sábado, 18 de janeiro de 2020

Luís Freire. Uma pedrada no charco na guerra de treinadores

Luís Freire assumiu comando técnico do Nacional no início da época
Tem dado pano para mangas a questão dos treinadores sem as habilitações necessárias (nível IV – UEFA Pro) a trabalhar em clubes na I Liga, com o sportinguista Silas e o braguista Rúben Amorim no epicentro do furacão.


De um lado e de outro têm chovido argumentos, uns mais fundamentalistas, outros mais sensatos. A Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF) mantém-se intransigente na sua luta, mas agora o soundbite já não é a ridícula comparação entre treinadores e médicos sem habilitações mas sim a condução de veículos pesados para quem só está habilitado a conduzir ligeiros. Os treinadores, nomeadamente os acima citados, que são os rostos mais mediáticos da polémica, socorrem-se da experiência empírica acumulada ao longo das carreiras de jogadores, em que tiveram contacto com alguns dos mais conceituados treinadores portugueses de todos os tempos.

É legítimo acreditar que os vários anos que Silas passou às ordens de técnicos como José Mourinho e Jorge Jesus e em balneários de diferentes países lhe tenham dado uma bagagem maior do que dez dias que um curso ministrado em larga escala por técnicos sem grande sucesso lhe poderiam oferecer.

Mas também é legítimo não deixar o futebol português transformar-se numa anarquia (ainda maior) e cair no perigo de que várias equipas profissionais sejam orientadas por treinadores verdadeiramente inaptos para a função, meros curiosos que, mais do que incompetentes tecnicamente ou taticamente, poderão colocar em risco a integridade física dos atletas.

No meio desta guerra, há um treinador que tem emergido de forma tão meteórica quanto sustentada, que não foi futebolista nem adjunto de treinador de ponta e nem sequer tem as habilitações necessárias para a competição em que trabalha: Luís Freire.

Com apenas o curso de II nível, tem apresentado resultados ano após ano, depois de ter adjuvado Filipe Moreira no Mafra, no Tondela e no Oriental. Se costuma dizer-se que Jorge Jesus começou a carreira de treinador por baixo, então o atual técnico do Nacional da Madeira iniciou a sua no subsolo, na terceira divisão dos distritais da Associação de Futebol de Lisboa. Em 2012-13 subiu o Ericeirense à ao segundo escalão e em 2014-15 ao primeiro, o Pro-Nacional. Em 2015-16 voltou ao patamar secundário dos distritais da AF Lisboa para promover o Pêro Pinheiro e na época seguinte guiou o clube do concelho de Sintra ao Campeonato de Portugal. E logo a seguir mudou-se para o Mafra, clube que levou à conquista do Campeonato de Portugal e consequente subida à II Liga.

Ou seja, no papel Luís Freire não tem as habilitações necessárias para treinar na II Liga, mas na prática tem galgado todas as divisões desde o patamar zero ao futebol profissional sem queimar qualquer etapa. E neste momento está a levar o Nacional aos lugares de promoção à I Liga, onde há-de chegar mais cedo ou mais tarde. Não tenho dúvidas. Na época passada já deu um ar de sua graça quando, ao leme do Estoril, venceu em Alvalade para a Taça da Liga e deu ao presidente leonino Frederico Varandas o pretexto ideal para despedir José Peseiro.

Além dos resultados, nota-se claramente que as equipas de Luís Freire são equipas de autor, com um modelo de jogo bem definido e ideias bem aplicadas. Quando esteve à frente do Estoril, deu nas vistas pelo futebol elaborado e aprazível, que em organização ofensiva se iniciava com uma saída assimétrica a três, com apenas um lateral projetado e o outro ao lado dos centrais na primeira fase de construção, e defensivamente pautava por uma forte reação à perda da bola. A equipa do concelho de Cascais pode não ter conseguido acompanhar a dinâmica de vitórias de Paços de Ferreira e Famalicão, mas a verdade é que quem passou pelo banco dos canarinhos depois da saída de Freire (em janeiro de 2019) não fez melhor, tanto a nível de resultados como de estética.


Nesta temporada, talvez por conhecer melhor a II Liga, mas provavelmente também para tirar melhor partido das características dos seus jogadores, o seu Nacional tem mostrado um futebol diferente do que aquele que o seu Estoril exibia. Os madeirenses mostram o gosto pela posse de bola, mas mais do que progredir de forma apoiada, convidam o adversário a subir no terreno para que depois os rapidíssimos extremos Camacho e Riascos possam atacar a profundidade, sempre com o ponta de lança hondurenho Bryan Róchez à espreita na área.


E com os jornalistas, como é?

No caso dos jornalistas, nada impede que uma pessoa sem licenciatura na área da comunicação social nem habilitação com curso equivalente possa exercer jornalismo. A diferença está no tempo de estágio antes da emissão da carteira profissional, que é de 12 meses para os licenciados/habilitados e de 18 para os restantes.

Grandes nomes do jornalismo não têm qualquer formação académica na área e alguns até desvalorizam o que se aprende em vários anos de cursos de ensino superior em comparação com uma aprendizagem de alguns meses nas redações.

Por outro lado, os jornalistas são mão-de-obra especializada e por isso custa-me ver pessoas sem qualquer tipo de formação nem passado na área a exercerem funções que deveriam ser desempenhadas por jornalistas em meios de comunicação social.  Vítor Baía a moderar programas de debate no Canal 11 é um desses casos.




















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