sexta-feira, 7 de maio de 2021

Rafa Fonseca. A época mal planeada em Águeda e o sonho de jogar pela Oliveirense

Rafa Fonseca representou o Recreio de Águeda em 2020-21
Ainda a digerir a despromoção do Recreio de Águeda aos distritais da AF Aveiro, diz que “é a pior sensação que um jogador pode ter”, logo num clube que “é um dos melhores do distrito”, numa fase em que vai remetendo as propostas para 2021-22 para o empresário.
 
Em entrevista, Rafa Fonseca passa em revista os largos anos que passou na Oliveirense, clube em que fez quase toda a formação e que ajudou a chegar à final four da Taça da Liga em 2017-18, e recorda as passagens por um Bustelo onde se sentiu “em casa” e por uma Sanjoanense com “adeptos calorosos”. No entanto, diz que foi no Algarve que encontrou o melhor que clube que representou, “sem dúvida alguma”.
 
RUI COELHO - Embora o Rafa Fonseca tivesse apontado quatro golos em 16 jogos no Campeonato de Portugal, não conseguiu impedir a queda do Recreio de Águeda aos distritais da AF Aveiro. Que balanço faz da temporada 2020-21 em termos individuais e coletivos?
RAFA FONSECA - Na minha opinião, esta temporada desenrolou-se de forma atípica devido à situação pandémica em que vivemos. Ao longo da temporada houve sempre alguns problemas, até ao ponto de chegarmos a parar durante 15 dias devido a termos casos positivos de covid-19 dentro do plantel. Ficámos inseridos na melhor e mais competitiva série do Campeonato de Portugal, na minha opinião, e sabíamos que não havia grande margem de erro, todos os pontos seriam importantes e houve momentos em que não conseguimos manter ou até mesmo reagir a resultados. O Recreio de Águeda é uma enorme instituição, com capacidade para lutar com os melhores do distrito, mas esta época foi mal planeada desde o primeiro dia e houve coisas que não correram bem. A nível individual também não foi a época que planeei, tive uma lesão que me retirou da competição por um período longo e, num campeonato tão curto, foi difícil recuperar a boa forma que tinha antes da lesão.
 
O que correu mal para que o desfecho fosse a descida de divisão e como é que o Rafa Fonseca tem estado a digerir a despromoção?
Ser despromovido é a pior sensação que um jogador pode ter, ninguém quer ter no currículo uma descida de divisão. O facto desta paragem entre o fim da última época e o início desta ser tão longa custa mais a qualquer jogador digerir. Queremos iniciar uma nova etapa o mais rápido possível, queremos mostrar que somos capazes de fazer melhor do que fizemos na última temporada. Resta treinar e focarmo-nos na próxima época, para sermos melhor do que fomos na anterior. É o que tenho feito.
 
Já sabe onde vai jogar na próxima temporada?
Neste momento sou um jogador livre e deixo ao meu empresário todas as propostas que me possam surgir, mas para já ainda é cedo para tomar decisões.
 

“O Recreio de Águeda é um dos melhores clubes do distrito”

Rafa Fonseca joga habitualmente no ataque
O Recreio de Águeda é um clube histórico português, que inclusivamente já esteve na I Divisão. O que achou do clube?
O clube é um dos melhores do distrito, sem dúvida nenhuma, dispõe de condições de treino muito boas e proporciona aos seus jogadores boas condições para praticar futebol. Tem lacunas como muitos outros clubes, mas sei perfeitamente que a direção do clube está certamente a trabalhar para devolver o clube aos campeonatos nacionais.
 
O que achou dos métodos do mister Tonau?
Cada treinador tem os seus métodos e os seus princípios. Aprendi coisas com o professor Tonau, tal como aprendi com todos os treinadores que tive até hoje. Todos me enriqueceram como jogador e como pessoa.
 
Voltando atrás no tempo… o Rafa nasceu em Oliveira de Azeméis. Como é que foi a sua infância e como é que a bola entrou para a sua vida?
Desde de criança que acompanhei o meu padrinho, que foi jogador de futebol. O bichinho começou aí. Foi também o meu padrinho que me inscreveu na escola de formação da Oliveirense, onde fiz toda a minha formação. Uma vez que cresci numa pequena aldeia, era possível estar sempre com os meus colegas a jogar futebol, quer em casa uns dos outros ou até mesmo em ruas pouco movimentadas. Mas sem dúvida que o principal impulsionador foi o meu padrinho.
 

