segunda-feira, 6 de maio de 2024

O craque escocês que treinou o Benfica. Quem se lembra de Graeme Souness?

Souness orientou o Benfica entre novembro de 1997 e maio de 1999
Graeme Souness teve uma carreira fantástica como futebolista, tendo vencido três Taças dos Campeões Europeus e cinco ligas inglesas pelo Liverpool, uma Taça UEFA pelo Tottenham, duas ligas escocesas pelo Rangers e uma Taça de Itália pela Sampdoria. Além disso, marcou presença e três Campeonatos do Mundo ao serviço da Escócia. Jogava no meio-campo e é considerado um dos melhores jogadores de sempre dos reds e da seleção escocesa.
 
Como treinador não teve o mesmo nível de sucesso, mas fez os seus bons trabalhos, tendo conquistado três campeonatos e quatro Taças da Liga pelo Rangers, uma Taça de Inglaterra pelo Liverpool e uma Taça da Liga pelo Blackburn Rovers.
 
Depois de uma má experiência no Torino, foi contratado pelo então novo presidente do Benfica, João Vale e Azevedo, em novembro de 1997. E verdade seja dita que as coisas começaram por correr-lhe bem. Herdou a equipa de Mário Wilson em sexto lugar após as oito primeiras jornadas, a oito pontos do líder FC Porto, e concluiu o campeonato na segunda posição, conseguindo o apuramento para a Liga dos Campeões. “Percebi rapidamente que o Benfica era como o Rangers, Celtic ou Manchester United de Portugal. Com um apoio enorme, mas também com expectativas elevadas. Eles estavam em sétimo lugar e na minha primeira época acabámos em segundo”, relembrou na autobiografia Futebol: a minha paixão, a minha vida.

 
Entretanto foi recrutando vários futebolistas britânicos, nomeadamente os defesas Steve Harkness e Gary Charles, os médios Michael Thomas e Mark Pembridge e os avançados Dean Saunders e Brian Deane. Quase todos desiludiram. Pelo meio, recusou-se a ficar com Deco no plantel. “Tal como o foi enquanto jogador, o Souness preparava as equipas de uma forma agressiva e motivava psicologicamente para que todos os lances fossem de vida ou de morte. Houve alguns problemas nessa altura devido ao facto de se terem contratado muitos ingleses. Houve essa crítica ao trabalho do treinador por causa disso. Publicamente, ele chegou a tecer alguns comentários comparando os jogadores ingleses aos portugueses, acusando os portugueses de não serem tão agressivos como os ingleses”, recordou Nuno Gomes ao Record.
 
Quando deixou a Luz, após um empate em casa diante do Campomaiorense, no início de maio de 1999, quando seguia em terceiro lugar no campeonato, atrás de FC Porto e Boavista, deixou um aviso: “Vale e Azevedo mente quando olhas nos olhos. Tenham cuidado, este homem é perigoso.”

 
“Cheguei ao estádio, de manhã, e vi os jogadores desmoralizados. Perguntei o que se passava ao diretor, um antigo jogador do clube, colega de Eusébio, natural de Moçambique [provavelmente Shéu]. Ele disse-me: ‘Mais uma vez os jogadores não receberam os ordenados’. Liguei ao presidente e disse-lhe: ‘Os jogadores estão em baixo e não vou conseguir nada deles esta semana se não receberem’. Responde-me ele: ‘Mas eu estive com o diretor aqui ontem e entreguei-lhe os cheques. Não percebo o que se passa’. Desligo o telefone e falo com o diretor: ‘Ele diz que esteve contigo ontem e deu-te os cheques em mão’. ‘Não vou ao escritório dele há meses’, responde-me ele”, recordou na autobiografia.
 
“Por vezes a situação tornava-se embaraçosa, por não pagarmos os jogadores contratados. Tínhamos uma dívida de dois milhões de libras ao Manchester United, por causa do Poborsky, e eu recebia chamadas de Inglaterra a perguntar se Vale e Azevedo ia pagar. Na altura não fazia ideia de que não tínhamos dinheiro, não fazia ideia que ele estava a tirar dinheiro do clube. (…) Tive de recorrer à UEFA para receber a minha indemnização, e mesmo assim não recebi tudo, o que me desapontou”, acrescentou.
 
“Nunca íamos ser campeões. Podíamos conseguir uma aproximação ao FC Porto, o clube dominante, mas existia sempre a sensação de que não teríamos o tratamento justo por parte de alguns árbitros no Norte, onde estava o poder do futebol português”, assegurou.
 
“Tive a oportunidade de treinar um dos maiores clubes do Mundo. Foi muito, muito difícil. Talvez o trabalho mais difícil de todos. Mas adorei cada minuto, o clube e o país”, concluiu Souness, em jeito de balanço.
 
 
 
 
 

 





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