segunda-feira, 22 de abril de 2019

Longevidade da resistência do Vitória FC é case study internacional

Vitória de Setúbal sabe o que é dançar na corda bamba
Desde que regressou pela última vez à I Liga em 2004-05 que o objetivo do Vitória Futebol Clube é o mesmo a cada época que passa: a permanência. E não deixou de o ser mesmo nas três temporadas em que foi conseguido o apuramento para as competições europeias, porque essas foram meramente campanhas mais tranquilas e que nada de proporcional tiveram a ver com orçamento, ambição ou estabilidade diretiva e financeira aquando do tiro de partida.


O habitual, época após época, tem sido ver os sadinos envolvidos na fuga à despromoção até à derradeira jornada, por vezes até conseguindo sair da zona de descida na última ronda dos campeonato. Foi assim em 2006/07 após vitória no terreno da Naval e em 2017-18 depois de triunfo na receção ao Tondela. Mas em 2008-09, 2012-13 e 2015-16 também entraram na última jornada com a corda na garganta. E desengane-se quem pense que 2009-10, 2010/11, 2011/12, 2014-15 e 2018-19 foram épocas tranquilas, porque não foram, tal como 2019-20 não está a ser.

Mas se já nos parece normal ver o Vitória a lutar pela permanência época após época, o anormal é a quantidade de temporadas que leva nisto sem descer de divisão. Isto porque, olhando para o campeonato português e para as principais ligas europeias, os crónicos candidatos à despromoção acabam por, mais tarde ou mais cedo, descer mesmo.

Para se ter a noção, desde que os setubalenses subiram pela última vez à I Liga, apenas os chamados três grandes, o Sp. Braga e o Marítimo não desceram. Sim, é verdade, nesta década e meia até o Vitória de Guimarães andou pela II Liga. E até deu para o Boavista ser despromovido na secretaria e ser promovido seis anos depois também secretaria, assim como deu para o Paços de Ferreira passar duas épocas no segundo escalão e pelo meio ir a um play-off da Liga dos Campeões. E o próprio Rio Ave, que se está a tornar num crónico candidato à Europa, esteve afastado da elite em 2006-07 e 2007-08.

Mas não é só em Portugal que é assim. Este case study assume dimensão internacional. Veja-se o caso espanhol. No mesmo período, apenas sete equipas estiveram sempre na I Liga: Real Madrid, Barcelona, Atlético Madrid, Valencia, Athletic Bilbao e Sevilha. Nenhuma delas costuma entrar nas derradeiras jornadas com a corda na garganta e todas atingiram finais europeias desde 2004. Até Real Sociedad, Betis, Villarreal, Deportivo, Málaga e Celta de Vigo, que já neste século participaram na Liga dos Campeões, passaram pelo segundo escalão.

Nápoles e Juventus defrontaram-se na Série B em 2006/07
Viajando por Inglaterra, a paisagem é muito semelhante. Apenas Arsenal, Chelsea, Everton, Manchester City, Manchester United, Tottenham e Liverpool estiveram sempre entre a elite desde 2004 e todos são crónicos candidatos, no mínimo, a lugares europeus. E neste século já vimos Leicester e Newcastle na Liga dos Campeões e Fulham e Middlesbrough em finais europeias.  

E se olharmos para Itália, percebemos realmente que a longevidade da resistência do Vitória é um fenómeno. Desde que os sadinos regressaram pela última vez à I Liga, somente Inter, Milan, Roma, Lazio, Fiorentina e Udinese não passaram por divisões inferiores. Sim, até Juventus e Nápoles andaram pela Série B. E se há algo para o qual estes clubes não têm lutado nas últimas jornadas de cada campeonato é a permanência.

Na Alemanha, desde 2004-05 que só uma mão cheia de clubes não deixou a Bundesliga: Bayern  Munique, Bayer Leverkusen, Borussia Dortmund, Schalke 04 e Werder Bremen. Ou para se perceber melhor a dimensão do que o Vitória está a fazer: até Estugarda e Wolfsburgo, que foram campeões nos últimos 15 anos, já passaram pela II Liga. E o mesmo se aplica aos históricos Borussia M’Gladbach, Hamburgo ou Eintracht Frankfurt. Ou então, basta dizer que o Leipzig ainda não existia nem quando Carlos Carvalhal devolveu os sadinos ao primeiro escalão nem quando os guiou à conquista da Taça da Liga.

Terminamos a nossa viagem pelas principais ligas em França, onde encontramos os casos que mais se assemelham ao Vitória. Desde 2004/05, nove equipas estiveram sempre na Ligue 1: Bordéus, Lille, Lyon, Marselha, Nice, Paris Saint-Germain, Rennes, Saint-Étienne e Toulouse. Sim, clubes que chegámos a ver na Liga dos Campeões como Mónaco, Montpellier, Nantes, Lens ou Auxerre passaram por divisões inferiores neste período. O Toulouse é a equipa que mais vezes tem dançado na corda bamba: esteve à beira da despromoção em 2003-04, 2007-08, 2014-15, 2015-16 e 2017-18. Porém, também foi terceiro classificado em 2006/07 e quarto em 2008/09. De resto, algumas dessas nove sobreviventes tiveram ou outro campeonato mais sobressaltado, mas a norma foi sempre a tranquilidade e o conforto da primeira metade da tabela.

O Vitória de Setúbal é mesmo uma exceção à regra, conseguindo estar durante um período longo na I Liga apesar das dificuldades anuais em garantir a permanência. Até quando? E o que será mais provável: ver os sadinos dar um passo em frente e voltar a ser o crónico candidato à Europa que foi nas décadas de 1960 e 1970 ou a descida de divisão?




















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