“Gostei imenso do meu percurso na formação da Oliveirense e nunca quis sair do clube”

Foi na Oliveirense que fez toda a sua formação. Quais são as melhores memórias que guarda desses tempos?
Gostei imenso do meu percurso na formação da Oliveirense. Nunca quis sair do clube, sempre tive bons treinadores e que me motivavam imenso e sempre fui feliz. Acho que enquanto somos crianças o que realmente é importante é sermos felizes por praticar desporto e sentirmo-nos realizados, e foi sempre assim que me senti. O que mais me recordo e mais me enriquece foi ser acompanhado pelos meus pais em todos os jogos, sempre que eu jogava eles estavam lá. Sentir que os meus pais me apoiavam e me acompanhavam é a melhor memória que tenho do futebol de formação.
 
Em 2012 cumpriu um sonho de menino ao jogar pela equipa principal da Oliveirense. Qual foi a sensação?
O sonho de qualquer jogador é chegar à equipa principal do clube que o formou, eu tive essa oportunidade e tentei sempre agarrar. É lógico que o futebol de formação é muito diferente do futebol sénior e na altura em que cheguei à equipa sénior da Oliveirense, o clube estava muito bem cotado na II Liga. Lembro-me que no meu primeiro ano de sénior chegamos às meias-finais da Taça de Portugal, sendo eliminados pela Académica, que nesse ano conquistou a Taça.
Não era fácil naquele tempo, sendo jovem, jogar na equipa. Mas foram os anos em que mais aprendi no futebol porque tive a oportunidade de jogar com jogadores muito experientes e que sempre me ajudaram a crescer, sempre me tentaram indicar o melhor caminho.
 

“O Bustelo foi o clube onde me senti em casa”

Rafa Fonseca jogou pela Oliveirense na II Liga
Não teve o tempo de jogo esperado na sua primeira época enquanto sénior e surgiu depois a hipótese de jogar no Bustelo, então na III Divisão. Como correu essa experiência?
Como já tinha referido, não era fácil entrar numa equipa com a qualidade da equipa da Oliveirense. Então em janeiro surgiu a oportunidade de ir para o Bustelo, que naquela época funcionava quase como uma equipa satélite da Oliveirense. Desde já digo que o Bustelo foi dos melhores clubes onde já joguei, foi a melhor oportunidade que tive na carreira, uma vez que com 19 anos consegui a minha primeira subida de divisão enquanto sénior. É importante referir que o Bustelo nunca tinha chegado à II Divisão B, como era designada antigamente. Tive a oportunidade de jogar muito mais tempo do que teria na Oliveirense e é muito importante para os jogadores jovens terem minutos para que possam evoluir mais.
 
A época no Bustelo culminou numa inédita subida à II Divisão B. O que representou essa conquista para si e para as gentes do Lugar de Bustelo e qual foi o sentimento de ter representado o clube?
Foi o clube onde me senti em casa, onde me senti acolhido e acarinhado por todo o grupo de trabalho, sem esquecer a direção do clube que nessa época desenvolveu um enorme trabalho. Só quem esteve em Bustelo nessa época sabe o que representou para a vila aquela subida de divisão, um clube com tantos anos de história nunca tinha alcançado tal feito, foi inexplicável.
 
Em 2014 regressou à Oliveirense para procurar a afirmação na II Liga. Imaginamos que os anos que se seguiram tenham sido os melhores da sua carreira, ainda que com uma descida e uma subida de divisão pelo meio…
Quando regressei à Oliveirense sentia-me com mais capacidade para jogar, sentia-me mais jogador. Ter feito tantos jogos pelo Bustelo ajudou imenso ao meu crescimento. Sem dúvida que jogar na II Liga e ter a oportunidade de defrontar jogadores que hoje são de seleção é a melhor experiencia do futebol. Desci de divisão e achei que tinha de ficar no clube para ajudar a equipa da minha cidade a subir novamente. Com um grupo de jogadores incríveis conseguimos subir novamente à II Liga.
 
