quinta-feira, 26 de março de 2020

Uma proposta para o futebol pós-coronavírus: esperar pela bonança e queimar 2020-21

Novo coronavírus parou competições de futebol em todo o mundo
Se pensam que as competições de futebol vão voltar em abril ou em maio… tirem o cavalinho da chuva! Provavelmente vamos passar toda a primavera e parte do verão sem o desporto-rei. O novo coronavírus (Covid-19) veio para ficar, podem ter a certeza. Há países aos quais apenas agora chegou e certamente haverá outros cuja recessão económica deverá levar a uma maior flexibilização das medidas adotadas, ou seja, a um agravamento da propagação do surto.


Em Portugal, mesmo com as fronteiras fechadas, espera-se uma longa maratona para levar a cabo a eliminação do vírus, até porque o objetivo passa (e bem!) pelo achatamento da curva de novos casos diários para que os hospitais tenham capacidade de resposta e, consequentemente, para que hajam menos mortes. O que não significa que isto vá passar rapidamente, bem pelo contrário.

O futebol terá de esperar, mas há que decidir o que fazer com as competições que foram interrompidas, sabendo-se que qualquer decisão que será tomada irá ferir a verdade desportiva. As regras e as datas previamente definidas não serão cumpridas e isso será sempre injusto.

Homologar as classificações atuais e assim determinar campeão e subidas e descidas de divisão tem sido um dos cenários em cima da mesa, mas altamente injusto. Em Portugal e Espanha, por exemplo, as últimas jornadas ficaram marcadas por trocas de líderes e por uma luta acesa pelo primeiro lugar. E houve equipas que fizeram um investimento avultado no mercado de janeiro no reforço do plantel para levar a época a bom porto, como o Benfica (líder até à 22.ª jornada do campeonato português), que contratou Julian Weigl ao Borussia Dortmund por 20 milhões de euros, ou o Espanyol, que recrutou Raul de Tomas às águias também por 20 milhões e entrou nesta pausa no último lugar do campeonato espanhol. E porque não falar do Sporting, que tinha acabado de assegurar a contratação do treinador Rúben Amorim ao Sp. Braga por 10 milhões de euros e procurava chegar ao pódio? Não seria líquido que esses investimentos levassem ao cumprimento de objetivos, mas seria tremendamente injusto que não houvesse em campo a oportunidade de se obter retorno desportivo.

Outra das hipóteses seria esperar pelo passar da tempestade e aproveitar o adiamento do Euro 2020 para disputar os jogos em falta até ao início da próxima temporada. Mas seria essa proposta possível de concretizar? Sem tanto tempo sem competições, num desporto de alta competição, as equipas teriam de ser sujeitas a um período preparatório, até para salvaguardar a integridade física dos jogadores. Em relação aos contratos que caducam a 30 de junho, será legítimo obrigar os jogadores a prolonga-los por mais um ou dois meses? Se as competições se arrastarem, o mercado estará aberto ou fechado? E quando será seguro voltar na plenitude, com jogos à porta aberta? São demasiadas e complexas questões, mas que estão em cima da mesa devido a um surto à escala mundial que até há pouco tempo era inimaginável.

Campeonato italiano experimentou jogos à porta fechada

A minha proposta, como todas as que têm vindo a ser apresentadas, é radical, e sim, está repleta de um sem número de questões impossíveis de responder para já. A minha sugestão passa por cancelar toda a temporada desportiva 2020-21 e aproveitar esse vazio no calendário para jogar o que falta jogar de 2019-20, antecipar o Campeonato da Europa e recomeçar 2021-22 na plenitude.

Esta fórmula permitiria dar prioridade à contenção e eliminação do novo coronavírus, não motivando um regresso precoce aos treinos – como se tem visto em alguns clubes europeus – e à competição sem que este grave problema global fosse resolvido. É fundamental não tomar medidas precipitadas para acelerar o regresso do futebol. Quando o futebol regressar, terá de ser em segurança. E voltar em segurança não é à porta fechada, é com as bancadas repletas depois da a pandemia ser irradiada do planeta. É imperativo regressar apenas em tempo de bonança, quando a tempestade passar, e não quando caírem apenas algumas pinguinhas.

É verdade que na esmagadora maioria dos campeonatos em Portugal e na Europa faltam somente disputar cerca de dez jornadas, mas, assumindo a época 2020-21 como de transição, caberá aos responsáveis dar asas à criatividade para se ir compondo o calendário. Isto se houver espaço para tal, uma vez que o fim da pandemia ainda não está à vista e há já especialistas que alertam para a possibilidade de uma segunda vaga de propagação do coronavírus até final do ano. E, claro, não se pode exigir que atletas de alta competição passem rapidamente de um período de paragem competitiva para períodos de jogos de três em três dias. Quem percebe alguma coisa de desporto entende que isso seria impensável.

No caso português, além do que falta disputar do campeonato de 2019-20, seria possível manter a Taça de Portugal e a Taça da Liga de 2020-21 e criar a título excecional um torneio complementar para que não houvesse um vazio no calendário. Não seria o ideal, mas seria o menos mau. As janelas do mercado de transferência seriam as mesmas das que vigoram atualmente, ainda que sujeitas a ligeiros ajustes. Este é um cenário que roça o utópico, mas… que possível solução é que neste momento não aparenta ser fantasiosa?

























1 comentário:

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