O carismático inglês que guiou o Sporting à dobradinha de 1982. Quem se lembra de Malcolm Allison?
Big Mal orientou o Sporting durante uma temporada
Homem de grande carisma,
representou Charlton e West
Ham enquanto jogador, mas foi como treinador que atingiu o estrelato.
Obrigado a pendurar as botas em 1957 devido a uma tuberculose, quando tinha
apenas 29 anos, comandou Manchester
City e Crystal Palace em Inglaterra e Galatasaray na Turquia, mas foi ao
leme do Sporting
que conquistou os únicos dois títulos da carreira: o campeonato e a Taça
de Portugal de 1981-82. Depois de Malcolm Allison, foi necessário esperar
18 anos para que Augusto Inácio, curiosamente um seu antigo jogador, voltasse a
fazer dos leões
campeões nacionais. E foram preciso 20 para os verde
e brancos festejarem novamente uma dobradinha, com Laszlo
Bölöni.
Muito antes de gerir os egos de
António Oliveira, Rui Jordão e Manuel
Fernandes, as três grandes figuras desse Sporting
de 1981-82, Big Mal foi revelando algumas qualidades necessárias para
exercer a função de treinador. Foi capitão do West
Ham e reza a lenda que tinha uma enorme influência sobre o manager
Ted Fenton, nomeadamente nas escolhas táticas e na orientação dos treinos. Começou por ser treinador na
Universidade de Cambridge e, depois de curtas experiências no Plymouth e no
Toronto FC, tornou-se adjunto de Joe Mercer no Manchester
City, ajudando os citizens a subir à primeira divisão inglesa
(1965-66) e a conquistar um campeonato (1967-68), uma Taça de Inglaterra
(1968-69), uma Taça da Liga (1969-70), uma Charity Shield (1968) e uma Taça das
Taças (1969-70). Com naturalidade, assumiu o
comando técnico dos sky
blues após a saída de Mercer, em 1972, mas só ficou um ano à frente da
equipa, seguindo depois para o Crystal Palace. Após uma passagem pela Turquia e
de regressos a Plymouth, City
e Palace, foi contratado por João Rocha no verão de 1981 para orientar o Sporting.
Em Alvalade,
depressa conquistou os adeptos leoninos
com o seu carisma, simpatia e sobretudo futebol ofensivo, com Oliveira, Manuel
Fernandes e Jordão como figuras maiores, mas com os jovens Carlos Xavier e
Mário Jorge também a ser alvo de aposta. Em 1981-82 guiou os verde
e brancos a uma rara dobradinha. Na Taça
UEFA os leões
foram eliminados pelos suíços do Neuchâtel Xamax, mas encantaram com uma
vitória sobre o Southampton
em Inglaterra (4-2) na segunda eliminatória – foi a primeira vitória de sempre
de uma equipa portuguesa em terras de Sua Majestade.
Os títulos, porém, embebedaram a estrutura
no sentido figurativo e o treinador no sentido literal. Depois de o presidente
João Rocha não ter renovado os contratos de Eurico e Inácio, que saíram a custo
zero para o FC
Porto, demitiu Big Mal durante um estágio de pré-época na Bulgária
devido a mau comportamento e abuso de álcool. Seguiu-se um regresso a
Inglaterra, para orientar o Middlesbrough
e uma passagem pela seleção do Kuwait antes de voltar a Portugal pela porta do Vitória
de Setúbal, ajudando os sadinos
a subir à I
Divisão em 1986-87. Na época seguinte não ficou até ao final do campeonato,
mas contribuiu para a obtenção de um honroso 7.º lugar no primeiro
escalão. Nesse período reforçou-se com jogadores que conhecia dos seus
tempos em Alvalade,
como Eurico, Jordão, Manuel
Fernandes, Mészáros,
Ademar e Zezinho. Depois ainda teve uma curta
experiência no comando técnico do Farense,
naquela que foi uma das últimas experiências como treinador principal. Foi
agudizando os problemas com o álcool enquanto trabalhava como observador para
Bobby Robson no Barcelona
e no Newcastle
e acabou por ser diagnosticado com demência, tendo falecido a 14 de outubro de
2010, aos 83 anos. Em agosto de 2018, o jornalista
Gonçalo Pereira Rosa lançou o livro “Big Mal & Companhia”, um documento
imperdível para conhecer histórias de bastidores e perceber melhor os meses
incríveis que Malcolm Allison passou no Sporting
na caminhada rumo à dobradinha de 1981-82, com testemunhos dos jogadores dessa
equipa.
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