quinta-feira, 5 de setembro de 2024

O carismático inglês que guiou o Sporting à dobradinha de 1982. Quem se lembra de Malcolm Allison?

Big Mal orientou o Sporting durante uma temporada
Homem de grande carisma, representou Charlton e West Ham enquanto jogador, mas foi como treinador que atingiu o estrelato. Obrigado a pendurar as botas em 1957 devido a uma tuberculose, quando tinha apenas 29 anos, comandou Manchester City e Crystal Palace em Inglaterra e Galatasaray na Turquia, mas foi ao leme do Sporting que conquistou os únicos dois títulos da carreira: o campeonato e a Taça de Portugal de 1981-82. Depois de Malcolm Allison, foi necessário esperar 18 anos para que Augusto Inácio, curiosamente um seu antigo jogador, voltasse a fazer dos leões campeões nacionais. E foram preciso 20 para os verde e brancos festejarem novamente uma dobradinha, com Laszlo Bölöni.
 
Muito antes de gerir os egos de António Oliveira, Rui Jordão e Manuel Fernandes, as três grandes figuras desse Sporting de 1981-82, Big Mal foi revelando algumas qualidades necessárias para exercer a função de treinador. Foi capitão do West Ham e reza a lenda que tinha uma enorme influência sobre o manager Ted Fenton, nomeadamente nas escolhas táticas e na orientação dos treinos.
 
Começou por ser treinador na Universidade de Cambridge e, depois de curtas experiências no Plymouth e no Toronto FC, tornou-se adjunto de Joe Mercer no Manchester City, ajudando os citizens a subir à primeira divisão inglesa (1965-66) e a conquistar um campeonato (1967-68), uma Taça de Inglaterra (1968-69), uma Taça da Liga (1969-70), uma Charity Shield (1968) e uma Taça das Taças (1969-70).
 
Com naturalidade, assumiu o comando técnico dos sky blues após a saída de Mercer, em 1972, mas só ficou um ano à frente da equipa, seguindo depois para o Crystal Palace. Após uma passagem pela Turquia e de regressos a Plymouth, City e Palace, foi contratado por João Rocha no verão de 1981 para orientar o Sporting.
 
 
Em Alvalade, depressa conquistou os adeptos leoninos com o seu carisma, simpatia e sobretudo futebol ofensivo, com Oliveira, Manuel Fernandes e Jordão como figuras maiores, mas com os jovens Carlos Xavier e Mário Jorge também a ser alvo de aposta. Em 1981-82 guiou os verde e brancos a uma rara dobradinha. Na Taça UEFA os leões foram eliminados pelos suíços do Neuchâtel Xamax, mas encantaram com uma vitória sobre o Southampton em Inglaterra (4-2) na segunda eliminatória – foi a primeira vitória de sempre de uma equipa portuguesa em terras de Sua Majestade.
 
 
Os títulos, porém, embebedaram a estrutura no sentido figurativo e o treinador no sentido literal. Depois de o presidente João Rocha não ter renovado os contratos de Eurico e Inácio, que saíram a custo zero para o FC Porto, demitiu Big Mal durante um estágio de pré-época na Bulgária devido a mau comportamento e abuso de álcool.
 
Seguiu-se um regresso a Inglaterra, para orientar o Middlesbrough e uma passagem pela seleção do Kuwait antes de voltar a Portugal pela porta do Vitória de Setúbal, ajudando os sadinos a subir à I Divisão em 1986-87. Na época seguinte não ficou até ao final do campeonato, mas contribuiu para a obtenção de um honroso 7.º lugar no primeiro escalão. Nesse período reforçou-se com jogadores que conhecia dos seus tempos em Alvalade, como Eurico, Jordão, Manuel Fernandes, Mészáros, Ademar e Zezinho.
 
Depois ainda teve uma curta experiência no comando técnico do Farense, naquela que foi uma das últimas experiências como treinador principal. Foi agudizando os problemas com o álcool enquanto trabalhava como observador para Bobby Robson no Barcelona e no Newcastle e acabou por ser diagnosticado com demência, tendo falecido a 14 de outubro de 2010, aos 83 anos.
 
Em agosto de 2018, o jornalista Gonçalo Pereira Rosa lançou o livro “Big Mal & Companhia”, um documento imperdível para conhecer histórias de bastidores e perceber melhor os meses incríveis que Malcolm Allison passou no Sporting na caminhada rumo à dobradinha de 1981-82, com testemunhos dos jogadores dessa equipa.
 



   





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