Em 2017-18 contribuiu para a caminhada até às meias-finais da Taça da Liga, numa altura em que já havia o formato de final four. Que memórias tem dessa campanha e como é que a equipa lidou com tanto mediatismo?
A final four foi o melhor momento da minha carreira até hoje, foi o ponto mais alto da minha carreira. Só quem assistiu aos jogos é que poderá confirmar o quanto merecíamos estar na final da Taça da Liga.
 

“Adeptos da Sanjoanense são calorosos”

Rafa Fonseca na Sanjoanense em 2018-19
No verão de 2018 assinou pela vizinha Sanjoanense, então no Campeonato de Portugal. Como correu a temporada em São João da Madeira e o que achou do clube e dos seus adeptos?
Tomei a decisão de pôr fim a um ciclo bonito na Oliveirense, foi uma época em que não tive os minutos que desejava e decidi aceitar a oportunidade da Sanjoanense. Recém-adquirida por uma SAD, em reunião com o presidente da SAD senti que a Sanjoanense contava mesmo com o meu contributo. Há pessoas que nos convencem pela vontade de vencer e, naquele momento, o presidente convenceu-me. No que diz respeito aos associados da Sanjoanense posso dizer que são incríveis, é importante realçar que a Força Negra é uma claque incansável e que sempre nos acompanhou. Em resumo os adeptos sanjoanenses são calorosos.
 
Na Sanjoanense foi orientado pelo experiente técnico Filipe Moreira. O que mais o impressionou nele e o que acha que o torna num treinador tão conceituado no contexto de Campeonato de Portugal?
O mister Filipe Moreira é um verdadeiro conhecedor do Campeonato de Portugal, para mim um dos melhores treinadores. Merece por completo todos os resultados que tem obtido. Pela sua competência e principalmente pelo amor que tem ao jogo não me surpreende as subidas que tem no Campeonato de Portugal. É um verdadeiro conhecedor do jogo por completo.
 

Louletano foi o melhor clube que representei, sem dúvida alguma”

Rafa Fonseca com a camisola do Louletano
Em 2019 saiu pela primeira vez do distrito de Aveiro e rumou a sul para representar o Louletano. O que o levou a mudar de ares, como correu a temporada em Loulé e o que achou do clube algarvio?
Loulé é uma história bonita da minha carreira. Surgiu-me o convite por parte da direção do Louletano e era impossível recusar tal convite. Posso dizer que até hoje o Louletano foi o melhor clube que representei sem dúvida nenhuma. As melhores condições de trabalho, a melhor organização quer em termos da direção quer em termos de staff e uma cidade linda para se viver. Foi uma ótima experiência que só não se tornou ainda mais especial porque fomos obrigados a parar devido à pandemia que surgiu no país. Estávamos a quatro pontos dos dois primeiros lugares e numa fase de vitórias na qual me fazia acreditar que iriamos estar a lutar pela subida de divisão.
 
Propomos-lhe um desafio. Elabore um onze ideal de jogadores com os quais tenha jogado.
Guarda-redes: Bruno Vale;
Defesas: Diego Galo, Ângelo Meneses, Bruno Sousa e Mário Mendonça;
Médios: Hélio Pinto, Rui Lima e Filipe Gonçalves;
Avançados: Bryan Riascos, Clemente Ventura e Diogo Valente.
 
E que treinadores mais o marcaram e porquê?
Pedro Miguel foi o meu primeiro treinador, o treinador que me lançou na equipa principal com 19 anos e com quem comecei a aprender muitas coisas sobre o futebol. João de Deus, um treinador que me desenvolveu muito, treinador muito rigoroso e com métodos de trabalho que para mim foram os melhores. Não posso esquecer o mister Miguel Oliveira que me treinou no Bustelo e que me ensinou muitas coisas, mas a que mais quero realçar é que me ajudou a crescer como homem, com valores que ainda hoje carrego.  Filipe Moreira marcou-me imenso pelo amor que deposita no jogo e pela capacidade de lidar de uma maneira muito boa com tantas personalidades diferentes e culturas diferentes em prol de um grupo de trabalho forte.
 
Além do futebol, tem outro tipo de atividade?
Sou licenciado em Educação Física e Desporto e neste momento estou a tirar um TeSP [Cursos Técnicos Superiores Profissionais] em Sistemas Mecatrónicos. Gosto muito de estudar, por isso ainda continuo.
 
Entrevista realizado por Rui Coelho










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