha acabado de vencer a Copa América pelo Brasil quando foi contratado pelo Benfica no verão de 1997, protagonizando aí a maior venda de um clube brasileiro (10 milhões de dólares).
 
“Estive três meses em negociações. O meu empresário era o Gilmar Veloz, mas o dono do meu passe era um espanhol que comandava o Barcelona na época, que agora não lembro o nome… Estava a negociar com o Benfica e com o Deportivo da Corunha, mas eu queria muito ir para Portugal. O Benfica é dez vezes maior do que o Deportivo”, recordou ao Maisfutebol em outubro de 2016.
 
A receção em Lisboa foi “maravilhosa”. “Senti-me em casa, senti-me muito bem tratado, num clube que já tinha uma estrutura fenomenal que não tinha nada a ver com o Grêmio da época. Senti-me muito querido pelos adeptos. Estava a viver um sonho, naquele momento”, prosseguiu aquele que era conhecido no Brasil como o “diabo loiro”.
 
A contratação desta avançado móvel e de baixa estatura (1,73 m) parecia ser inatacável. E Paulo Nunes até arrancou a todo o gás a sua aventura no futebol português, ao bisar na jornada inaugural do campeonato, numa receção ao Campomaiorense (4-0). “Fiz um golo de bicicleta e outro de calcanhar. Nunca tive estreia assim em qualquer outro clube. Tinha tudo para correr bem”, lembrou.
 
 
A partir de então, disputou mais sete encontros e não voltou a faturar, acabando por regressar ao Brasil no início de 1998 para vestir a camisola do Palmeiras. “O que me deixa mais triste no tempo que estive no futebol foi não ter ficado mais tempo no Benfica. Infelizmente o futebol traça coisas que às vezes não conseguimos levar da forma como queríamos. (…) A principal explicação é simples: eu não recebia… (…) Comecei logo por não receber os 20 por cento a que tinha direito na transação e depois também não fui recebendo. Fizeram muitas cartas do banco, com promessas, mas dinheiro não vinha. Chegou a uma altura em que nem o meu salário completo recebia. Os direitos de imagem, por exemplo, não recebia”, lembrou o avançado brasileiro, que no pouco tempo em que esteve na Luz apanhou dois presidentes: Manuel Damásio e Vale e Azevedo.
 
E foi precisamente Vale e Azevedo quem lhe anunciou que Paulo Nunes não podia ficar muito tempo no Benfica: “Podem dizer o que quiserem, mas comigo foi muito honesto. Disse logo: ‘gostava que ficasses, mas não posso pagar este salário. O presidente anterior fez uma besteira e não podemos honrar um compromisso destes’. Tinha de abdicar de metade do meu salário e isso deixou-me logo chateado. Tinha um contrato de cinco anos e nem cinco meses depois já queriam mudar tudo. Não aceitei. E o Vale e Azevedo disse logo: ‘podes ficar, mas não vais receber’.”
 
 
Além dos incumprimentos salariais e da quebra de rendimento, a relação entre o atacante internacional canarinho e o treinador Manuel José tornou-se instável. “Talvez tenha sido um erro meu, mas ninguém me explicou direitinho como eram as coisas no Benfica. Ora, parece que não podia estar fora de casa a partir das 22:30 e houve um dia em que fui jantar e fiquei até à 1:30… cobraram-me uma multa de 25 mil dólares. Eles entregavam um regulamento interno aos jogadores, mas aquilo era enorme. Sou sincero: nem li, era muita coisa. Mas, quer dizer, eu já não estava a receber e ainda me aplicavam uma multa? Era o que mais faltava. Disse logo que não pagava. Alguém deveria ter-me dito que não poderia estar na rua a partir das 22:30…”, afirmou.
 
“Um treinador tem de ser inteligente. Se há um problema pequeno no grupo, mas o grupo está bem, vou querer complicar? Ele complicou. Um dia antes do jogo com o Rio Ave, meteu-me à frente de todo o mundo e conta o meu caso. Explodiu o balneário um dia antes de um jogo. Nunca vi isso na minha vida… ficou toda a gente a olhar uns para os outros e ele disse-me que se eu quisesse nem ia para o jogo. Mas eu disse que ia, claro. Ao intervalo já perdíamos 3-0”, prosseguiu. “Estragou tudo. Acabou com um grupo que estava a ficar unido”, lamentou.
 
Na altura, falava-se que um dos problemas da sua passagem pelo Benfica era uma relação algo tensa com João Vieira Pinto, mas Paulo Nunes não só desmente essa ideia como elogia o antigo internacional português.
 
“Amei Lisboa, amei o Benfica. Achava o estádio lindo, o emblema, a águia… Até a cor, que era a cor do rival do Grêmio, o Inter, eu achava linda! Fiz muitos amigos e continuo a torcer pelo Benfica porque merece todo o meu respeito”, garante o atacante, que anos depois teve uma proposta do Boavista para voltar a Portugal.
 
 
Paulo Nunes, que se formou e despontou no Flamengo e conquistou um campeonato brasileiro (1992) e uma Taça do Brasil (1990) pelo mengão, entre outros troféus, viveu a fase mais gloriosa da carreira no Grêmio entre 1995 e 1997, tendo conquistado dois campeonatos gaúchos, uma Libertadores (1995), um campeonato brasileiro (1996), uma Recopa Sul-americana (1996) e uma Taça do Brasil (1997).
 
No regresso ao Brasil no pós-Benfica, ganhou uma Taça do Brasil (1998), uma Taça Mercosul (1998) e uma Libertadores (1999) pelo Palmeiras e um campeonato paulista pelo Corinthians (2001).
 
No ocaso da carreira passou ainda pelo Gama, pelos sauditas do Al Nassr e pelo Mogi Mirim, tendo pendurado as botas de forma algo precoce, em 2003, quando tinha apenas 32 anos, depois de cinco cirurgias aos joelhos.
 
Entretanto tornou-se comentador desportivo em canais de televisão e chegou a participar num reality show brasileiro, A Fazenda 6, em 2013.



 





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